terça-feira, 26 de outubro de 2010

Amarras invisíveis*


Muitas das suas ações não serão bem vistas pelas outras pessoas. Isso é fato. Não importa o quão significante você já foi para alguém, sempre aparecerá um indivíduo que se acha no direito de lhe julgar. E eu sou um brincalhão (fanfarrão não, Capitão Nascimento! Brincalhão!) e, por isso mesmo, gosto de ver todos ao meu redor felizes e rindo, principalmente se estiverem c/ algum problema. É espontâneo!

Num longínquo post, falei algo vago sobre espontaneidade. Taí algo sobre o qual tenho aprendido bastante. Não que eu seja o primor do ser espontâneo! Não, isso ninguém consegue sem muita prática. Mesmo assim, fico incomodado quando leio algum relato ou ouço uma conversa que gira em torno de “encontrar a pessoa perfeita”. Não sei se alguém já chegou a reparar, mas, quase sempre, uma das qualidades imprescindíveis ao tal indivíduo é ser sincero.

Há uma linha tênue que delimita espontaneidade de sinceridade. E, devido sua complexidade e a falta de tato desses que escrevem, deixemos as definições de lado, por enquanto. Tentemos apenas percebê-la: espontaneamente, ninguém (em sã consciência) sai por aí dizendo a torto e a direito o que sente sobre fulano e ciclano, certo? Por mais belo e romântico (ou, no caso de um desabafo, engraçado e aliviador) que isso possa parecer nos filmes, aqui, na vida real, isso nunca seria bem aceitável, tendo em vista os padrões morais da sociedade ocidental.

Mas por quê?! Por que não posso simplesmente acordar um dia, correr até o portão da minha casa e gritar que estou apaixonado (a) por tal pessoa?! Ou por que não posso mandar meu chefe para aquele lugar num dia considerado normal?! Pode parecer uma reflexão rasa, porém, a resposta está em nós mesmos. E aqui, voltemos a linha tênue do parágrafo anterior: a espontaneidade é bem vista (com restrições, é verdade!) quando o ato/ação limita-se ao universo do ator/atriz; ao incluir outros seres, tudo se transforma, ficando a mercê dos julgamentos alheios. É aí que a sinceridade vira inimiga. Afinal, quem gosta de ouvir uma crítica quanto ao seu comportamento, mesmo esse sendo compatível com a moral e os bons costumes da sua cultura? Acho que ninguém chega a esse ponto de sadismo.

Mahatma Gandhi, perguntado certa vez sobre o que ele achava das qualificações difamatórias que o governo britânico havia lhe atribuído, disse: sempre que estiver numa escolha entre sua consciência e sua reputação, prefira a primeira; sua consciência diz respeito àquilo que você sabe que fez; sua reputação é aquilo que os outros julgam que você fez.

Logo, podemos chegar a conclusão que viver é privar-se. Limitar nossos atos e ações aos moldes que nos são impostos desde cedo. Uma sucessão de desgostos, de restrições, de quereres que não se pode ter. Tudo porque escolhemos viver em sociedade; porque, apesar de dizermos (e até acreditarmos) que somos livres e independentes, sempre dependemos de outras opiniões, respostas, decisões.

Não me julgo competente o bastante para propor uma solução. Se a soubesse, acreditem, seria o (a) primeiro (a) a querer experimentá-la. O que se pode fazer é adaptar-se; moldar seus caminhos e escolhas levando sempre em consideração as muitas variáveis em jogo.

E desconsidere a felicidade e a perfeição, pois ambas são estados imaginários. É tediante ser feliz sempre ou totalmente perfeito. A graça da vida está nos defeitos, nas imperfeições, nos contrastes. Tudo com certo limite, lógico! Ninguém vive só (de preto) o tempo todo. É preciso (descolorir para) apreciar cada momento.


* Post escrito a quatro mãos. Logo, fica sem a assinatura de rotina.


Imagem retirada daqui

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Semana de biblio - Meu agradecimento


Tentei de várias formas pensar em um jeito diferente para começar esse post. Na verdade, eu gostaria que ele fosse diferente por se tratar de uma homenagem a um grupo de pessoas que me ajudou (academicamente falando) a ser uma pessoa melhor.

Nas inúmeras possibilidades que imaginei, cheguei a conclusão que o melhor seria resgatar um dos meus artifícios mais presentes nesse blog em tempos vindouros: um momento flashback, ajudando, assim, a contextualizar minha aterrissagem num evento dessa magnitude.

Foi por acaso. Nem sei bem explicar como entrei nessa organização. No entanto, chega um momento na vida de todos em que nos sentimos tão inúteis que acabamos por aderir a algo revolucionário, algo que nos permita rev(iv)er aquela sensação de utilidade e revolução quando adentramos a faculdade.

Meu caso começou exatos 365 dias atrás, quando o Ilmo. Sr. RD Robinson me chamou para expor a sua ideia de levantar um projeto que se enquadrava perfeitamente na descrição do parágrafo anterior: a criação da empresa júnior da biblio.

O plano começou tímido, mas logo angariou mais voluntários. Não demorou a agregarmos outros projetos, como a recepção promovida aos bixos/2010. Ao final dessa, inclusive, o já citado Sr. RD, provavelmente inebriado pelo sucesso, me fez a proposta que considerei a primordial em toda a minha existência ecana até então: “agora, precisamos pensar na organização da Semana de Biblioteconomia”. Qualquer ser com um histórico parecido ao meu, de sedentarismo acadêmico, certamente, balbuciaria meia dúzia de desculpas e pularia fora.

Porém, e aqui reside a minha maior dúvida, por mais incrível que isso possa parecer, nem cheguei a pensar quando respondi: “considere-me dentro da organização!” Naquele mesmo dia, ao chegar em casa, não me reconheci quando me olhei no espelho. Aquele não podia ser eu!

Aos poucos, foram surgindo mais e mais pessoas interessadas em ajudar. E assim foram reuniões a se perder de vista; discussões através de emails, no corredor do CBD, nos sofás, durante tardes frias no CCSP (ou em bares pelo caminho). Meses de planejamento. Dez dias antes da data programada, surgiram os primeiros sinais de nervosismo, comuns em casos como esse onde impera uma mistura de insegurança, responsabilidade e esperança para que tudo funcione perfeitamente.

Claro que também é normal que surjam imprevistos pelo caminho. Arrisco dizer que são esses os artifícios que realmente separam um grande sucesso de um terrível fracasso. Não esmorecer nesses momentos de desconforto é que demonstra o quão empenhados estamos, dispostos a tudo para não ver pequenos detalhes impedirem o andamento natural das coisas.

Hoje (ou em dezembro ou no ano que vem) eu deixo a biblioteconomia com uma certeza que tentei por muito tempo contestar: seis anos atrás, entrei nesse universo por um motivo ridículo que logo caiu por terra; e, se continuo aqui, o fiz pelo simples fato de conhecer pessoas maravilhosas no decorrer dessa estrada.

Foi, não só uma das melhores semanas da minha vida, mas os dois melhores meses. Ir atrás de palestrantes, tomar decisões, passar por alegrias e tristezas. Enfim, eu gostaria de fazer um agradecimento individual, porém, como ficaria demasiado longo, o farei em conjunto:

* Ao pessoal da organização: Amanda (pelos momentos), Ana (pela sua criatividade inspiradora), Andréa (pela sua postura calma e tranqüila e pelas palavras no seu discurso final), Bia, Carol, Daniel (pela liderança natural), Eva, Fábio & Robson (pelos ensinamentos concisos e muito valiosos), Paloma & Patrícia (pelas conversas, conselhos, palavras de conforto e a amizade que perdurará por muito tempo);

* Menções honrosas: Jonathan (uma das melhores apresentações que vi), Marcela (por me mostrar que estamos sempre enganados quanto aos nossos pré-conceitos), Prof. Moreiro, Gisele Sousa e Robinson (pelo convite e confiança depositada em mim).

Dez anos atrás, numa época mais agitada da minha adolescência, um dos meus melhores amigos me propôs um desafio: escrever o epitáfio perfeito, aquele que melhor resumiria minha passagem pela Terra. Foi difícil. E o resultado final ficou uma bosta. Mas, até hoje, me lembro bem do que ele escreveu:

Aqui e ali,
Pedaços aos milhares;
Ali e aqui,
Vários pedaços em inúmeros lugares
”.

Algum tempo depois, ele me confessou que, para conseguir escrevê-lo, inspirou-se nas amizades que fez por onde passou. Hoje, sempre que penso nas minhas (poucas), essa frase é a que melhor as define. Como as que fiz durante a organização dessa Semana de Biblio.

Para finalizar, gostaria de citar, na íntegra, uma frase da Patrícia (pelo Twitter) que assino em baixo por sintetizar em poucas linhas tudo que a Semana de Biblio significou para mim e aquilo que julgo, hoje, o ponto primordial desse curso: meus colegas e amigos graduandos.

"A Semana da Biblio tá ótima,organizada, palestras com potencial modificador imenso...mas, confesso: o q mais me deixa feliz qdo chego em casa é a sensação de estreitar laços c/ pessoas q antes eram próximas, agora são tbm conjunto, grupo, coletivo...tô feliz demais #familiabiblio" (@PatHellmanns, 28/09).


H (Obrigado a todos)