sábado, 31 de outubro de 2009

My bad choices...



O assunto que tentarei desenvolver neste post é, de longe, o mais presente, e, ao mesmo tempo, o mais discutível de todos que permeiam a minha existência. Não esperem dele uma resposta para suas auguras, pois não o será nem para as minhas! Ele será apenas uma análise, minha auto-análise, de uma maneira já esquecida por esse blog:

Ah, o amor! Essa antítese comportamental (como já dizia Camões) que anima e desgasta, conforta e agride. É o sentimento mais irracional e, em contrapartida, imperativo que alguém pode ter.

Sou do tipo de pessoa que se apaixona com certa facilidade. Não julguem, porém, que me aproveitei dessa facilidade para ser infiel com quem quer que seja! Contudo, também não posso dizer que nunca o fui. Mas, se a cometi (a traição), fiz consciente de que o modo como as coisas caminhavam não estava levando a lugar nenhum melhor que um abismo sentimental.

Eu, desde a minha infância, sempre fui um patético! Sim, um patético por completo. Patético porque, apesar da experiência acumulada a cada desilusão, constantemente pecava nos mesmos pontos, cometendo os mesmos erros.. sempre!

Lembro-me do cenário da minha primeira paixonite infantil: 10 anos, 4a série, mãos dadas durante o intervalo, lições (e não só as escolares!) compartilhadas; nada daquela estúpida malícia juvenil explodindo testosterona por todos os poros. Não. Era apenas a inocência e aquele insistente sorriso bobo na cara! Depois veio a mudança (de cidade) e com ela os amores adolescentes, repletos de enganos e sofrimento. Um tropeço maior que o anterior. Não direi que isso foi de todo mal, já que, a partir disso, consegui criar uma “blindagem”, retribuindo na mesma moeda a quem julgava merecedora de tal.

Mas, como nem tudo são flores no reino da arrogância, através dessa forma errada de agir, acabei por cometer erros ainda maiores, batendo de frente com entraves que eu não tinha (ainda) capacidade de enfrentar. Certa vez, no princípio dos meus 17 anos, cometi o maior de todos os pecados em relação ao amor: subestimei o afeto de uma pessoa que, depois de atentar contra si própria, me disse: “um dia, você também passará pelo que eu passei. Nesse dia, sentirei pena de você da mesma maneira que você está sentido agora por mim”.

Nos (quase) dez anos seguintes, tudo voltou a estaca zero. Aquela blindagem, por uma série de motivos (além do citado anteriormente), caiu por terra. A esperança por encontrar alguém parecido, poder compartilhar os mesmos gostos, chegava a ser sufocante. Contudo, o fim era o mesmo em todas as ocasiões: “eu não te amo mais!”.

Hoje, do alto (com 1,67m?! rs) dos meus 26 anos, aprendi que, além da efemeridade do amor, a sua busca (quase uma “caçada”) é, quase sempre, em vão. Talvez porque, para conseguir a felicidade, idealizamos um ser perfeito, nosso próprio boneco de barro, nossa princesa adormecida (ou, no caso das “calcinhas” de plantão, o príncipe encantado) esquecendo, porém, que não fomos nós os criadores do universo. Dessa forma, idealizar não é a melhor saída.

Se tem uma coisa que aprendi de todas as minhas "bad choices" é que o amor não é um jogo, já que para tanto alguém precisaria sair vitorioso sobre o outro. Tenho o amor como uma frágil relação, onde cada um cede algum espaço para chegar num equilíbrio (quase) eterno. O contrário disso, como eu disse, já conheço muito bem!


H (acho que consegui)


* Imagem retirada daqui

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Auto-história: o felino made in Brazil



O Brasil, entre as décadas de 1960 e 1980, época da mão de ferro ditatorial, encontrava sua produção industrial em acelerado desenvolvimento graças a JK e seu dom quase exclusivo de “cagar rios de dinheiro”.

Apesar do forte incentivo que a indústria de bens duráveis recebia do governo, a produção automobilística ainda não via o país como um berçário extremamente consumidor.

Sorte da indústria de automóveis tupiniquim e seus corajosos e, porque não, ousados empresários. Com o valor abismal da importação dos esportivos europeus e norte-americanos e/ou sem o menor interesse das grandes montadoras da época (Ford, Volkswagen, GM) em produzi-los por aqui, as pequenas montadoras (quase artesanais) viram aí a brecha que tanto esperavam.

E, com exceção da montadora de Amaral Gurgel, nenhuma atingiu mais sucesso nesse filão de carros-esporte do que a Puma Veículos e Motores Ltda.

A história teve início em 1964, quando Jorge Lettry, que comandava o departamento de competições da Vemag, convidou o projetista Genaro "Rino" Malzoni para um desafio: desbancar os Willys Interlagos da sua supremacia nas pistas nacionais montando um carro a partir do chassi e motorização dos DKW-Vemag.

A missão começou no fim daquele ano, quando Rino Malzoni apresentou o primeiro protótipo do esportivo. Construído numa fazenda de Matão-SP, o carrinho desenvolvia 103cv (mesmo com o motor de 1.080cm³), com uma inspiração nítida na Ferrari 275 GT. Sua carroceria era toda feita com chapas de metal. Seu primeiro nome?! “GT Malzoni”. No fim de 1965, havia ganhado 5 corridas (todas diante dos temidos Willys!), além do prêmio de protótipo do ano.


O sucesso foi tanto que surgiu a idéia da montagem em série do carrinho. Para tanto, foi criada a empresa Lumimari (composto pela junção dos nomes de seus responsáveis: Luís Roberto Alves da Costa, Mílton Masteguin, Mário César de Camargo Filho e Genaro "Rino" Malzoni).

Para a produção em série, o material da carroceria foi trocado por uma mistura de plástico reforçado com fibra-de-vidro. Tinha faróis carenados e logo abaixo ficava a grade oblonga, com frisos horizontais. A distância entre eixos passava de 2,47m (carro de competição) para 2,22m (carro de série). Apesar de contar com um motor de dois tempos e três cilindros, tinha 981 cm3, 50cv de potência, chegando a imprevisíveis 145 km/h.

Em 1966, no V Salão do Automóvel brasileiro, era exposta a sua primeira evolução do GT Malzoni, o Puma GT. Seu desenho coube ao piloto e designer Anísio Campos. Não tinha mais a simplicidade e o despojamento de um carro de corridas: o acabamento era luxuoso. No mesmo ano a pequena empresa tomava parte do Grupo Executivo das Indústrias Mecânicas. A razão social foi mudada para Puma Veículos e Motores Ltda.

Em 1967, a indústria automobilística nacional teve uma reviravolta, começando a se modernizar graças à incorporação de várias indústrias por marcas maiores e com novos conceitos. A Vemag foi absorvida pela Volkswagen. E teve o que viria a ser o ápice e o declínio de um ícone. Nesse ano surge a segunda geração do Puma (agora um VW). Era mais moderna e havia uma inspiração no desenho do superesportivo italiano Lamborghini Miura. Sob o capô ficavam estepe, tanque de combustível e um reduzido espaço para pequenas bagagens. Era um carro para duas pessoas. O diminuto espaço atrás dos bancos era reservado para pequenos objetos.

Em 1969, foi exposto na Europa, numa feira em Sevilha, na Espanha. Começava aí sua carreira internacional (foi exportado para mais de 50 países).


Em 1971 a fábrica colocava nas ruas a versão spyder, o Puma 1600 GTS. Era um conversível muito bonito, com capota de lona. Não era o primeiro do tipo fabricado no país, mas o único disponível na época já que o Karmann Ghia não oferecia mais essa versão.

Em 1974, a fábrica lançou o Puma GTB, com chassi próprio e motor do Opala 6-cilindros, embalada pelo sucesso dos modelos de menor porte. Para estes, em plena era do milagre econômico brasileiro, havia fila de espera (que chegava a 1 ano), mesmo sendo o segundo carro nacional mais caro (só perdia para o Ford Landau). O “Pumão” (apelido carinhoso que recebeu) tinha motor de 140cv, chegando a máxima de 170km/h. Logo a Puma passava a fazer parte da Anfavea, entidade que reúne as grandes e poderosas fábricas multinacionais do país. No ano seguinte os carros-chefes GTB e GTS passavam a utilizar o chassi da Brasília. Com isso a carroceria ficava mais alta e larga, e o comportamento em curvas estava ainda melhor.

Em 1979 a fábrica lançava o GTB reestilizado, chamando-o de Série 2 ou S2. Era mais harmonioso, moderno e bonito que o modelo de 1974: quatro faróis redondos, grade preta com frisos horizontais, frente mais baixa e pára-brisa e traseira mais inclinados.

O declínio da Puma começou em 1984, quando um lote de carros exportados para os EUA foi recusado e voltou para o Brasil: estavam fora das rígidas especificações exigidas pelo país, principalmente no que se refere à segurança. Isso maculou o nome da marca. No Brasil, no começo da década de 80, houve problemas com impostos, obrigações trabalhistas e dívidas com vários fornecedores. Para piorar, a fábrica passou por incêndios e inundações. Nesta época, produziam 400 veículos por mês. Em 1985, depois de uma carreira de sucesso, a Puma pedia concordata devido aos vários problemas enfrentados.

Depois de passar pelas mãos de outras duas montadoras do Paraná, em 1990, com a chegada dos importados no território nacional, a empresa fechava as portas definitivamente para a produção de automóveis. Estima-se que mais de 23.000 carros esporte foram vendidos, volume nem de perto atingido por outros pequenos fabricantes nacionais.

Para quem quiser maiores informações, segue o vídeo da Programa Auto Esporte sobre o "felino" brasileiro:



H (já pilotei um! rs)

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Amizade em xeque: Distrito 9



São inúmeras as vezes em que a ficção acaba por ser usada para dar uma lição de moral na vida real. Algumas dessas lições, não raro, passam desapercebidas pela maioria e, como conseqüência, são confundidas com mensagem subliminares.

Já quando a lição é explícita, o problema pela não percepção cabe a nós, seres humanos. Ignorar o que nos é transmitido é um ato que vai da nossa consciência social. Quem se acha no direito de fechar os olhos para isso ou para aquilo, talvez tenha em mente que tudo a sua volta encontra-se perfeitamente bem para ser questionado.

Esse mesmo questionamento sobre o que se passa ao redor é um dos motes centrais do filme que vi na última sexta-feira, “Distrito 9”. Você alguma vez já se perguntou quais são os seus amigos de verdade? Quem irá lhe socorrer se algo fora do comum acontecer? Amor e amizade são sentimentos “blindados” que independem de fatos externos?

Essa enxurrada de perguntas passou várias vezes pela minha cabeça durante o filme. Afinal, com quem eu posso contar, sempre?! É difícil, muito difícil de responder tanto essa quanto as demais perguntas que transcrevi acima (olha os spoilers aí, gente!).

Distrito 9 (District 9) é um filme perturbador. Não só por tratar desses pontos que relacionei antes. Mas, principalmente, por abordar o tema do preconceito (logo farei um post específico sobre isso) de uma maneira um pouco diferente da habitual. Se tivesse feito um filme sobre segregação racial, lutas entre brancos e negros etc., Neill Blomkamp não teria sido levado a sério e/ou chamado tanta atenção quanto fez com seu filme sobre a amizade entre um humano (prestes a se tornar um “mestiço”) e um alienígena. Enquanto um corre atrás da cura para a mutação pela qual está passando, o outro busca a liberdade de seu povo, num desejo saudosista de dias melhores para seus semelhantes. O caminho de ambos acaba entrelaçado porque a vontade de um é a causa do outro. A amizade que surge a partir daí serve de aprendizado para aqueles que, assim como eu, acabam menosprezando o valor futuro que as relações presentes podem nos proporcionar.

É um filme que recomendo mais do que qualquer outro que já vi esse ano. Claro que os efeitos especiais, apesar de fantásticos, devem ser deixados de lado para se apreciar melhor as lições que ele traz. É o tipo de filme para se ver entre amigos (como eu fiz). A discussão que ele pode gerar, pode ser enriquecedora. Ou não. Dependerá, como eu disse no início do post, da maneira como cada espectador assimilou as informações transmitidas.

No meu caso, a discussão foi mais do que proveitosa. Aliada a um texto que li no blog da Rakky, me inspirou para um outro post que aparecerá por aqui em breve. Aguardem...


H (qual o valor da sua amizade?!)

sábado, 24 de outubro de 2009

Diretores - Francis Ford Coppola



"Steven Spielberg e eu somos os únicos cineastas que podemos fazer o que realmente queremos. Eu, porque tenho sorte com os negócios, e Steven Spielberg porque é um gênio." [F. F. C.]

Nascido na cidade de Detroit, em 7 de abril de 1939, no seio de uma família ítalo-americana, teve seu nome do meio escolhido como uma homenagem "indireta" ao empresário Henry Ford, já que nasceu no hospital que leva o nome desse.

Aos nove anos, contraiu poliomielite. Passou boa parte da sua infância resguardado em uma cama. Tinha como principais companhias a TV e uma câmera 8mm do pai. Apesar de negar que sua influência para a sétima arte tenha surgido daí, fica nítida a ligação. Na verdade, Coppola nasceu numa família de artistas: sua mãe era atriz (Italia Coppola), seu pai era compositor e músico (Carmine Coppola) e sua irmã caçula é atriz (Talia Shire); posteriormente, sua filha se tornou atriz/diretora (Sofia Coppola) e seu sobrinho, ator (Nicolas Cage), para ficar nos mais famosos.

Aos 17 anos, depois de ganhar experiência produzindo vários curta-metragens com a câmera do pai, Coppola se inscreve na Universidade de teatro Hofstra. Quatro anos depois, entra na UCLA, renomada Universidade da época, especializada em cinema. Mas o excesso de disciplinas teóricas (e, por conseguinte, a falta de aulas práticas) fez com que ele desistisse da vida acadêmica, indo trabalhar como assistente do diretor de filmes "B", Roger Corman.

Aos poucos, se tornou o homem de confiança de Corman, consquistando cada vez mais espaço para mostrar suas ideias e criações. Apesar disso, Francis se sentia mais a vontade era escrevendo roteiros. Inclusive, o primeiro de seus incontáveis Oscars® veio com o roteiro que ele fez para o filme "Patton - Rebelde ou Herói?", de 1971. Seu sucesso lhe garantiu grandes amizades dentro dos estúdios da Warner, fato que seria imprescindível alguns anos depois.

Em 1968, enquanto dirigia um de seus piores trabalhos ("O Caminho do Arco-Íris"), descobriu um dos grandes talentos da época estagiando na produção desse filme: George Lucas. A amizade entre os dois foi responsável pelas melhores criações que o cinema mundial já viu, além de possibilitar a Coppola a fundação de seu próprio estúdio: o American Zoetrope.

Entre um fracasso e outro, um grande sucesso aqui e ali, o estúdio foi responsável por revelar outros diretores de grande calibre, como Carrol Ballard, Hal Barwood, John Korty, Williard Huyck, Gloria Katz, John Milius, Mathew Robbins e Martin Scorsese. Apesar disso, os blockbusters do estúdio foram mesmo aqueles dirigidos por Coppola.

Isso fica mais evidente se tomarmos como referência apenas a década de 1970, sua fase de maior e melhor produção. Filmes que marcaram uma geração e se tornaram "cult" para outras. Filmes que têm como marca o autoritarismo, às vezes de maneira explícita, outras mais reservadas.

Seus filmes, diferentemente de outros diretores, não segue uma forma básica. Suas obras são todas "primogênitas", se reinventando a cada claquete inicial. Infelizmente, como é natural a cada recomeço, algumas dessas obras deixaram muito a desejar.

Mesmo assim, seus filmes acumularam inúmeras premiações ao redor do globo. Entre eles, 15 prêmios Oscar®. Foi responsável por um fato até hoje inédito na festa maior do cinema: produziu a única sequência vencedora da estatueta de Melhor Filme ("O Poderoso Chefão I e II").

Alguns de seus filmes que eu recomendo:


H (um dos favoritos.. de todos)

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Momento poesia XXIX



Como é bom recebermos presentes sem uma data comemorativa prevista.

Na última semana, recebi da Bequinha um livro de poemas do poeta argentino Jorge Luis Borges (foto), “O Aleph”. Ao começar a lê-lo, me senti um verdadeiro ignorante por não conhecer tanto sobre outros poetas além daquelas figurinhas carimbadas da época do colégio.

Pensando nisso, pesquisei um pouco mais e resolvi transcrever dois excelentes trabalhos desse poeta que nasceu em Buenos Aires (1899) e morreu em Genebra (1986):

Um Cego

Não sei qual é a face que me mira
quando miro essa face que há no espelho;
e desconheço no reflexo o velho
que o escruta, com silente e exausta ira.
Lento na sombra, com a mão exploro
meus traços invisíveis. Um lampejo
me alcança. O seu cabelo, que entrevejo,
é todo cinza ou é ainda de ouro.
Repito que perdi unicamente
a superfície vã das simples coisas.
Meu consolo é de Milton e é valente,
porém penso nas letras e nas rosas.
Penso que se pudesse ver meu rosto
saberia quem sou neste sol-posto.


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Do que Nada se Sabe

A lua ignora que é tranquila e clara
E não pode sequer saber que é lua;
A areia, que é a areia. Não há uma
Coisa que saiba que sua forma é rara.
As peças de marfim são tão alheias
Ao abstracto xadrez como essa mão
Que as rege. Talvez o destino humano,
Breve alegria e longas odisseias,
Seja instrumento de Outro. Ignoramos;
Dar-lhe o nome de Deus não nos conforta.
Em vão também o medo, a angústia, a absorta
E truncada oração que iniciamos.
Que arco terá então lançado a seta
Que eu sou? Que cume pode ser a meta?

(Jorge Luis Borges)


H (Brigaduuuuu!)

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Uma aula de "história": Bastardos Inglórios



Poxa, que saudade desse quadro! Tentei puxar pela memória a última vez que havia feito uma análise sobre um filme que vi no cinema e, se não fosse pelo arquivo de posts aqui do lado, teria passado vergonha.

Meu tempo, recentemente, tem estado tão curto devido a outras prioridades que a rotina de assistir filmes tem permanecido, exclusivamente, reservada ao doce encanto do meu quarto. Porém, como não se pode comparar uma tela gigante com uma TV de 14’ (ainda terei minha LCD de 42’!) e, ultimamente, os lançamentos têm se mostrado bastante convidativos, resolvi abrir mão, nesta segunda-feira passada, do conforto do meu lar e fui assistir ao filme mais falado de Quentin Tarantino desde Pulp Fiction: Bastardos Inglórios.

É engraçado perceber a capacidade que alguns filmes (e, porque não, algumas companhias) têm de curar as piores moléstias que podem afrontar uma pessoa. No meu caso, era uma enxaqueca daquelas. Poderia muito bem ter ido para casa. Mas, como já havia vacilado uma vez com essa “Very Special Person” com a qual assisti esse filme, então resolvi agüentar mais um pouco. No final das contas, acabou sendo uma sábia decisão (é chegada a hora dos spoilers, people!).

Bastardos Inglórios (Ingloriuos Basterds), assim como deixei transparecer no título do post, é uma aula de história do professor Tarantino. Na verdade, uma anti-história, como num “wish-filme” didático. A trama, como muitos devem ter lido sobre, se desenrola a partir de um grupo especial de soldados judeus norte-americanos, que é destacado para espalhar o medo entre os alemães na França ocupada durante o final da Segunda Guerra. Apenas 8 indivíduos contra milhões de soldados do 3o Reich.

Apesar das incontáveis cenas de tiroteios e sangue espirrando, o que mais me chamou a atenção no filme foi a habilidade com que Tarantino conseguiu levar alguns dos (longos) diálogos. O bate-papo começa calmamente, percorrendo vários assuntos de maneira bem leve e superficial para culminar com uma revira volta quase sem precedentes. Christoph Waltz, no papel do coronel Hans Landa (prêmio de Melhor Ator no Festival de Cannes/09), conseguiu roubar a atenção voltada para o hollywoodiano Brad Pitt. Realmente uma das mais sagazes interpretações que já vi em filmes desse gênero.

Fora isso, o filme é uma comédia vingativa, contendo os mesmos artifícios dos outros filmes do diretor: a divisão por capítulos e a loira atrás de vingança (Kill Bill); o vilão que resiste até o fim da trama (Jackie Brown); a paixão que nunca dará certo (Pulp Fiction); além, é claro, da trilha sonora produzida sobre medida pelo próprio Tarantino (aqui, pode incluir todos os demais dele!). Juro que depois de assistir a esse filme, fiquei imaginando como seria bom vê-lo dirigindo um faroeste do tipo "Sete Homens e um Destino" ou "Por um Punhado de Doláres". Ficaria perfeito mesmo com Tarantino na direção e Ennio Morricone na composição incidental. Acho que vou mandar um email para ele com essa ideia. Quem sabe, não é?!

Para finalizar, uma coisa que não tinha me passado pela cabeça, porém a "Very Special Person" me alertou depois que saímos da sessão: na última frase do personagem do Brad Pitt, parece que Quentin Tarantino deixou transparecer um pouco do seu ego. Contudo, eu lhe perdoo! Não chega a ser a sua "obra-prima", Quentin.. mas você chegou bem perto!


H (excelente e hilário!)


* Imagem retirada daqui

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Sina de ser brasileiro



Brasileiro é um povo que cobra muito. Valoriza somente o resultado final, não importando como foi o caminho até seu vislumbre. Em outras palavras, a quantidade de suor não interessa desde que venha acompanhada de algo satisfatório.

Provavelmente, venha daí aquela premissa alcunhada de “jeitinho brasileiro”, quando o importante é sempre levar uma vantagem sobre alguém em alguma situação. De preferência, com o menor dos esforços.

Claro que eu não estou me referindo somente as inúmeras modalidades esportivas, mas no todo do convívio humano-social. Pois é, mister gringo, não é fácil ser brasileiro. A pressão para se obter um bom resultado é enorme!

Um dos motivos que considero o mais provável e, ao mesmo tempo, o menos justificável, é aquela mania "supra-auto-depressiva" de se intitular como um “povo sofrido” desde o começo. Uma nação com excesso de talento, mas falta de incentivo.

É uma verdade, com certeza. Porém, também acho que o maior incentivo deve partir do seu próprio semelhante; daquele que não lhe conhece, mas que, num ato de altruísmo, torce pelo seu esforço, pela sua garra, independente do resultado final. Por quê? Porque ele sabe que você fez o melhor que podia, não se acovardando atrás de uma negativa pseudo-máscara conformista.

Por isso, acredito que Rubens Barrichello fez o que estava ao seu alcance. Não só durante o Grande Prêmio do Brasil, mas durante toda a segunda metade dessa temporada de Fórmula-1. Foi competitivo, apesar da idade; venceu corridas e obteve outros ótimos resultados, apesar da visível preferência dada ao seu companheiro de equipe. E, principalmente, soube perder com dignidade. Sem aquele choro característico de perdedor, mesmo ciente do mar de críticas que receberia.

Pois é, mister gringo, não é fácil ser brasileiro.


H (Valeu, Rubinho!)

domingo, 18 de outubro de 2009

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Bicho-babão



Não pode haver nada mais bobo nesse mundo (não estou falando desse "fantástico" mundo em particular, mas no geral!) do que um pai de primeira viagem. Claro que eu não falo por conhecimento próprio, mas por visões alheias.

Ao todo, tenho 12 “sobrinhos” (filhos dos meus amigos). E tive o privilégio de acompanhar de perto o nascimento de dois deles (Tamires e Pedro Henrique). Talvez, seja o motivo de serem esses os meus favoritos! (brincadeira, crianças! E parem de ler o blog do tio H.. não é o tipo de leitura indicada para vocês! rs).

Sério agora: nos dois casos em que pude presenciar tal acontecimento, consegui perceber, nitidamente, a emoção que é essa dádiva de ser “pai”: as longas horas de espera, regadas a muita angústia e apreensão; o deslumbramento ao ouvir o primeiro choro do bebê; o choro de alívio ao perceber que tudo está bem; os instantes quase intermináveis na frente do berçário, tentando reconhecê-lo entre vários outros... etc.

É um sentimento incrível. Não chega a beirar a alegria (já que, como já disse aqui, ela não existe em sua totalidade). Porém, é uma sensação que mistura superioridade e temor, quando achamos que somos capazes de enfrentar tudo e a todos, derrotando monstros e fantasmas, exércitos e guerreiros solitários. E, ao mesmo tempo, medo do futuro, de como as coisas seguirão dali pra frente, tentando imaginar (e se prevenir) quais as dificuldades que surgirão.

Quando tinha 10 anos, tinha dois sonhos de “consumo” que adoraria ver realizados antes dos 30: o primeiro era conseguir entrar na USP (nessa época, biblio nem me passava pela cabeça), que consegui aos 21 anos; e, a outra, era ser pai. Ainda alimento esse sonho. Com um pouco menos de entusiasmo do que uma década e meia atrás, mas ainda o tenho como meta.

Às vezes, me convenço quase completamente que esse sonho por realizar é apenas uma tentativa de acertar onde (imagino) que meus pais erraram. Consertar os pequenos enganos e conseguir ser visto por uma "pessoinha" como o primeiro grande herói da sua vida. Aquele que pode ser o responsável por fazer de cada um de seus dias pequenas aventuras, repletas de conhecimento e momentos felizes... Nossa, só de pensar nisso tudo já sinto minha espinha gelada! rs

Bom, quero apenas com esse post, parabenizar os mais novos pais de plantão: Érica e Fábio que, no último dia 13, se tornaram um trio com a chegada do Fabinho. Tenho certeza que vocês serão pais incríveis.. mas, desejar um pouco de sorte nunca fez mal a ninguém, não é?! rsrs

H (reparem na cara de babão do Fábio! rs)

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Auto-história: a fúria



Para quem nasceu na década de 1980, como eu, não pode ter existido período melhor para se viver. Agora, pergunte para qualquer amante de carros clássicos qual foi a melhor década automotiva da história. Com certeza, a resposta unânime seria a de 1950.

Foi uma época em que, para os carros, a moda era, justamente, criar moda. O “ateliê” e os artistas para tudo isso?! O gigante império americano e seus três cavaleiros do apocalipse (eu sei que na psedo-história original eles eram sete, mas pouco me importa!): GM, Ford e Chrysler. Com o “american way” competindo com os “barbudos bebedores de vodka” depois da Segunda Guerra, o céu era o limite para as três montadoras disseminarem o gosto americano pelo mundo. Ou o que ele viria a ser.

Dessa forma, a década de 1950 e a cidade de Detroit foram transformadas em verdadeiras olarias, entregue ao bel-prazer da criatividade dos desenhistas e projetistas das montadoras.

Claro que, entre uma tentativa e outra, erros e acertos, sucessos e fracos se intercalaram, possibilitando que pérolas no universo automotivo fossem divulgadas até por meios pouco prováveis. Um dos casos mais famosos é o do Plymouth Fury, que, graças a Stephen King, ficou eternizado como o vilão do romance “Christine”.

Tudo começou em 1955, quando a Chrysler sentiu-se no dever de empregar mais esportividade aos seus modelos, numa tentativa desesperada de diminuir a mordida que seus concorrentes GM (com o Corvette) e Ford (Thunderbird) estavam dando no mercado. O segmento Plymouth era o de maiores vendas da montadora. Logo, foi escolhido para “abrigar” o novo carro da marca.

Em 1956, o Plymouth Fury (fúria, em inglês) foi apresentado no Salão de Detroit. Era um carro horroroso. Muito parecido com o Ford Thunderbird, era um carro fadado a não-produção. Porém, no ano seguinte, a direção da Chrysler resolver promover uma “caça por talentos” dentro da empresa. O desafio era redesenhar o Fury, trazendo um ar mais esportivo e sem muito exagero ao carro.


O projeto vencedor deu origem a um nome estilo para a marca: o forward. O motor V8 foi mantido (afinal, era mais potente que os concorrentes). Porém, com a nova transmissão Torqueflite (que era operada por cinco botões e não por alavanca) aumentou a potência final de 240cv para 290 cv! Difícil era não apreciar seu belo desenho: foram necessários dois anos até a GM alcançar a Chrysler com carros igualmente mais baixos e simples. As barbatanas na parte traseira foram um prelúdio do que viria tornar famosos os Cadillacs na década seguinte.

Os faróis dianteiros eram outro capítulo à parte. Dois pares separados por uma grande entrada de ar. Outros detalhes eram os grandes pára-choques cromados e as rodas traseiras escamoteadas. O carro foi um sucesso de vendas, desbancando todos os concorrentes diretos.


Em 1959, na absurda vontade de promovê-lo a carro familiar, a Plymouth renomeou a sua versão top para Sport Fury, com motorização de 315cv. A versão com 4 portas e potência mais modesta ficou com o nome anterior (Fury), voltado à família. O Sport Fury ganhou uma nova frente e traseira, com faróis bizarros e lanternas horríveis. A versão conversível, lançada no começo desse ano, não chegou a virada da década. Aos poucos, foi perdendo terreno no campo esportivo justamente pela tentativa inconcebível da Chrysler de transformá-lo em carro familiar (como o Thunderbird, na década de 1960).

Teve, ao todo, 6 gerações. As três últimas retalharam o carro de tal forma que nada da primeira geração sobrou em 1978, ano da última unidade fabricada. Quem conheceu o Plymouth Fury na sua versão de 1958, o auge da sua produção, não o reconheceria 20 anos depois como sendo o mesmo carro. Passou os últimos anos de vida servindo de carro patrulha nas principais cidades americanas.

Para os cinéfilos, segue abaixo a personificação do mal através de um Plymouth Fury 1958, conhecido por muitos como "Christine, o Carro Assassino", filme de 1983, do diretor John Carpenter:




H ("show me, Christine")

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Jogo de gato e rato



Eu detesto muitas coisas na minha vida. Não gostaria de ter uma lista tão extensa como a que tenho, porém, se ela me pertence é pelo simples merecimento adquirido nesses últimos 26 anos.

Claro que posso destacar alguns freqüentadores desse inventário particular, pessoas, fatos e relações que parecem estar grafadas em néon no meu livrinho negro de ódio sanguinolento. Exemplos clássicos são: a minha irmã e várias outras pessoas que fazem da arrogância a principal face de suas personalidades; donos de cachorros que nunca ouviram falar em coleira e/ou focinheira; idosos teimosos que insistem em entupir as calçadas já apertadas com suas bengalas ou passos de tartaruga; as fofoqueiras do meu bairro que adoram fazer da vida alheia a primeira página do “jornal falado” da vizinhança; o bando de filhos da puta que, assim que sobe no ônibus lotado, se acha no direito de colocar aquela música brega dos diabos no último volume do celular, mesmo com o aviso de PROIBIDO O USO DE APARELHOS SONOROS!

Bom, esses são só alguns. Mas, o principal de todos, aquele indivíduo com quem venho travando uma batalha constante nos mesmos moldes de um David e Golias dos tempos modernos, é o temível atendente de telemarketing. Não existe ser mais detestável e avesso ao bem-estar macro-social do que esse.

Tento ao máximo evitar o contato previsto (a ligação) com esse intimidador, contribuindo, dessa forma, a manter a minha saúde mental e os meus níveis de socialização num patamar fronteiriço ao suportável. Porém, nas duas últimas semanas, as tentativas se mostraram inglórias e insensatas.

Se eu não estivesse com meu orgulho ferido devido a negação do meu direito mais irrevogável (ir e vir), talvez até deixasse esse entrave de lado e minha vida seguiria seu rumo tranqüilamente sem maiores consternações. Mas, como nem todos os caminhos que escolhemos (ou que nos são oferecidos) levam ao paraíso idealizado, escapar do sofrimento fica ainda mais difícil.

Não vou entrar em detalhes sobre as minhas conversas com esse ser mitológico, renegado por toda a sociedade, enfático em cada uma de suas ações, além de surdo e dissimulado por natureza. Só digo o que aprendi: a ameaça surte efeito; falar alto e sem intervalos deixa-os desconcertados; esperar vários minutos na linha possibilita a descoberta de canais interessantes na sua recepção de tv; falar no telefone enquanto comer não é falta de educação; cochilar com o celular no ouvido é uma delícia!

O saldo das minhas duas lutas?! Uma eu venci por nocaute (que pode ser entendido por “problema resolvido antes do prazo estipulado”) e a outra perdi por pontos, porque os entreguei depois da quinta ligação..


H (eles têm um poder de persuasão!)

* Imagem retirada daqui

domingo, 11 de outubro de 2009

Despertar



Uma lágrima deslizou no meu rosto sem querer,
Era a saudade que tinha de crescer, que o tempo fez questão de acabar ,
Agora nas lembranças irão ficar, um tempo que gostava de inventar.

Uma lágrima deslizou no meu rosto sem querer,
Por causa dos amigos que mudaram, mas, deixaram marcas...
Marcas de uma vida compartilhada de alegrias e tristezas

Uma lágrima deslizou no meu rosto sem querer,
Quando olhei minha face no espelho,
Me beijei...

Um sorriso partiu de meus lábios,
Era a emoção que apertava meu coração,
Obrigado a meus amigos por toda a história, por essa memória,
Que nos transformam em homens e mulheres vitoriosos!

Momento poesia XXVIII



Loucos e Santos

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.
Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.
Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.

Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que 'normalidade' é uma ilusão imbecil e estéril.

(Oscar Wilde)


H (parabéns, BeKa!)
* Imagem retirada daqui

sábado, 10 de outubro de 2009

10 piores tipos... parte final



Peço desculpas pela demora em postar essa derradeira parte sobre os "10 piores tipos de pessoa que você pode encontrar numa sala de cinema". Tive que reformular algumas "espécie" presentes nessa segunda parte.

A primeira parte rendeu-me algumas idéias que me fizeram repensar no peso dado a cada categoria escolhida para compor a lista. Bom, depois de muito pensar, segue a última parte:

* O estraga-filme: a maioria dos filmes que assisti mais de duas vezes, teve como conseqüência direta da sua “re-vista” a minha interação com esse ser abominável que adora se esgueirar pelos cantos sombrios das salas de cinema, disseminando a discórdia e rebeldia nos corações puros e inocentes dos amantes da sétima arte. Características: agora, algo que pode ser uma surpresa para alguns ou soar como um “eu já sabia!” para outros; a verdade é que, 99,9% das pessoas que podem ser inseridas nessa categoria não passam de arrogantes e prepotentes grandes conhecedores de filmes. Em outras palavras, são cinéfilos. Calma! Não se trata de qualquer cinéfilo. Esses possuem uma anomalia genética perceptível a partir dos 10 anos de idade: a língua maior que a boca! Como adoram falar! Juntado-se a isso o alto grau de conhecimento fílmico, a arrogância adquirida naturalmente e a carência desesperada por atenção, tem-se aí uma forma de vida baseada em carbono (estou assistindo muito X-Files! rsrs) altamente perigosa e fora de controle. Como se prevenir: assim como o “Chuta-chuta” (seu meio-irmão por nível de irritação), o “Estraga-filme” escolhe suas vítimas a dedo! Casais jovens são suas favoritas. Por isso, desista de madrugar com sua (eu) namorada (o) na fila da bilheteria! Ah, evite as salas nos finais de semana. Sua carência excessiva faz com que ele viva a procura dos seus “15 minutos de fama”. Sempre!;

* O (a) maníaco (a) do celular: todo o avanço tecnológico das últimas 3 décadas possibilitou um número sem fim de facilidades e progressos para a sociedade. Isso é fato. Em contrapartida, também causou o surgimento de uma legião urbana (desculpa Renato Russo!) que tem um talento incrível para me perseguir e, conseqüentemente, me irritar. Seja no ônibus com suas musiquinhas de 18a categoria, seja no cinema com suas conversas em horas inoportunas, o nível de sem-noção que eles conseguem atingir é inigualável, em comparação com todos os estratos socio-psicótico existentes. Características: eles são classificados como uma nossa fase, uma curva acentuada na evolução cibernética, muito recorrente em filmes de ficção cientifica como “A. I. – Inteligência Artificial”, “O Exterminador do Futuro” e “Eu, Robô”. Se você pensou em ciborgues, acertou! Sua arma de destruição em massa é um aparelho que, apesar da aparência frágil e inofensiva, é capaz das piores atrocidades que o ser humano já presenciou (explodir postos de combustível, espalhar vírus, destruir casamentos etc.). Como se prevenir: a única maneira é apelando para a boa e velha educação social. Seja gentil e transpareça seu desconforto logo de cara. Se deixar a coisa rolar, acaba virando uma bola de neve. Talvez, se você tiver sorte, encontre um “ciborgue do bem” disposto a parar com o incômodo por algum tempo;

* Os pirralhos: essa é a geração embrionária dos “Aborrescentes”. Se nada for feito durante sua gestação, considere a caixa-de-Pandora aberta e fuja, o mais rápido que puder, para as colinas! Muitos céticos dizem que eles são o futuro da nação. Eu os vejo com o futuro da destruição da humanidade. Características: toda ida ao cinema, para eles, é como se fosse a visita a um circo; tudo é festa! Até quando vão ao banheiro. Num primeiro momento, pode parecer que as principais vítimas dessa espécie são seus próprios genitores. Não é verdade! Afim, como diz aquele ditado, "filho é igual a pum: só quem pôs no mundo aguenta". Para os pais, essa (a ida ao cinema) é uma das melhores formas de socialização dos seus pimpolhos. Uma pena é quando esses mesmos pais evitam a oportunidade para dar um pouco de senso de convivência para seus pirralhos. Como se prevenir: se existe uma coisa que me amedronta mais, quando o assunto é cinema, é a combinação-bomba [blockbuster + classificação livre + pirralhada + pipoca + refrigerante + pais inconsequentes]. Nossa, fiquei arrepiado só de escrever isso! Quer uma dica infalível?! Assista apenas filmes com classificação acima de 16 anos e deixei para ver os demais no doce sossego do seu lar;

* A (o) risonha (o): "rir é o melhor remédio", já dizia o lema dos Doutores da Alegria. Mas, como tudo na vida, na hora exata e com uma certa dose de moderação acho que não seria pedir demais. Para esse tipo de pessoa, é. Características: quem acha que a principal seja o riso, está totalmente por fora. O motivo que me levou a incluí-la nesta lista foi o fato dessa pessoa sempre rir em demasia nas horas mais inesperadas. Gargalhar durante uma comédia é mais do que compreensivo. Mas, disparar altos risos durante um suspense ou filme de terror?! Por favor! Concordar com isso é praticamente conspirar com um sociopata. Como se prevenir: só existe um jeito totalmente confiável para se evitar um contato direto com tal ser abominável: deixe de ir ao cinema.. pelo menos até exigirem exames anti-doping antes de cada sessão!;

* A síndrome da bibliotecária: vocês, meus bons colegas da biblioteconomia, por um acaso chegaram a pensar que eu deixaria essa categoria de fora da lista?! Não acredito que vocês foram tão ingênuos! Como deixar de fora a pessoa tida como inimiga número 1 não só dos reles mortais normais, como também dos outros nove relacionados dessa lista?! Características: na verdade, os indivíduos que fazem parte dessa categoria são seres contaminados com um vírus muito perigoso e facilmente transmissível. Graças a picada do mosquito Aedes Silentium, a pessoa adquire uma mania incontrolável de disseminar o silêncio por toda a sala de cinema em que passa. Muitos acreditam que o mosquito transmissor dessa moléstia veio do futuro, numa tentativa desesperada de eliminar da face da terra os descendentes dos primeiros "Maníacos do celular". Como se prevenir: e por que eu evitaria conviver com uma pessoa responsável por manter a paz e a ordem no cinema?!

É isso. Vale lembrar que a junção de duas ou mais das características relacionadas é capaz de criar um monstro horripilante, sem precedentes na história da humanidade.


H (idéias por idéias)

* Imagem retirada daqui

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Diretores - Federico Fellini



"Para o cinema tudo se torna uma mensa natureza-morta, até os sentimentos dos outros são qualquer coisa de que se pode dispor." [F. F.]

Federico Fellini nasceu em 20 de janeiro de 1920, na cidade de Rimini, Itália. Era o filho mais velho dos três que o casal Urbano e Ida teve.

Ao completar 19 anos, mudou-se com sua mãe para a cidade natal dessa (Roma), onde decidiu cursar faculdade de jornalismo, muito influenciado pela representação desse profissional presente nos inúmeros filmes americanos que assistiu durante sua adolescência.

Logo mostrou ter um talento nato para a caricatura e o humor. Dessa forma, conseguiu um trabalho bem remunerado escrevendo artigos em um programa semanal satírico muito popular na época – o Marc’Aurelio. Foi nesse período em que conheceu o ator Aldo Fabrizi, dando início a uma amizade que se estendeu para a colaboração profissional (com o diretor Roberto Rossellini) e um trabalho em rádio (quando conheceu sua futura esposa, Giulietta Masina).

Em 1946, já na produção de seu segundo roteiro, juntamente com Rossellini, Fellini entra pela primeira vez numa sala de edição e descobre como são feitos os filmes italianos. Estava dado o passo fundamental para o surgimento de uma carreira magnífica.

Seis anos depois, teve sua estréia como diretor solo (em 1950, o filme “Mulheres e Luzes” foi co-dirigido com o amigo Alberto Lattuada) pela película “Abismo de um Sonho”. É uma releitura de uma fotonovela - comuns na Itália daquela época - de Michelangelo Antonioni, feita em 1949, que conta a história de um casal recém-casado cujas aparências de respeito são devastadas por fantasias da esposa inexperiente. O merecido sucesso veio na sua produção seguinte, “Os Boas-Vidas”, considerado o seu primeiro grande filme.

Com uma combinação única de memória, sonhos, fantasia e desejo, os filmes de Fellini (muitas vezes tidos, erroneamente, como autobiográficos) têm uma profunda visão pessoal da sociedade, não raramente colocando as pessoas em situações bizarras. Eternizado pela poesia de seus filmes, que mesmo quando faziam sérias críticas, não deixavam a magia do cinema de lado, trabalhou suas trilhas sonoras com maestria, na grande maioria das vezes com o compositor Nino Rota.

Suas produções renderam, entre outros prêmios, 4 Oscars® de Melhor Filme Estrangeiro (além de 8 indicações para Melhor Roteiro) e 4 premiações no Festival de Cannes. Indicado 4 vezes ao Oscar® de Melhor Diretor, Fellini recebeu, em 1993, o Oscar® Honorário pela sua contribuição e conjunto de sua obra. Com certeza, muito pouco crédito para quem é considerado o diretor mais influente de todos os tempos.

Nos anos de 1991 e 1992, trabalhou junto com o diretor canadense Damian Pettigrew para ter o que ficou conhecida como "a mais longa e detalhada conversa jamais vista sobre filmes", que depois serviu de base para um documentário e um livro lançados anos mais tarde: "Fellini: Eu sou um grande Mentiroso" (2002). Tullio Kezich, crítico de filme e biógrafo de Fellini descreveu esses trabalhos como sendo "O Testamento Espiritual do Maestro".

Morreu em 31 de outubro de 1993, em sua casa, de ataque cardíaco, deixando-nos um legado com mais de 20 filmes. Obras inspiradoras e inimitáveis. Perfeitas, além de suas essências.

Alguns de seus filmes que eu recomendo:

* A Estrada da Vida (1954)
* Noites de Cabíria (1957)
* A Doce Vida (1960)
* Fellini 8 1/2 (1963)
* Satyricon (1969)
* Amarcord (1973)
* E la Nave va (1983)
* Ginger e Fred (1986)


H ("Cinema-verdade? Prefiro o cinema-mentira. A mentira é sempre mais interessante do que a verdade." [F. F.])

terça-feira, 6 de outubro de 2009

O sopro de alívio e as primeiras pedras



Começar a trilhar caminhos inéditos não é fácil. Na verdade, ninguém nunca me disse que seria fácil. Porém, nós sempre temos uma esperança, não é mesmo?!

Quando os primeiros entraves aparecem, é normal sentir aquela vontade quase incontrolável de desistir, largar tudo como está para que, futuramente, outro corajoso entusiasta encontre melhores meios para concluí-lo.

Ultimamente tenho me sentido imerso naquele poema do Carlos Drummond de Andrade em que, num determinado momento, ele (ou o personagem do poema) se encontra “cercado” por pedras, não podendo seguir ou retroceder.

Essas pedras, as quais logo alcunhamos de “obstáculos”, muitas vezes são tão grandes que acabam por tornar o restante do caminho totalmente invisível aos nossos olhos. Damos pulos ou tentamos circundá-las, na tentativa sempre fracassada de enxergar aquilo que se encontra além.

Nesses casos é que uma orientação, a chamada “mão-amiga” faz sempre uma diferença, auxiliando com os equipamentos necessários para escalá-las. Não raro, algumas vezes surge aquele frio na barriga devido a altura que esse ou aquele obstáculo adquire. E, novamente, cabe a mão-amiga nos incentivar, deixando claro que o medo nada mais é do que a falta de confiança tentando nos incapacitar de todas as formas a enfrentar o desconhecido.

O desconhecido pode ser uma aventura ou uma chatice; um filme de terror ou uma comédia pastelão. Suas definições, para serem conhecidas, só dependerão da carga acumulada que trazemos conosco. Cada um só faz a viagem que quiser. Ou puder fazer.


H (estagnado)

domingo, 4 de outubro de 2009

Top 10 piores tipos... 1a parte



Como eu disse num post anterior, todas essas recordações, somadas a outras relacionadas as demais salas que já freqüentei, contribuíram para a formulação desse post que, em seu título completo, seria: “Top 10 piores tipos de pessoas que você pode encontrar numa sala de cinema”. Desde já, aviso que todos os 10 “espécimes” foram baseados em experiências reais que presenciei e/ou vivenciei nesses meus 12 anos de estrada fílmica. Ela será dividida em duas partes, devido a proporção espacial que essa lista tomou. Bom, sem maiores enrolações, vamos a ela:


* Aborrescentes: quem nunca foi um, que quebre o monitor agora! Não existe uma escapatória eficaz para evitá-los. Eles estão por toda a parte, inclusive na maioria das salas de cinemas naqueles horários vespertinos. O motivo?! As principais salas ficam dentro dos grandes shoppings centers, lembram? Características: além das habituais (idade, mochila, pequenos bandos), existem outras mais perceptíveis. O engraçadinho do grupo (eu já fiz muito esse papel! rs) se acha sempre no direito de fazer um apontamento sobre o filme e/ou gritar algo para algum personagem; as meninas adoram esganiçar durante os filmes de terror; ah, e são os principais responsáveis pela sujeira que fica depois das sessões. Como se prevenir: não existe uma regra básica para isso, mas posso sugerir algumas precauções. Evite ao máximo as salas de cinema que ficam em shoppings. Difícil, né?! Então, evite as sessões entre o horário das 14h às 18h, todos os dias da semana;

* Os adoradores de pique-nique: falando assim, até parece um grupo satânico, né?! Mas acreditem, eles são quase isso! Também andam em bandos, porém mais limitados (em torno de 5 indivíduos) e com mais idade do que os “Aborrescentes” (entre 18 e 30 anos). Fazem paradas estratégicas (casa de amigos, padarias, docerias) antes de chegarem ao cinema, levando Deus e o mundo para saciarem a fome durante o filme. Por já possuírem meios de locomoção próprios, dão preferência às últimas sessões do dia. Características: não passam de pseudo-burgueses mortos de fome que adoram reclamar do preço das guloseimas e combos vendidos na bomboniere do cinema porque, na verdade, gostariam muito de ter dinheiro para comprá-los. São os principais culpados por aqueles chicletes que sempre encontramos grudados nos braços dos assentos. Como se prevenir: a maneira mais fácil é evitar as “sessões corujas” (sem alusões!), entre 21h e 24h. Outra dica é se sentar nas primeiras fileiras, local que, para eles é como a cruz para o diabo;

* O (a) boca-aberta: diga a verdade: você, por mais estranho que seja, já não se sentiu o mais normal dos seres depois de ouvir aquela pessoa na fileira da frente mascando e/ou comendo de boca aberta?! Eu sim. Sempre! Pode existir coisa mais irritante antes do início do filme? (na verdade, existe. Aguardem a continuação da lista! rs). Acreditem, essas pessoas são doentes. Na maioria dos casos, é irreversível. Características: por mais irritante que pareça, demonstrar tal descontentamento perante esse tipo de pessoa, só servirá como estímulo para ela continuar. São seres sem o menor senso de convívio social. Como se prevenir: exatamente devido essa última característica relacionada, é quase impossível prever quem pode ser um (a) potencial "boca-aberta"; minha única dica (e, ainda assim, não é 100% infalível) é a de evitar ao máximo as sessões muito concorridas. Desse modo, você evita grandes aglomerações, o habitat natural dessa espécie;

* As carpideiras: esse tipo dispensa mais explicações, não é mesmo?! Apesar do termo fazer referência ao público feminino, o lado masculino da classe não está isento de todo esse mal. Características: choradeira é pouco! O caso é profissional, de verdade. Em alguns casos, essas pessoas altamente "habilidosas" são contratadas para influenciar as demais. Por acaso você nunca (repito: NUNCA!) sentiu uma vontade, por menor que fosse, de chorar também ao ouvir o indivíduo ao lado se matando em prantos?! Como se prevenir: dizer para você desistir de assistir esse drama histórico ou aquele romance adolescente, não adiantaria de nada. Eu mesmo já presenciei a atuação desses profissionais nos mais variados gêneros cinematográficos. A única maneira segura de se livrar é evitar as últimas fileiras da sala, além das últimas sessões, já que está comprovado cientificamente que, um dos efeitos colaterais que mais afringe os "Adoradores de pique-nique", é o choro em excesso;

* O chuta-chuta: se você já brincou de carrinho bate-bate, deve se lembrar da sensação gostosa de perseguir alguém e atingir seu objetivo. Pois bem, essa espécie aqui parece ter saído diretamente do pior parque de diversões do mundo para a sala de cinema. Certa vez, quase sai no braço com um indivíduo desse tipo. Características: imagine você ali, na sala de cinema, com aquela (e) gata (o), pedindo logo para as luzes se apagarem e vocês mandarem aquele beijo.. porém, durante a conversa, você já começa a se irritar com a pessoa da fileira de trás que insiste em ficar batendo com o joelho e/ou o pé na sua cadeira. Você olha uma, duas, três vezes para ver se a pessoa se toca que está atrapalhando a sua paquera. Ledo engano, já que é exatamente esse o intuito desse indivíduo. Quanto mais irritado você ficar, mais feliz essa pessoa se sentirá. Como se prevenir: a melhor (e, talvez a única) dica que posso lhe dar é deixar de lado os blockbusters e a mania de ser o primeiro a entrar na sala, já que o melhor jeito de vencer seu inimigo é se juntando a ele. E, se tem algo que o "Chuta-chuta" adora de fazer é ser um dos últimos a chegar a sala para poder escolher bem a sua vítima;

Bom, termina aqui a primeira parte. No meio da semana, posto a sequência. Até lá.


H (já passei por cada uma!)

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Minha música-chiclete III e uma grande mentira


Homem não chora


Homem não chora
Nem por dor
Nem por amor
E antes que eu me esqueça
Nunca me passou pela cabeça
Lhe pedir perdão
E só porque eu estou aqui
Ajoelhado no chão
Com o coração na mão
Não quer dizer
Que tudo mudou
Que o tempo parou
Que você ganhou

Meu rosto vermelho e molhado
É só dos olhos pra fora
Todo mundo sabe
Que homem não chora
Esse meu rosto vermelho e molhado
É só dos olhos pra fora
Todo mundo sabe
Que homem não chora

Homem não chora
Nem por ter
Nem por perder
Lágrimas são água
Caem do meu queixo
E secam sem tocar o chão
E só porque você me viu
Cair em contradição
Dormindo em sua mão
Não vai fazer
A chuva passar
O mundo ficar
No mesmo lugar

(Frejat / Alvin L.)


H (esquecer é difícil, né!? Mas, se eu consegui, tenho certeza que você também conseguirá.. faça um esforço.. e me deixe em paz!)

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

A inspiração do próximo Top


Foi-se o tempo em que ir ao cinema era, de longe, o grande evento cultural da minha semana. Quando se vive numa cidade minúscula, com pouquíssima infra-estrutura nessa área, pode ser até o único!

Deixando as reclamações de lado, lembro-me, como se fosse ontem, a minha primeira ida ao majestoso Cine Alvorada. Um cinema aos moldes antigos, com suas cadeiras retráteis, uma bomboniere de encher os olhos (e esvaziar os bolsos! rs), um grande salão de entrada, 1.600 lugares e uma tela enorme. Um dos detalhes que eu mais gostava era o fato deles ainda tocarem trilhas de filmes antigos antes dos trailers. Era um motivo a mais para chegar bem cedo à sessão.

Ali, durante os cinco anos em que fiz uso, assisti dezenas de filmes das mais variadas espécies. O primeiro, em 1997, foi (não me julguem mal! Lembrem-se que eu só tinha 14 anos!) “Independence Day”. O último, em 2002, foi “Star Wars I: a ameaça fantasma”.

Passava a semana toda esperando chegar logo a sexta à noite para poder correr para lá e assistir as novidades que já tinha conhecimento pelos jornais e revistas. Ali, fiz amigos, conheci minha primeira namorada, levei quase todas as outras (rs).

Porém, o que eu gostava naquele lugar era da sua magia. Uma energia diferente, capaz de me fazer esquecer de tudo e qualquer aborrecimento típico da época. Certa vez, aproveitando uma promoção que o cinema oferecia ao aniversariante do mês, consegui um passe-livre do dono para poder assistir ao filme da sala de projeção. O que eu posso dizer?! Foi o mais próximo que consegui chegar de um sonho realizado.

Todas essas recordações, somadas a outras relacionadas as demais salas que já freqüentei, contribuíram para a formulação desse e dos próximos dois posts que serão baseados em experiências reais que presenciei e/ou vivenciei nesses meus 12 anos de estrada escura e, nem sempre, silenciosa.

Aguardem os próximos episódios...


H (surprise!)