quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Conto de Natal - 2a parte


Bom, compartilhando o "espírito de Natal" que permeia esse dia, segue a parte final do meu conto de Natal. Como já disse, alguns não gostarão do fim, mas a história é minha, e ninguém tem nada com isso! Não, brincadeira. Tem fazer o melhor. Claro que o melhor ficou uma bosta, mas..


"- Tudo bem. Então eu tenho algo para te contar. – começou ela. – Eu não sei ainda como você vai reagir a tudo.. não vai ser fácil, tenho certeza. Nos últimos três meses venho tentando disfarçar, arrumando desculpas e mais desculpas para não tocar nesse assunto com você. Mas eu não consigo mais, Carlos Eduardo! – esbravejou ela, batendo o punho na mesa. – Sinto-me como se tivesse um nó na garganta.. mal consigo lhe encarar quando você está em casa, imaginando como vai ser difícil quando você souber o que vou te contar.

Disse essa última frase num sopro. Ela mesma quase não ouviu suas palavras. Fez uma pausa. Desejava que ele dissesse algo, por mais insignificante ou desconexo que fosse, queria muito que ele dissesse algo. Mas ele não disse. Levantou a cabeça lentamente, porém sem encarar seus olhos. O rosto dele estava vermelho. Ela não sabia se de raiva, frustração ou vergonha. Ela continuou:

- Você deve se lembrar dessa mesma época no ano passado.. todos os nossos parentes e amigos estavam aqui.. ceamos todos juntos. Você deve se lembrar.. foi exatamente nesse dia que você ganhou essa bermuda que está usando. – ela disse rindo.

Ao ouvir aquilo, ele sentiu um estalo. Levantou a cabeça e começou a fitar o teto da cozinha, como se estivesse procurando alguma rachadura ou, simplesmente, alguma discrepância em seu relevo. Agora ele já sabia qual era o assunto em pauta. E fez questão de transmitir toda a sua impaciência na resposta que deu: - Sim, sim, sim.. – e completou em tom irônico – Foi um dia ma-ra-vi-lho-so!
Ela não gostou daquilo. Odiava com todas as suas forças aquele tom que ele costumava usar sempre que queria demonstrar sua insatisfação contra algo. Contudo, foi bom ouvir aquelas palavras. Ela percebeu que ele, provavelmente, se não sabia, pelo menos já desconfiava sobre o que ela queria conversar. Isso lhe deu mais forças para ir direto ao ponto.

- Ele não virá esse ano, Carlos Eduardo. Sinto muitíssimo, mas ele me disse que estará muito ocupado.. você sabe como é essa época do ano, não é? – disse ela, olhando-o tenramente – é muito trabalho e pressão para uma só pessoa. Você compreende?

Ele já tinha vasculhado todo o teto pelo menos cinco vezes. Sabia de cor o número de manchas de infiltração e os pontos que precisavam de uma nova mão de tinta. Porém, ele também estava prestando atenção naquilo que ela dizia. Tanto que, logo que ela lhe fez a última pergunta, ele a encarou pela primeira vez naquela tarde.

- Claro que eu compreendo.. compreendo sim.. compreendo que é tudo uma farsa! Uma mentira mais que deslavada! – ele falou, dando um murro na mesa. – Você acha que eu sou tão idiota ao ponto de acreditar nessa história de novo?! Pelo amor de Deus! Eu já tendo 12 anos, mãe.. não sou mais nenhuma criancinha que precisa ouvir essas crendices de Papai Noel e tal. Você acha que eu não sei que, durante todos esses anos, era o tio Felipe que se fantasiava de Papai Noel?? – ele sentiu o sangue ferver em suas veias – E agora, só porque ele largou a tia Regina para fugir com aquela loira gostosona do escritório dele, você cria essa historinha de que o “Papai Noel não virá”! Me economiza, vai! – disse ele, virando o rosto para o lado.

Eles ficaram em silêncio por alguns segundos. De repente, o relógio da parede voltou a funcionar. Seu tic-tac inundou a cozinha de apreensão. Ela estava estupefata! Não esperava por aquilo. Sentiu a boca aberta e a garganta seca. Tentou engolir um pouco de saliva e pensar. Pensar em qual atitude tomar depois desse discurso insatisfeito dele. Não seria fácil. Meneou a cabeça e falou a melhor solução que lhe veio naquele momento:

- Você está de castigo! Vá já para o seu quarto e só saía de lá quando seu pai e eu lhe chamarmos para conversar sobre essa sua atitude, mocinho!
- Mas.. mas.. isso não é justo! – ele tentou retrucar.
- Pois é.. a sua atitude também não foi justa. Por isso, vá logo para o seu quarto! – respondeu ela, apontando o dedo em direção ao corredor.

Ele levantou muito a contragosto, quase derrubando a cadeira. Seguiu seu caminho de cabeça baixa, resmungando algumas coisas indecifráveis. Bateu a porta do quarto com vontade.
Com a batida, ela teve um sobressalto. Um turbilhão de coisas passava pela sua mente. Comos, quandos e porquês varreram sua memória atrás do momento exato em que perdeu as rédeas.

- Injusto é o fato de as crianças não acreditarem mais em Papai Noel. – e ponderou: - Será que toda essa raiva e decepção surgiram por que, no último ano, ele ganhou uma bermuda azul ao invés da camuflada que ele tanto queria?"


Feliz Natal a todos. Engordem bastante. Janeiro é época de abate (afinal, as contas estão só esperando as badaladas do dia 1º!)


H (Entrando em férias!)

Um comentário:

The Owl disse...

Gostei da história com surpresinha no final..rsrs. O ritmo do conto é bom; o suspense vai crescendo e vc fica meio desesperado pra saber como acaba, como em todos os bons e velhos contos de mistério.

Ah sim, Feliz Ano Novo!

Abraço