quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Pedras no sapato..



Impressionante como algumas pessoas se esforçam para conseguirem o título de "pedra no sapato alheio".

Às vezes me sinto como um imã para esse tipo de inutilidade formada de carbono e muita merda! Chega ao cúmulo de deixar uma saída programada de lado para evitar ao máximo tal entrave humano-irracional.

Como eles podem existir? Como a evolução, tão defendida por Darwin e seus comparsas, pode ter privilegiado tamanha ignorância e falta de senso ambulante?

Acho que ficarei sem as minhas respostas... aliás, pensando bem, acho que nem gostaria de sabê-las! Quero é conseguir meu canudo, e logo! Assim, quando decidir dar uma forcinha para a "seleção natural", pelo menos terei minha cela especial.


H (o dia que matar um, a culpa ainda será minha! Por favor!)

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Auto-história: o falcão jr.



Quando se pensa em carros norte-americanos, mais precisamente, durante a década de 1950, logo vem a mente aqueles beberrões enormes, rabos-de-peixe, cromados etc.

Porém, na década seguinte, a mentalidade ocidental estava em transição. O Rock já não era o mesmo; a instabilidade política regional e a Guerra do Vietnã mostravam que o “american way” já não era mais uma unanimidade.

Com a indústria automobilística não poderia ser diferente, ainda mais com a invasão que a Volkswagen e a Toyota começaram a promover no solo sagrado dos grandes Fords, GMs e Chryslers. Chegaram de mansinho, trazendo carros compactos, baratos e econômicos, de linhas limpas e mecânica resistente.

Em 1959, a poderosa Ford lançou o Falcon, um carro feito para a família. Porém, o que era para ser um sucesso de vendas, se mostrou um desastre. Pouco competitivo com os compactos importados. Já no final da década de 1960, a direção da montadora promoveu um sucessor para o projeto do Falcon.

Em abril de 1969, foi apresentado ao público o Maverick, construído a partir da plataforma do Falcon. Era um pequeno cupê dotado de motor dianteiro com tração traseira. Se por um lado mantinha boa parte da mecânica dos irmãos mais velhos Falcon, Fairlane e Mustang, por outro oferecia melhor dirigibilidade e mais praticidade, as principais virtudes dos importados.

Apesar de menor, o Maverick ainda não se igualava em porte aos compactos estrangeiros, sendo apenas um pouco mais curto que o Falcon e ligeiramente mais pesado. Mas isso não impediu que logo no primeiro ano ele superasse em vendas seu "irmão mais velho". Embora tenha sido sucesso de público, o Maverick não foi poupado pela crítica: as principais reclamações focavam a direção muito lenta e os freios a tambor, que superaqueciam com facilidade.


Em 1971, o fraco motor de 6 cilindros (98cv) foi substituído pelo já especulado pela imprensa da época motor V8 de bloco pequeno, rendendo até 132cv. Essa versão também foi a primeira com 4 portas e entre-eixos maior, oferecendo maior espaço para os ocupantes do banco traseiro. Freios dianteiros a disco, ar-condicionado e direção assistida foram introduzidos como opcionais, fazendo com que o Maverick caísse ainda mais no gosto do consumidor. O sucesso foi tanto que ainda em 1971 a divisão Lincoln/Mercury ressuscitou o nome Comet em sua versão para a linha Mercury.

No ano seguinte, surgiam mais duas versões do modelo da Ford: Sprint e LDO. A primeira era um pacote caracterizado por pintura branca com faixas azuis e detalhes vermelhos, além de interior revestido no mesmo esquema "patriótico". A versão LDO (sigla para Luxury Decor Option) trazia bancos com encosto reclinável, tapetes em tecido, painel com revestimento imitando madeira, pneus radiais, calotas na cor do carro e teto revestido em vinil.

Em 1973, a frente passava a ostentar um enorme pára-choque que destoava das linhas do carro, uma alteração que visava atender à nova legislação americana, pela qual os pára-choques não poderiam ser danificados em impactos a até 8 km/h. No ano seguinte o pára-choque traseiro também mudava, o que acabou por descaracterizar a fluidez das linhas. Nem essas mudanças, nem a crise do petróleo desse ano foram capazes de arranhar a pintura do Maverick. Seu êxito só cairia com a apresentação de seu substituto, o Granada, em 1975. Deixou de ser produzido no país do Tio Sam em 1977, com a impressionante marca de 2,5 milhões de unidades vendidas.

Se nos EUA o Maverick tinha a missão de combater o avanço do Fusca, no Brasil, seu desafio era enfrentar o Opala, substituindo os defasados Aero-Willys e Itamaraty que a Ford herdou ao absorver a Willys Overland, em 1968. A marca precisava de um carro mais atual para ocupar a lacuna entre o popular Corcel e o topo-de-linha Galaxie.

Pré-apresentado no Salão do Automóvel de São Paulo de 1972, o Maverick então chegou ao mercado em junho de 1973 praticamente igual ao americano de 1970, nas versões Super, Super Luxo e GT. Apresentado como "um carro contra a rotina", o Maverick estava disponível com dois motores. A primeira opção não era nada inspiradora: o seis-cilindros em linha de 3,0 litros do Aero-Willys/Itamaraty. A potência de 112cv era um tanto modesta para um carro de 1.340 kg.

A boa notícia ficava por conta da versão GT. Com um motor V8 que desenvolvia 197cv, chegando a velocidade máxima de 180 km/h e aceleração de 0 a 100 km/h em 11 segundos, competindo de perto com o recém chegado Dodge Dart. Havia mais compradores do que produtos e chegou a haver fila de espera de até um ano. Apesar de tudo isso, a primeira série do GT foi caracterizada por problemas crônicos, como o fácil travamento dos freios traseiros e superaquecimento do motor, devido ao sistema de arrefecimento subdimensionado para o clima brasileiro. Resolvidos os problemas de refrigeração, o Maverick atingiu vendas expressivas.

Porém, com a crise do petróleo, diferentemente do que ocorreu nos EUA, o Maverick brasileiro sofreu um belo golpe. A nova fábrica de Taubaté precisou ser concluída às pressas, para a construção e lançamento de um motor mais econômico para o modelo. Com baixa potência (99cv) as vendas insistiam em não deslanchar.


Após a aposentadoria nos EUA, em 1977, a Ford apresentava a segunda fase do Maverick brasileiro: suspensões, freios, grade, bancos e lanternas traseiras eram modificados. Pneus radiais, caixa automática e ar-condicionado passaram a ser oferecidos com qualquer acabamento e motor. O padrão LDO passava a ser disponível aqui, traduzido como Luxuosa Decoração Opcional. Trazia os mesmos detalhes do americano, como painel imitando madeira e revestimento mais caprichado.

Contudo, com a apresentação do Corcel II, em 1978, o projeto Maverick chegou ao fim. O último exemplar saiu da fábrica em abril de 1979, totalizando mais de 108 mil unidades. Desde então a Ford nunca mais teve um esportivo de motor V8 no mercado brasileiro.

Na telona, posso destacar os filmes: Jovens Assassinos (1985), com um modelo vermelho de 1970; a comédia Mulher Nota 10 (1979), onde aparece um modelo azul de 4 portas também de 1970; e A Vida e a Morte de Bobby Z (2007), com um surrado modelo de 1974. E, para quem gosta de um "ronco V8", segue um vídeo:




H (meu carro "nacional" favorito!)

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

O sucesso da minha alegria


Nem a "Santa Ceia" original foi tão animada...

Victor Hugo, poeta ultra-romântico, num certo poema de sua autoria (e um dos meus favoritos!), deseja que "...você tenha amigos / que mesmo maus e inconsequentes / sejam corajosos e fiéis / e que, em pelo menos num deles, / você possa confiar, sem duvidar...".

Já Aristóteles, famoso filósofo grego, em seu livro “Ética a Nicômaco”, um verdadeiro receituário de profundas reflexões sobre a amizade, diz que a “amizade é uma virtude, e é a coisa mais necessária à vida. [...] Sem amigos ninguém escolheria viver, ainda que houvesse outros bens.”.

Por sua vez, Francis Bacon, filósofo e político inglês da virada dos séculos XVI e XVII, diz em seu livro “Essays” que “Sem amizade, uma multidão é só companhia, as caras não são mais do que uma galeria de retratos, e a conversa um simples tinido de címbalos.”.

Eu tenho por definição que a amizade é algo ambíguo, já que pode ser classificada como complexa e simples ao mesmo tempo. Complexa porque envolve afinidade entre seres (humanos, em sua maioria) que possuem distintas opiniões, pontos de vista, gostos etc., justamente porque são seres criados de maneiras diferentes; simples porque, exatamente por ocorrer entre seres complexos, esses mesmos também são passíveis de sociabilização, carentes por encontrar indivíduos parecidos, ansiando pelas mesmas necessidades, formando assim um grupo, uma comunidade, um povo.

Como já disse aqui várias vezes, trato meus amigos como irmãos, por um motivo que pode fugir a compreensão de todos, porém, bem fácil de se entender: eu adoraria ter mais irmãos! Mais velhos, para poderem me ensinar coisas que a vida me mostraria em pequenos (ou grandes) golpes; e, por que não, mais novos também, para eu poder ajudá-los nas horas mais difíceis e consolá-los quando a vida também lhes dessem umas cassetadas (e atormentar de vez em quando, claro! rs).

Sobrou até para o SAIMON!!!

Bom, disse tudo isso para ilustrar o que significou o "4o Encontro de Biblioamigos". Meu círculo de amizade é mínimo quando comparado com outros tantos. São poucos, porém muito valentes. Valentes por suportarem minha presença e aceitá-la de bom grado. Por aguentarem e-mails e mais e-mails meus "exigindo" tal encontro numa época tão conturbada de TCCs e decisões de temas.

O bem que foi me transferido desse encontro, renderá frutos por alguns meses... até uma próxima reunião, com certeza!


H (sou um espelho voltado aos meus amigos...)

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Momento poesia XXVII



(Res) Sentido*

Sentir o amargor de um mal-amado;

a angústia de um não-correspondido;

a tortura de ser ignorado

ou nem mesmo conhecido.


Que sentimento sobrevive assim?

Renegado na sua maior essência,

centrado pelo início, começado pelo fim?

Numa confusão que beira a demência...


E mesmo esquecido, incapaz,

que efêmero sentimento pode ser?

Que de alegria mais se assemelha a dor!


Esse só pode ser o amor!

Do tipo (é óbvio!) racional demais...

... igual ao que tenho por você!

(Rebeca Ortiz)



* Escrita em 20/07/2007



H (dá-lhe, Bequinha! rs)

O molhado da chuva




Nesses últimos dias, tenho me sentido como um grande (nem tanto assim, já que só meço 1,67m) ponto de interrogação ambulante.

Durante dois dias, fui abordado com a mesma questão feita por 4 pessoas diferentes: “você se imagina trabalhando como bibliotecário?”. Juro que comecei a ouvir o som de grilos nas duas primeiras vezes. Fui pego totalmente de surpresa. Apesar de já ter refletido sobre isso algumas vezes, graças aos meus colegas de sala, nunca havia chegado a um consenso, um denominador comum que pudesse desanuviar o aspecto turvo que tal pergunta sempre me remeteu.

Já houve vezes em que a resposta sairia com um “sim” quase inconseqüente, sem um diagnóstico pormenorizado; em outras, contando com o auxílio de uma apreciação prévia do assunto, o retorno seria um “talvez”, seguido de ressalvas tão contraditórias que me perseguiriam por grande parte do curso (como realmente aconteceu! rs), me deixando ainda mais confuso sobre a minha “decisão” de ter assinalado Biblioteconomia no meu comprovante de inscrição para a Fuvest.

Vocês devem estar muito curiosos para saber qual (is) foi (ram) a (s) minha (s) resposta (s) para essa questão vital, responsável por reger toda a minha malograda vida acadêmica. Agüentem mais um pouco, afinal, meu curso tem sido um tema tão constante nesse blog (até parece!) que falar sobre minhas imprecisões com relação a ele já está se tornando praxe.

Coloquem-se no meu lugar: e se vocês fizessem um curso que é visto ainda ancorado a idéia de todo e qualquer serviço relacionado a uma biblioteca, pouco conhecido e divulgado, de fácil picaretagem e traumática assimilação acadêmica, com constantes reflexões associadas como infrutíferas, o que vocês responderiam? Calma, não respondam ainda! Somem tudo isso que já “disse” ao fato de não ter sido uma escolha sóbria, refletida com base em anos e mais anos de testes vocacionais, mas sim, uma opção reflexiva, selecionada ao acaso sem um embasamento e/ou pensamento futuro.

A verdade, é que não soube o que responder nas duas primeiras vezes em que fui questionado. Na terceira sabatinada, apenas disse, secamente, que não. Até ensaiei uma piada violeira, remetendo às minhas lembranças sobre uma ilustre (!) formanda de biblio, só para não parecer arrogante ou indeciso.

Porém, na quarta vez, não enrolei muito e simplesmente disse: "ah, se arrependimento matasse..."


H (desistir agora não dá mais!)

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Antes de começar



Antes de começar o post propriamente dito, gostaria de dedicá-lo a mocinha que me atendeu na perfumaria que vou de costume. Lembro-me que nas primeiras vezes que estive por ali, era tratado por “rapaz”; de alguns anos para cá, recebia, meio a contragosto, um malfadado “Pois não, moço?”; Contudo, o que parece impossível aconteceu e, domingo, quando adentrei o recinto, fui recepcionado com um “Posso ajudá-lo, senhor?”.

Certo que a menina parecia ter metade da minha idade (e olha que eu tenho 26!) e só estava sendo educada. Mas, poxa vida, SENHOR??!! Como é estranho percebermos que estamos envelhecendo mais rápido do que gostaríamos. Ou melhor, acho que ninguém gostaria de perceber essas coisas.

Existem aqueles falsos moralistas que dirão “não diga ficar velho.. diga ganhar experiência”. Desculpem-me, mas não consigo ser tão hipócrita assim! Concordo sim com o caso do ganho de experiência. Porém, de que ele adianta se os mais velhos (e não me refiro só a terceira idade!) não são mais respeitados nesse país?!

Há muito tempo que vejo pessoas perfeitamente saudáveis tomando lugares reservados em ônibus, metrô, trem e, quando uma pessoa que tem direito de se sentar ali, os indivíduos que já estavam simplesmente a ignoram. Ou pior, fingem que estão dormindo.

Esse não é o único, muito menos o mais lastimável, motivo que me faz ter medo de envelhecer. Talvez ter medo não seja o termo exato. Na verdade, o que eu temo mesmo é o fato de, um dia, chegar ao ponto de não vislumbrar mais um sentido para a minha vida, não possuir mais aquele ânimo característico que me permita enxergar as várias escolhas que a vida me disponha.

Medo de chegar o momento onde me restará apenas uma alternativa: esperar pela morte. Como o personagem do Morgan Freeman no início do filme “Antes de Partir”, que assisti com a Bequinha no último sábado. Medo de não encontrar uma persona como o Jack Nicholson quando eu mais precisar...


H (envelhecer.. para quê?)

sábado, 19 de setembro de 2009

A real duração das coisas



Se existe uma frase mais idiota e clichê para começar esse post, é "nada dura para sempre". Tão idiota e verdadeira que, só agora que acabo de escrevê-la, percebo o labirinto sem saída no qual me meti.

Claro que no início tudo são flores. Talvez até uma dúzia.. rs Provavelmente, porque o momento era propício para tal ocorrido. E quero que fique bem claro que não estou diminuindo e/ou excluindo a sua importância perante esse tempo transcorrido de maneira tão simples e benéfica.

Muito pelo contrário, quero que esse post sirva, simultaneamente, como um agradecimento e um "até breve" sem ressentimentos.

Porém, como já disse, tudo tem um fim. O porquê talvez seja uma tentativa de entendimento (normal) que buscamos para algo improvável de explicar. Sabemos do seu motivo muitas vezes inexistente. E, mesmo assim, por outras vezes (e erroneamente!), insistimos no seu martelar.

Talvez porque essa é uma das características mais palpáveis da convivência social humana desses últimos séculos: se explicar, seja para bem ou para o mal. Mas tente entender: do mesmo modo que a sua duração é desconhecida e, ao mesmo tempo finita, o motivo do fim pode ser inexplicável e, conscientemente, inevitável.

Às vezes, quando consigo olhar para além de mim, vislumbro que, acertadamente, as coisas foram feitas para não nos pertencerem por muito tempo. Afinal, o apego exagerado desconhece limites e, em contrapartida, impõe barreiras que acabam por asfixiar aquilo que, por natureza, foi feita para existir, sem grades ou amarras.. somente livre.. e em todos os lugares.

Um amigo dizia que, enquanto a paixão era responsável por assinar uma receita, apenas uma amizade é capaz de escrever um livro. Portanto, deixemos que esse dia fique marcado por finalizar a receita de um dia feliz, e comece a registrar o início de uma nova amizade.. com direito a capa dura e milhares de páginas.


H (cada um é aquilo que o seguinte não pode ou consegue ser..)

* Imagem retirada do blog Crônicas Urbanas

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Diretores - Elia Kazan


"Pegadas na areia do tempo? Bobagem! Amanhã irá chover". [E. K.]

Nascido Ilías Kazantzóglu, em 7 de setembro de 1909, na antiga Constantinopla (atual Istambul), filho de imigrantes gregos, mudou-se para os EUA em meados da década de 1910, ainda criança.

Instalando-se em Nova Iorque, seu pai, George Kazantzóglu, se tornou um respeitável comerciante de tapeçarias e esperou que o filho assumisse os negócios assim que terminasse seus estudos. Porém, contrariando seu pai e seguindo mais o conselho de sua mãe, Athena (que lhe dizia para seguir seus próprios sonhos), assim que terminou seus estudos básicos, Elia Kazan decidiu fazer arte dramática na Universidade de Yale.

Durante a década de 1930, atuou em inúmeras peças de sucesso da Broadway. E, como uma coisa leva a outra, na primeira oportunidade que teve, lançou-se como diretor de teatro. Seu prestigio saltou da Broadway, chegando até Hollywood, quando as portas se abriram para ele dirigir seu primeiro longa, "Laços Humanos" (1945). Seu destaque foi discreto, tanto em público quanto em crítica. Porém, dois anos depois, surge sua primeira grande produção: "A Luz é para Todos". Como uma história girando em torno do anti-semitismo da recém terminada Segunda Guerra, o filme acumulou premiações, recebendo 8 indicações ao Oscar® e faturando 3 estatuetas.

Em 1951, Elia Kazan fez o que parecia improvável para a época: dirigiu, ao mesmo tempo, a peça "Uma Rua Chamada Pecado" e sua adaptação para o cinema. No filme, Elia pessoalmente escolheu para o papel de protagonista um ator até então pouco conhecido, mas que, segundo o próprio diretor, parecia ter nascido para interpretá-lo: Marlon Brando (foto, ao lado do diretor).

Estava formada uma das parcerias mais premiadas do mundo cinematográfico. Juntos, fizeram ainda “Viva Zapata!” (1952) e o grande sucesso da carreira de Kazan, “Sindicato de Ladrões” (1954).

Aliás, esse último, marca, talvez, a maior contribuição que o diretor deixou de herança para o cinema. A criação de um novo subgênero para a arte: o mocinho delator. Vale a explicação:

No começo da década de 1950, quando foi perseguido pelo Macarthismo (movimento de perseguição e repressão anticomunista, instaurado pelo senador Joseph McCarthy), Elia Kazan que, de 1934 a 1936, havia participado do partido comunista nacional, resolveu “entregar” alguns de seus colegas dos tempos da Broadway. Conversando com seu grande amigo da época (Arthur Miller), Kazan disse que não tinha outra opção se quisesse continuar na carreira que havia escolhido. Afinal, a Twentieth Century Fox já tinha dito que fecharia as portas a ele caso as denúncias do Comitê de Atividades Anti-americanas fossem mesmo confirmadas.

Logo, o nome do diretor virou sinônimo de “Judas” dentro dos universos do cinema e do teatro. Restavam-lhe poucos amigos e raríssimos atores de calibre aceitavam trabalhar com ele. Mas Kazan teve uma idéia assim que começou a conversar com Malcolm Johnson e Budd Schulberg sobre o roteiro de seu próximo trabalho: virar a mesa.

Muitos ficaram indignados quando viram o filme (o já citado “Sindicato de Ladrões”) se transformar no grande “papa-estatuetas” do Oscar® de 1955 (das 12 indicações que teve, levou 8 prêmios). O filme conta a história do ex-boxeador Terry Malloy que trabalha como estivador no porto de Nova Iorque. Ele faz parte da turma que dá sustentação ao sindicato que domina a corrupção no porto. É considerado um vagabundo, um inútil que nada sabe além de usar sua força. Perdeu a grande chance de ser campeão em sua época porque seu irmão havia apostado alto no adversário e obrigou-lhe a perder a luta. Quando o sindicato resolve dar um susto em um homem que tentou delatá-los a justiça, Terry é usado para atraí-lo, mas os planos do sindicato de liquidá-lo não eram os imaginados por Terry que não gostou da morte do amigo. Edie, irmã do homem assassinado, busca provas para encontrar o assassino do irmão e Terry engraça-se com ela. A convivência entre os dois e outros acontecimentos fazem Terry questionar seus valores morais e suas atitudes. Daí surge uma das melhores frases (minha modesta opinião!) já pronunciadas na telona: “Você não entende! Eu poderia ter classe. Eu poderia ser um lutador. Eu poderia ter sido alguém, ao invés de um vagabundo, que é o que eu sou”.

Porém, a sina continuou a persegui-lo. Tanto que, em 1999, quando a Academia de Artes Cênicas decidiu premiá-lo com um Oscar® Honorário por sua contribuição a sétima arte, muitos dos atores presentes naquela noite mantiveram-se sentados, de braços cruzados, ou com feições de nítida repulsa pela escolha. Outros artistas, como Sean Penn e Richard Dreyfuss, vieram a público declarar sua oposição pela escolha da Academia.

Culpado ou não, a verdade é que Elia Kazan foi o estrangeiro que melhor conseguiu traduzir as várias faces da vida americana. Uma vida da qual ele foi vítima e protagonista, porém, nunca um coadjuvante. Morre em 28 de setembro de 2003, na cidade de Nova Iorque.

Alguns de seus filmes que eu recomendo:

* Laços Humanos (1945)
* A Luz é para Todos (1947)
* Uma Rua Chamada Pecado (1951)
* Sindicato de Ladrões (1954)
* Vidas Amargas (1955)
* América, América (1963)
* O Último Magnata (1976)


H (Judas ou não, cada filme vale ser visto mais de uma vez..)

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Auto-história: o pioneiro velhinho japonês



Os carros antigos originários do Japão nunca foram um atrativo para mim. Porém, hoje, gostaria de falar sobre um que, de tão longínquo, chega a confundir-se com a própria marca a que está ligado.

Até o fim da década de 1940, os carros produzidos em solo nipônico não passavam de meras reproduções (algumas, bastante grotescas!) dos beberrões norte-americanos. Não demorou muito para eles perceberem que, pelo menos nessa questão, a imitação não era o melhor caminho.

Assim, em 1955, a Toyota, maior montadora japonesa da época, lança o que seria um experimento para o segmento de táxis: o Crown (coroa em inglês). Apesar de ser o primeiro totalmente voltado para o público nipônico (entenda-se, baixa potência, velocidade e consumo), percebe-se no nome as futuras intenções da montadora. Mesmo com o excesso de cromados na parte dianteira, as suas linhas arredondadas e a grande distância entre-eixos (2,53m), garantiram um sucesso estrondoso de vendas no mercado interno.

Talvez um pouco deslumbrada demais pelo recorde de vendas no dois anos anteriores, a direção da montadora decidiu que aquela seria a hora de alçar vôo para o território norte-americano. Em 1957, a Toyota resolver promover o Crown num tipo de maratona automobilística, indo de Los Angeles até Nova Iorque (quase 4.000 km!). O resultado?! Um desastre! Antes mesmo de chegar a Las Vegas, onde seria recebido com toda a pompa, a maratona foi cancelada.

Mas, o que tinha acontecido? Infelizmente, pela primeira e última vez, os japoneses cometeram um erro por falta de planejamento. Descobriram a duras penas que o Crown, feito para as ruas pouco pavimentadas e o trânsito moroso de seu território, não tinha a menor chance contra as freeways e o trânsito rápido dos EUA. Sem contar que um motor de 4 cilindros nunca conseguiria concorrer com a febre dos V8 que reinavam naquela década.

Acabou servindo de lição. E, já na sua segunda geração, a partir de 1962, o Crown trazia um ar mais americano, lembrando muito o Ford Falcon, com suas linhas retas, faróis dianteiros arredondados ligados pela grade cromada que tomava quase toda a frente do carro, além da traseira baixa e lanternas horizontais.


Mas as novidades não pararam por aí. De 1964 a 1967, foi fabricado o Crown Eight, o primeiro carro japonês com motor V8, de 2,6 litros, 115cv e 170km/h de máxima. Media 4,72m, com entre-eixos de 2,74m. Muitos dizem que foi o melhor Crown já produzido.

Em 1972, com a chegada da quarta geração, a dianteira do carro foi toda modificada: dividida em duas partes, trazia, acima, um pequeno ressalto destacava as luzes de direção; abaixo, vinham os dois pares de faróis ligados pela grade, além de um pára-choque envolvente, geralmente na cor do carro. O motor, apesar de voltar ao 6 cilindros, entregava 131cv de potência. Essa quarta geração também marcou a volta do modelo aos EUA, pegando uma carona no sucesso do Toyota Corona (coroa, em espanhol! rs). Porém, inexplicavelmente, a tentativa mostrou-se novamente um fracasso.

A quinta geração, de 1974 a 1979, foi responsável pelo primeiro carro nipônico com motor a diesel (de 2,2 litros) e o primeiro Crown com direção hidráulica.

Mesmo chegando a sua 13ª geração (apresentada no ano passado), demonstrando um sinal de grande sucesso no mercado interno e regional (até hoje, os táxis de Hong Kong e Cingapura são da 10ª geração, de 1995 a 1998), o Crown não conseguiu repetir em solo americano o mesmo prestígio que seus “primos” Corona e Corolla.

O verdadeiro motivo ninguém sabe. Com suas recentes reformulações, muito mais ao gosto europeu, apenas podemos esperar que muitas outras gerações virão, dando ainda mais experiência a esse cinquentão japonês.

Na telona, o Crown ficou muito mais reservado a produções locais, como seriados e filmes “B” japoneses. Porém, ele também conseguiu chamar a atenção de Hollywood: em 007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro (1974), vê-se um modelo de 1963; No filme Chuva Negra (1989), do diretor Ridley Scott, ambientado na cidade de Osaka, numa das sequências de perseguição, o veículo que a polícia da cidade utiliza é um Toyota Crown 1977.


H (se eu pudesse, teria um de cada geração)

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Momento poesia XXVI



Moraliza o poeta nos ocidentes do Sol a inconstância dos bens do mundo


Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.

Porém se acaba o Sol, por que nascia?
Se formosa a Luz é, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?

Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.

Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.

(Gregório de Matos)


H (salve a santa ignorância nossa de cada amanhecer)

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Uma verdade de cada vez



Uma viagem extracorporal, segundo explica a corrente espírita e até a astrológica, é a percepção de projeção da consciência para fora do corpo, muitas vezes ocorrida como resultado de um grave acidente e/ou algum tipo de trama. Muitas pessoas que vivenciaram o fato relatam como principais características a sensação de estarem flutuando e verem nitidamente a si próprios, inertes.

A minha primeira viagem extracorporal (se assim posso chamá-la) aconteceu quando eu tinha 13 anos. Tinha acabado de me mudar para aquele porre de cidade, deixando para trás tudo aquilo que sabia e/ou estava começando a aprender. Detestei meus pais de todas as formas possíveis por estarem me forçando àquilo.

Numa das primeiras noites na nova casa, logo depois de terminar uma carta (quanto tempo não faço mais isso!) que iria mandar para uma das minhas amigas que ficaram, desejei muito estar de volta. Na verdade, desejei estar em qualquer lugar, menos ali. Aconteceu poucos instantes depois que deitei na cama.

Muitos dirão que foi um sonho. E não recrimino quem pensa dessa forma. Nas primeiras vezes também pensei a mesma coisa. Porém, uma coisa ainda me intrigava: aquela sensação de leveza, de sentir realmente que aquilo, por mais incrível que parecesse, estava acontecendo.

Eu via meu corpo deitado e, mesmo assim, andava pela casa, ia até a varanda. Apesar de acontecer algumas vezes, raramente ocorria durante a noite. O rotineiro era mais na parte da tarde, quase sempre quando eu estava distraído com algo (TV ou livro).

Em uma dessas vezes, assim que passei pela porta da cozinha, reparei que estava tudo muito diferente do habitual. Uma moça e uma criança tomavam café da manhã enquanto, do quintal, um senhor as observava, sentado numa cadeira de balanço. Nem precisei chegar mais perto para me reconhecer.

Após essa vez, passei um bom tempo sem tê-las. Até ontem para ser mais exato. Enquanto estava tirando meu cochilo na ida para a faculdade, novamente pude me sentir ali, de pé, observando a mim mesmo. Poderia ter ido para qualquer lugar, descido em qualquer ponto. Porém, fiz o que me deu vontade naquele momento: me sentei ao lado do meu “corpo”, retirei um dos fones para apreciarmos a mesma música e disse bem baixinho “você está ficando careca muito rápido”. Despertei logo em seguida, com essa frase na cabeça.. e um dos fones caído, no meu ombro.


H (mais estranho é quem me diz..)

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

A banalização das relações humanas



Luis Cláudio e Mariana se conheceram numa tarde chuvosa de julho de 2000. Numa sala de bate-papo de um grande portal da web.

Ambos estavam de férias e entediados devido a chuva que insistia em cair naquela semana. Não havia nada para se fazer, a não ser navegar na internet.

Ele era estudante de engenharia e ela, de odonto. Ele tinha 23; ela, 21. Ele já estava habituado àquele ambiente. Ela, participava pela primeira vez. Entraram, respectivamente, como Ludi_23/sp e Mary.79. Ele tomou a iniciativa. Conversaram durante a tarde toda. Trocaram e-mails.

Ficaram se correspondendo por duas semanas até decidirem marcar o primeiro encontro.. não-virtual. Ele se apaixonou na hora. Ela gostou, porém, com ressalvas. Nos três meses seguintes, ficaram trocando e-mails diariamente. Ele a pediu em namoro através de uma telemensagem; ela, aceitou com um torpedo no celular.

Seis meses depois, quando ele precisou viajar por causa do trabalho, resolveram criar um blog juntos, para postarem fotos e declarações de amor. Além disso, se falavam pelo MSN todo fim de semana. Inclusive, foi através dessa ferramenta que, no final de 2002, ele a pediu em casamento. Ela aceitou, entre lágrimas e soluços, com um beijo na webcam.

Todos os convidados, padrinhos inclusos, foram notificados por e-mail, no qual já se encontravam os links de três sites com a lista de presentes e exigia confirmação imediata do seu recebimento.

Tudo relacionado ao casamento e a festa, foi escolhido pela web. Desde a igreja até a decoração e o buffet. As passagens para a lua-de-mel?! Compradas com desconto no site de uma grande (?!) companhia aérea, com direito a check-in virtual.

Para o financiamento da casa, mobília e do carro, Luis Cláudio resolveu tudo por telefone com o gerente do seu banco. Mariana fez uma simulação de decoração da casa num site especializado. Gostou tanto do resultado que o contratou com um clique.

Em 2006, para comemorar as bodas de couro do casal e tentar reavivar o relacionamento, Mariana sugeriu criarem um perfil conjunto no Orkut. Ele ensaiou uma negativa, mas acabou concordando. Adicionaram amigos, incluíram fotos e vídeos de viagens.

Nos dois anos seguintes, a relação se desgastou bastante. Quando ele saía para o trabalho, ela ainda estava dormindo; e, quando chegava à noite, ela já estava na cama. Falavam-se mais por vídeo-chamada e SMS do que pessoalmente. Na verdade, para ele, ela cada vez mais estava ficando gorda, igualzinho a sua sogra. E, para ela, ele estava cada vez mais ficando careca e monossilábico, igualzinho ao seu pai.

No final de 2008, Mariana descobriu que ele mantinha um perfil pessoal no Orkut. E pior: repleto de perfis de mulheres, além de recadinhos com números de telefone e e-mails. Na certeza de que ele a traía, Mariana resolveu colocar alguns vídeos de suas aulas de dança do ventre no YouTube. Quando ele descobriu, por meio de um amigo, ficou horrorizado. Se não a traía antes, decidiu que aquela era a deixa.

Há quatro meses, Mariana interceptou uma mensagem muito comprometedora que a amante de Luis Cláudio mandou no celular desse. Foi a gota d’água! Pela webcam, no seu escritório, Luis Cláudio tentava, em vão, se explicar.

Hoje, já não mais dividindo a mesma cama, eles se preparam para ser um dos primeiros casais a "experimentar" o divórcio via web.

E onde mais vocês acharam que essa história iria terminar?!


H (acreditem ou não, isso aconteceu..)

Drummond: Taí a resposta de José.


Quando fazia cursinho pré-vestibular, toda vez que estudavamos os poemas de Drummond, não podia deixar de mencionar um dos mais importantes destes "José".
Por meu nome ser José (José Ricardo), os alunos que ali estudavam me pergutavam: "E agora José?". Sinceramente, gostava da brincadeira, tanto que fiz um poema respondendo de uma maneira crítica a versão do José personagem do Carlos Drumond de Andrade.


E agora José?
O emprego cabô, seu dinheiro gastô, o limite estorô, seu nome rodô.
E agora José?
Sua muié qué, seu filho também pena que dinheiro não tem.
E agora José?
O aluguel atrasô, para morro voltô, trabalho ainda não achô.

Deixa essa arma José!
Aonde cê vai José?
Não José, não entra na padóca.
Larga esse leite José, solta esse pão.
Você não tem dinheiro não!
Não reage José, não mata o português.

E agora José?
Apanhou de outros Josés, foi cuspido por vários manés, xingaram sua muié.
E agora José?
Tá muito lotado, dormi agora só em pé.
Banho gelado, comida estragada José!
E agora José?
Não chora, não chora José!

sábado, 5 de setembro de 2009

Diretores - David Lynch



Idéias são como pescar: você precisa de isca e anzol. Se você quiser pegar um peixe pequeno, você não precisa ir muito longe. Por outro lado, se quiser pegar um peixe grande, você tem que ir mais fundo.”[D.L.]

David Keith Lynch nasceu em Missoula, uma cidadezinha do noroeste dos Estados Unidos, em 20 de janeiro de 1946. Filho de agricultores, teve uma infância nômade pelo interior do país. Influenciado por isso, pelas belas paisagens que viu e, principalmente, depois de conhecer o pai de um amigo que era pintor profissional, Lynch começou a nutrir o sonho de se tornar um. Assim que terminou os estudos básicos, especializou-se sobre o tema numa academia de arte.

Em busca de maiores inspirações, largou o curso e fez uma viagem de quase 2 anos pela Europa Ocidental. Quando voltou, resolveu retomar os estudos, entrando na Academia de Belas Artes da Pensilvânia. Em 1967, casou-se com uma colega de curso, com quem teve sua primeira filha (a também diretora, Jennifer Chambers Lynch).

Reza a lenda que sua aproximação com o cinema se deu numa experiência que teve quando, ao observar um de seus quadros, ouviu o vento soprar, e era como se a folhagem na pintura estivesse se movendo. Percebeu, assim, a maior limitação das artes plásticas (a imobilidade). Decidiu, então, incluir movimento em seus quadros, e, em 1966, fez seu primeiro curta de animação, “Six Figures Getting Sick”, onde seis cabeças esculpidas por ele aparecem vomitando 6 vezes seguidas. Em 1971, começou a trabalhar na produção de seu primeiro longa-metragem, “Eraserhead” (1977). E não foi tarefa fácil, tomando seis anos de sua vida para a sua conclusão, além do final de seu casamento. Muitos enxergam nesse filme uma história autobiográfica, que mistura o tão famoso mundo bizarro de Lynch com a arte do stop-motion.

Entre o público que o filme atraiu (pouco mais de meia dúzia.. rs), estava o produtor Mel Brooks. Este já estava há um bom tempo querendo produzir um filme baseado numa história real, porém, não conseguia encontrar o diretor perfeito para a película. As idéias que surgiram a partir das conversas entre Lynch e Brooks, fez esse último desistir de creditar seu nome da produção (com medo que sua fama de comediante desse às pessoas a impressão errada sobre o filme). Impossível dizer se essa atitude influenciou ou não no sucesso que “O Homem Elefante” conseguiu atrair em público e crítica. Indicado a oito Oscar® (inclusive o de Melhor Diretor), conta a história real de John Merrick, um homem na Inglaterra vitoriana nascido extremamente deformado, e usado como aberração circense.

Seu próximo trabalho (a ficção-científica “Duna”, de 1984) foi um fracasso. Porém, Lynch foi esperto: ao fazer o contrato de “Duna” com seu produtor, Dino de Laurentis, ele concordou apenas caso a produtora bancasse seu próximo filme, e lhe desse total liberdade de produção. Dessa segunda parceria dos dois, nasceu o filme que botou por definitivo a carreira do diretor nos holofotes: “Veludo Azul”. Tendo como cenário uma das óticas preferidas do diretor (uma calma cidadezinha interiorana), conta a história de Jeffrey, um pacato cidadão de uma aparente perfeita cidade que, ao descobrir num descampado uma orelha humana, se vê cercado pelo submundo do crime que habita a cidade, indo de encontro ao psicopata Frank e à cantora Dorothy. Todo o sucesso do filme rendeu-lhe sua segunda indicação à Melhor Diretor no Oscar®, e começou aqui sua eterna parceria com o compositor Angelo Badalamenti.

Quatro anos depois, David Lynch foi convidado a fazer um seriado de televisão nos mesmos moldes de seu último filme, e, numa perfeita parceria com o roteirista Mark Frost, surge “Twin Peaks”, um seriado que se tornou amplamente cultuado e redefiniu o conceito de programa televisivo. Aqui temos novamente a cidade de interior, localizada na fronteira oeste dos Estados Unidos com o Canadá. Tudo começa quando é encontrada morta Laura Palmer, adorada garota da cidade e líder de torcida, embrulhada em plástico e com sinais de estupro e uso de drogas. Isso leva à cidade o agente do FBI Dale Cooper para investigar o caso, e lentamente percebemos que todos na cidade têm algo para esconder. Lynch dirigiu apenas o primeiro episódio, já que estava entretido na produção e divulgação de seu novo filme.

Em 1990, apresenta “Coração Selvagem”, uma adaptação do livro homônimo de Barry Gifford. No ano seguinte, o filme é exibido no Festival de Cannes e recebe a Palma de Ouro®. A partir daqui, o diretor entra numa jornada de idas e vindas, entre Estados Unidos e França, lançando trabalhos, ao mesmo tempo, cultuados e severamente criticados.

Há quem diga que Lynch não é um diretor de cinema, e sim um artista que se utiliza do meio cinematográfico para se expressar. Não que não seja verdade, mas suas obras, até pelo seu passado artístico, são bem mais profundas do que aparentam.

Não chegam a ser obras surrealistas por completo. O que temos em Lynch é uma constante busca pela imagem arrebatadora e inesquecível, cuidadosamente trabalhada, e que, por vezes, utiliza-se do surreal e do obscuro para causar impacto, e fazer-nos entrar no clima.

Quem quiser saber mais sobre o artista David Lynch, pode acessar o seu site aqui.

Alguns de seus filmes que eu recomendo:


H (demorou, mas ele saiu!)

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Ao melhor ser de todos os seres



Um dos mais antigos lugares-comum que existe diz que "uma andorinha só não faz verão". Junte a esse o tão antigo quanto "a união faz a força" e você saberá o que aconteceu nesse mais recente terça-feira (1º de setembro).

Para algumas pessoas (eu incluso!) a comemoração de mais um ano de vida não chega a ter aquela graça característica dos anos de ouro para realmente ser levada ao pé da letra. Inclua aí os gastos, aquela tarefa quase sempre inglória de, primeiramente, se lembrar de todas as pessoas que gostaria de chamar, e, depois, mandar e-mail a todos, mesmo tendo a certeza que boa parte nem se dará ao trabalho de lê-lo.

Abrirei um parêntese aqui (só um momento de graça): no aniversário mais recente da minha "véia", quando fui cumprimentá-la, ela já foi falando "nem precisa me desejar parabens!"; "mas por que, mãe?!"; ela se sentou e, depois de soltar um suspiro disse "porque eu estou cansada de fazer aniversário!" rsrs

Bom, passado o momento piada, voltemos a nossa programação: como todos sabem, existem pessoas e pessoas. E, como só a biblioteconomia poderia exigir, temos esses seres exclusivos, de atitudes únicas, inimitáveis da unha do dedão ao pensamento mais obscuro. Entre eles, não querendo minimizar ninguém, posso destacar (sem sombra de dúvidas!) o melhor de todos: senhorita (por enquanto! rsrs) Luciana Meira (foto).

Esse "ser" iluminado acabou de completar mais uma volta em torno do Sol. Quantas, ao todo?! Sinceramente não sei. Mas, quando se trata de Luciana Meira, isso não importa. Como diz aquele ou lugar-comum, ela "é igual ao vinho; fica cada vez melhor com o passar do tempo" ;)

Só ela para conseguir juntar uma turma de biblio tão diversificada. Com suas piadas e imitações, frases de efeito e gestos (!!!) de maiores efeitos ainda.

Conheci essa maravilha no meu 2º semestre do curso e, quatro anos depois, minha admiração e pseudo-paixão por ela só aumentaram. Infelizmente, as pessoas não agem mais assim, com uma espontaneidade simples, capaz de cativar até os "patrimônios" do nosso alfabeto (rsrs).

Para finalizar, só posso dizer: obrigado, Lu! Como já havia lhe dito, momentos como esse são os responsáveis por deixar meu astral nas alturas.. mesmo com escolha de mão! rs

H (que morango gostoso! rs)

terça-feira, 1 de setembro de 2009

No meu tempo



Os ponteiros do relógio da vida, são sensacionais. Dos poucos 27 anos que tenho, vivi intensamente o suficiente para ter milhares de histórias. Não preguei o "paz e amor" dos hippies, mas, curti os Beattles; não participei da revolução da juventude de 1968, mas, colhi seus frutos de liberdade; não participei do "Diretas Já", mas, com 16 anos votei pela primeira vez. Vivi (e vivo) um mundo conquistado, mas, ainda cheio de preconceito. Lembrar é muito bom e lembro da minha pré-escola, do tênis Kichute (um misto de tênis com chuteira), do short vermelho e a camisa branca que minha mãe colocava. Já na terceira série, lembro da professora Brígida, a mais rígida professora daquela escola e de uma criança que virou anjo cedo Adeildo (in Memorian) que teve a chance de me dedurar uma falsificação de assinatura que fiz da minha mãe em um bilhete da escola. Briguei querendo ser o "Jaspion", chorei no filme "A História Sem Fim" quando o cavalo do Atraiú fica atolado na lama, quebrei a janela da igreja com estilingue (foi sem querer), me apaixonei e desapaixonei centenas de vezes na adolescência. Hoje, além das lembranças, tenho amigos que todas as vezes que nos encontramos não tem como não dizer "Você lembra...?"; é, nos ponteiros da vida não há tic tac, é um silêncio que quando você vai ver... já passou. Por falar em amigos, graças a um deles tenho o prazer de postar uma idéia, uma lembrança, uma saudade. Meu amigo master com o nome de herói grego: Agamenon. Meu amigo desde a pré-escola, que estudou com a professora Brígida junto comigo e que, com tantas, brincou de Jaspion. Obrigado pelo convite meu amigo.


* Imagem retirada daqui