segunda-feira, 31 de maio de 2010

Insônia


As noites de domingo, ultimamente, têm sido generosas em me remitir a algo que não aprecio há um bom tempo: a insônia.

Digo ‘há um bom tempo’ por não se tratar de algo inédito. Aproximadamente 10 anos atrás, numa época nobre do fim da minha adolescência, dormir era um privilégio que eu reservava (não por acaso) às aulas de química e sociologia do colégio. Minhas noites eram agitadas demais para serem desperdiçadas com horas de sono a fio.

Apesar de ter consciência que isso não é nada saudável, gosto muito desses episódios de lucubração por serem, de fato, os únicos momentos de meditação que disponho durante minha jornada cotidiana.

Inerte sobre meu leito, mão direita espalmada sobre o peito, mão esquerda apoiada sob a cabeça, olhar fixo num ponto qualquer, bem longe dali. Uma vez ou outra, um pequeno feixe de luz bruxuleante vindo da janela abre um rasgado luminoso no teto enegrecido pela noite.

À companhia dessa “brincadeira” entre luz e escuridão, surgem os primeiros vestígios das reflexões que, por motivos óbvios, não me acompanham pela minha rotina vespertina. Alcunhei-os de ‘pensamentos obscuros’ não pela sua natureza em si, mas, devido ao fato de, estando sempre escondidos, só decidirem vir à tona no instante do dia em que posso dedicar-lhes as menores porções de meu tempo.

Não obstante, são raras as vezes em que não acabo adormecendo durante uma reflexão, quando essa chega a um ponto complexo demais para o peso de minhas pálpebras suportarem. Como ocorreu nesta noite passada. E que merecerá um post muito em breve...


H (zzzzzz)

* Imagem retirada daqui

terça-feira, 18 de maio de 2010

Top 10 filmes (não americanos) que todo cinéfilo deveria ver - 2ª parte


Não faz muito tempo, uma amiga me perguntou qual seria meu filme favorito. Diante da minha expressão de dúvida, ela logo se convenceu da gafe: “nossa, mas que pergunta, não é mesmo?! Afinal, deve ser muito difícil para um cinéfilo ter um filme favorito”.

Realmente, é muito difícil. Principalmente quando nos acostumamos a ver de tudo e reparar em detalhes que um mero olho-amador deixaria passar batido.

Qualquer cinéfilo de verdade não cria uma lista de filmes favoritos. Cria várias! E não somente boas preferências, mas, também, sobre destaques imperceptíveis à primeira vista. É um ato deveras complicado, já que envolve inúmeras variáveis que, por sua vez, vão muito além do “gosto desse, não gosto daquele”.

“Gosto não se discute”, já diz o dito popular. Apesar de ser composto quase basicamente de influências exteriores, ele não é aberto a debates porque faz parte da individualidade de cada um e, como tal, tem o direito de ser respeitado.

Assim sendo, um cinéfilo não se baseia em gostos. Ele formaliza preferências, influências, citações, enfim, conecta situações. Afinal, um filme surge como se fosse uma briga: ela só acontecerá se ambas as partes assim a quiserem. Dessa forma, o filme se apresenta para transmitir uma mensagem. Porém, essa só será possível se você estiver no mesmo momento dessa produção.

Está aí o motivo para explicar melhor a complexidade que compõe o gosto por um filme.

Sei que certa vez, nos primórdios desse mundo, levantei uma lista de 50 filmes que julguei serem meus favoritos. Admito que pequei na escolha de alguns. E outros, pelo simples fato do passar do tempo, caíram por terra, dando lugar a produções que vi ultimamente. Foi um trabalho ousado e que não penso em repetir tão cedo.

Contudo, por não conseguir ficar longe de uma lista, formalizei esse “Top 10 filmes (não americanos) que todo cinéfilo deveria ver” como parte de uma lista substituta para a citada anteriormente. E, sem mais delongas, assim como prometido, segue o pódio da tal lista:

3) Kagemusha, a sombra do samurai (Kagemusha) – Akira Kurosawa, Japão, 1980.




Nenhum outro diretor foi tão imitado e serviu de inspiração para a categoria do que Kurosawa. É outro diretor do qual indico toda a filmografia. Kagemusha é o que mais gosto porque o considero mais inspirador. Como a frase que define o temível dono do feudo Takeda: “Rápido como o vento, silencioso como a floresta, poderoso como o fogo, imutável como as montanhas”. Nota: 9,3


2) Os incompreendidos (Les quatre cents coups) – François Truffaut, França, 1959.




Truffaut é, sem sombra de dúvida, o melhor diretor francês de todos os tempos. Ousou iniciar uma carreira “do zero” apenas para ilustrar aos demais diretores franceses da época que era sim possível mudar a forma como os filmes do país eram conduzidos. Os incompreendidos foi o primeiro desafio que o, até então, crítico de cinema assumiu. E o filme está nessa lista por ser aquele onde se encontra a maior parte da essência criativa de Truffaut, que depois se “espalharia” pelas suas demais produções. Nota: 9,5


1) Fanny e Alexander (Fanny och Alexander) – Ingmar Bergman, Suécia, França e Alemanha, 1982.




Imaginem condensar toda a obra de um diretor em pouco mais de três horas de um filme em que os personagens principais não têm mais do que 10 anos de idade. Difícil de acontecer, não é?! E se esse diretor for um dos mais admirados e respeitados de todos os tempos? Provável, não?! E que tal Ingmar Bergman? Ah, agora sim! Ele foi um gênio. Revisitando os mesmos assuntos, porém, sempre de maneiras diferentes. Influenciado pelo cinema francês das décadas de 1940/50, seus primeiros filmes foram experimentos. Aos poucos, ajustados aqui e ali até a perfeição: Fanny e Alexander. Não preciso dizer mais nada. Nota: 9,8

Até o próximo..


H (corta!)

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Happy birthday


“Tudo parecia dentro da normalidade naquela sexta-feira, 10 de maio de 1991. As crianças brincavam sobre o tapete da sala enquanto o pai assistia ao noticiário na TV. A mãe que, de vez em quando, dava uma olhadela por cima dos óculos na direção dos filhos, estava entretida no tricotar de um cachecol que, por sua vez, a filha insistia que só usaria quando chovesse sorvete de chocolate.

Mesmo sendo o aniversário do filho mais velho, esse era um dia como outro qualquer. Os pais, sempre preocupados em garantir que o mínimo não faltasse dentro de casa, pouca atenção davam para essas comemorações. Um bolo simples e um tapinha nas costas já bastavam.

Entretanto, aquele dia estava sendo diferente. O primogênito sabia que algo estava errado. Seus pais estavam estranhos. A mãe havia dito que se esquecera de comprar os ingredientes para o bolo, então ele só ficaria pronto no dia seguinte. A luz do lado de fora da casa estava acesa, coisa essa que nunca seria tolerada pelo pai que, depois de um resmungo, diria “será que sou o único a desconhecer essa minha prodigiosa habilidade de defecar dinheiro?!”.

Claro que, como toda criança da sua idade, o primogênito sonhava com algo mais. Uma grande festa, com todos os seus amiguinhos, um bolo gigantesco, brigadeiro, refrigerante, flash e mais flash, parabéns etc.

Porém, mal sabia ele que, alguns quilômetros dali, num conjunto de casas quase vizinhas, um batalhão se preparava como se uma guerra estive por começar. Caixas e mais caixas eram empilhadas no porta-malas de três veículos. Todo trabalho era feito num silêncio ímpar. No máximo, quando algo precisava ser dito, ouvia-se um breve sussurro aqui e acolá. Aquele que aparentava ser o chefe do grupo, logo tomou conhecimento das horas e sinalizou para que todos tomassem seus lugares. Os carros saíram em disparada, quebrando o silêncio que se mostrava sorrateiro naquela noite fria.”

Sempre que preciso passar por essa data do ano, esta é a lembrança que gosto de recordar: a romanceada comemoração do meu oitavo aniversário. Minha primeira festa surpresa.

Não foi lá grande coisa, nada que já cheguei a sonhar. Mas preciso concordar que meus tios fizeram um excelente trabalho. Colocaram um sorriso enorme na minha cara (nítido nas fotos) que durou por quase uma semana.

Hoje, mais um desses dias, entendo bem o que minha mãe quis dizer quando, pela primeira vez, me disse "algumas vezes, eu adoraria não fazer aniversário". Depois de uma certa idade, perde-se aquela inocência dos primeiros anos. E, com ela, uma comemoração tal como esta perde todo o sentido lúdico. Torna-se apenas um marco (ilusório) da passagem sem parada do tempo.

Envelhece-se, apenas..


H (nostalgia #modeon)