quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Top 10 músicas que mais ouvi em 2010


Mais um Top. Quem lê, pensa que minha vida inteira deve girar em torno disso. Uma meia-verdade, posso dizer seguramente.

A verdade é que me divirto muito com essas classificações e meditações até o resultado final. Como um bom bibliotecário, que nunca serei, fico levantando limitações, qualidades, preponderando prós e contras.

Esse ano de 2010 foi, disparado, aquele em que ouvi mais música e de forma mais diversificada. Relembrei clássicos, aceitei indicações de amigos e ‘parentes’, segui dicas de sites e blogs. Além, é claro, das trilhas de alguns filmes que assisti durante o período.

Dando continuidade à ideia lançada em janeiro passado, esse é o primeiro (de um número ainda incerto) post em formato retrospectiva que escrevo: o “Top 10 músicas que mais ouvi em 2010”. Espero que vocês gostem da seleção tanto quanto o meu celular (pseudo MP3). Fiz pequenas contextualizações que julguei necessárias para cada música.

Como de costume, cabe fazer algumas ressalvas: 1) nenhum artista, apesar de ter acontecido e, isso eu explicarei a seguir, se repete; 2) tentei ao máximo não ofender (ou mesmo citar) pessoas e eventos durante as explicações; 3) pelo grau de dificuldade durante a escolha, inclui algumas ‘menções honrosas’ no final do post. Segue a lista:


10) The Strokes – I’ll try anything once

Confesso que não gosto dessa banda. Desde a longínqua ‘Last Nite’, nunca tinha ouvido sequer falar sobre eles. Logo, essa música só está aqui porque faz parte da trilha sonora de um dos melhores filmes que vi, na 32ª Mostra de Cinema: ‘Um Lugar Qualquer’ (Somewhere), da diretora Sofia Coppola. O filme em si é tão parado quanto ‘Encontros e Desencontros’, da mesma diretora. Mas ele me fez refletir sobre o tédio de estarmos, quase sempre, em lugares e/ou situações que não nos agradam. E é isso que essa música me faz sentir quando a ouço.




9) The Stereophonics – Maybe Tomorrow

Há uns dois anos atrás, a dona de um blog que acompanho, ao comentar um post meu, indicou essa canção como vertente aquilo que havia escrito. Gostei tanto que fui a caça de outras da mesma banda. Porém, essa ainda é a minha favorita (deles) por um motivo bem parecido com a citada anteriormente: o tédio, a sensação de estagnação perante suas próprias decisões.




8) Mike and the Mechanics – Over my shoulder

Desilusão amorosa é foda. E quando você se declara para a outra pessoa então, não recebendo uma resposta equiparada em troca?! Aí é descer ao nível mais obscuro da patética trajetória de uma vida. Onze anos atrás, época da minha primeira paixão adolescente, eu me senti assim. E, em 2010, mais precisamente no segundo semestre, aconteceu tudo outra vez. As semelhanças foram gritantes! Vi-me novamente como um lixo, sem objetivos por almejar. Cheguei ao ponto máximo de recordar a música de fossa que me fez afundar ainda mais no poço do meu desencanto.




7) Oasis – Wonderwall

Antes de 2010, nem consigo me lembrar qual foi a última vez que tinha ouvido essa música. Não sou do tipo que gosta de bandas (com raras exceções). Curto música, sonoridade, independente do intérprete. Oasis é uma dessas raríssimas exceções. E ‘Wonderwall’ foi, durante o bimestre agosto/setembro, TODA minha playlist. Desde então, não consegui mais ouvi-la. Até hoje, claro.. rs




6) The Beatles – Get back

Apreciar o som dos Beatles é algo que agradeço a minha mãe. Fora ‘Twist and shout’, que tomei conhecimento quando assisti ‘Curtindo a vida adoidado’, nenhuma outra canção deles havia me chamado atenção. Até surgir a memória bem calibrada da minha velha. Inclusive, ‘Get back’ poderia ter outras parceiras nesta lista. Mas, daí, não sobraria espaço para as demais músicas.. rs




5) Beady Eye – Bring the light

Como eu disse no início do post, nenhuma banda poderia se repetir. Porém, não tive como deixar Liam Gallagher de fora, tanto com sua antiga banda (Oasis), quanto com essa sua nova empreitada. Esse primeiro single, lançado em meados de outubro, já deixa claro que o grupo irá se basear na sonoridade do rock dos anos 50. Se isso não basta para explicar o porquê da 5ª colocação, que tal isso: ‘Bring the light’ é foda pra carai..!




4) Cee Lo Green – It’s ok

Esse foi indicação de blog. Graças ao Chongas, tomei conhecimento dessa música que logo virou chiclete. Talvez pelo próprio momento.




3) AC/DC – It’s a long way to the top (if you wanna rock and roll)

Aprendi a tocar bateria aos 16 anos. Em 2000, juntamente com 4 amigos, participei de uma dessas BG (banda de garagem), só para preencher as tardes e se achar alguém importante. Na verdade, era só pretexto para beber, fumar e, assim, fugir do mundo. Pois bem, em 2010, retomei contato com um colega dessa época. Entre várias recordações, surgiu essa ‘obra de arte’ do AC/DC, a primeira música que tocamos minimamente bem. Ouvi-la repetidas vezes teve um efeito revigorante, fazendo-me relembrar alguns fatos dessa tenra idade que julguei ter enterrado para sempre.




2) Ray Charles – What’d I say

Como pseudo-baterista, sei muito bem reconhecer minhas limitações. E uma delas é nunca ter conseguido acompanhar a batida do baterista nessa música do Ray Charles.




1) Miike Snow – Song for no one

Taí outra música que tomei de indicação do blog Chongas. Depois de ouvi-la, tudo me parece mais calmo. Desde setembro, tem ficado entre minhas preferidas. Aliás, não foi a única do Miike Snow que apreciei nesses últimos meses, destacando também a viciante ‘Black & blue’.




Menções honrosas:

* Trilha do filme ‘Whip it’, primeiro da Drew Barrymore na direção. Uma seleção interessante, incluindo Ramones e Radiohead;
* Trilha do filme 'Homem de Ferro 2'. AC/DC na veia!;
* ‘Paradeiro’, da Marisa Monte com participação do Arnaldo Antunes;
* ‘Use somebody’, do The Kings of Leon;
* E, recentemente, ‘Little baby pines’, do Sunbears!, que ouvi nessa retrospectiva com os principais filmes do ano.


H (music is everything)

domingo, 26 de dezembro de 2010

Grazie...


Como faço desde 2007, esse meu Natal foi um dia de silêncio. Não uma meditação espiritual ou com qualquer ligação religiosa. Não. Apenas um momento de reflexão pelo ano que passou.

Pois é.. logo eu que, alguns post atrás disse (ou escrevi, sei lá! rs) não acreditar nessa "mística" pausa. Envelhecer realmente não pode fazer bem para ninguém.. rsrs

Bom, não será agora que transcreverei minha retrospectiva e avaliação do ano. Este é apenas meu post agradecimento a todas as pessoas com as quais convivi nesses últimos 365 dias. Conversas, discussões, e-mails, fotos, olhares, momentos, experiências.. enfim, sou grato a todos e todas (sem exceções).

Sei que a música a seguir é por demais brega, mas representa muito bem esse agradecimento.





H (speciale)


* Imagem retirada daqui

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Conversação, metamorfose, aquarela

Metamorfose de Narciso, de Salvador Dalí

Um dia, meu filho, quando você já estiver bem próximo da minha idade, você olhará para essas mesmas lembranças e sentirá falta de tudo relacionado; Porém, e é o mais provável que aconteça, talvez você simplesmente nem as recorde, daí você apenas perceberá que sente falta de algo, sem saber ao certo de quê.”

No feriado mais recente, pela primeira vez eu anos, sentei-me com minha mãe para conversar. Não foi nada programado, até porque, se o fosse, certamente não funcionaria. Mesmo morando juntos todos esses anos, nossas conversas deixaram de ser rotina há pelo menos uma década.

Talvez pelo próprio momento de ambos, foi quase inevitável esse “encontro”. Eu precisava de um “colo” (e minha mãe é ótima pra isso) e ela precisava de dois ouvidos. As palavras brotavam com naturalidade. Mais emotiva do que eu, não demorou muito para ela estar aos prantos. Eu parei de falar. Fiquei ali só olhando para seu rosto já marcado por profundos vincos de sofrimento e auguras. E aqui eu quero abrir um parêntese:

Minha mãe, a primeira de sete filhos, nasceu no interior do Paraná. Perdeu a mãe logo cedo (aos 4 anos) e foi criada pela avó materna. Uma educação rígida: mulher não tinha que estudar; tinha que aprender tudo relacionado ao lar: cozinhar, lavar, passar, cuidar das crianças. O máximo de liberdade que ela conseguiu foram as aulas de costura, isso já com quase 20 anos. Nessa mesma época, surgiu o primeiro pretendente a marido. Ela não o quis. Não queria ficar presa aquela cidade, às lembranças que só lhe faziam mal. Não queria levar uma vida de dona de casa. Tinha o sonho de ser professora. Porém, destino escrito não tem como ser ludibriado. Anos mais tarde, ela conheceu meu pai. Como já estava (segundo a própria) naquela idade crítica onde não choviam tantas opções, resolveu se casar com ele mesmo. E daí já se vão 30 anos como dona de casa. Criando filhos, agüentando desaforos, engolindo revoltas.

Enquanto ela desabafava suas mágoas, eu me perguntava quantas daquelas rugas em seu rosto não eram por minha causa. Quantas noites em claro ou mal dormidas ela não deve ter passado ao meu lado? Quantas vezes foi me defender na escola? E tantas outras coisas que não consigo quantificar agora.. e quando foi que eu lhe agradeci?! Ou, na melhor das hipóteses, tomei conta de sua dedicação?!

Percebi que os meus problemas não passavam de pequenos arranhões perto dos socos e pontapés que a vida já havia lhe dado. Meus olhos ficaram marejados diante de tal sensação. Será que, um dia, serei assim também, frustrado com o rumo que minhas escolhas me levarão?!

Resolvi, a partir daquele momento, parar de transformar meus problemas solucionáveis em obstáculos intransponíveis. Afinal, todos nós temos alguns. É a nossa forma de lidar com cada um deles que nos define.

E eu, nesse ponto, sou um fracassado. Primeiro, porque ainda não aprendi a lidar (satisfatoriamente) com meus problemas, mesmo quando eles se repetem várias e várias vezes. Arrumo fugas e escapatórias mirabolantes (algumas, bem fantasiosas). Tudo porque não tenho coragem de enfrentá-los (os problemas) de frente. Talvez porque fui criado assim: ao menor sinal de perigo, “corra para as colinas!” (rsrs). Segundo, porque tal maneira de não-enfrentamento acaba, muitas vezes, transparecendo aos demais como uma falha, uma arrogância da minha parte. E não o é. Ao menos, não de todo. É apenas o único modo de agir que conheço.

Ou melhor, conhecia! Graças a algumas pessoas (para as quais estou preparando um post-homenagem em breve), estou conseguindo aprimorar minha auto-estima, aprendendo a enxergar e, principalmente, me sentir completo pelas minhas próprias conquistas.

Assim, sinto que estou deixando de ser (apenas) aquele objeto frio e reflexivo, um ‘espelho voltado aos que me rodeiam’, um pedaço de vidro moldado alheiamente. Metamorfico-me, aos poucos, sem pressa, num quadro inacabado. Minha própria obra de arte. Minha vida de óleo em tela.


H (“O que não me mata, me fortalece”, Friedrich Nietzsche)


* Imagem retirada daqui

domingo, 28 de novembro de 2010

Momento poesia XL


Quadragésimo "Momento poesia"! Nunca imaginei que pudesse chegar tão longe. E não é para menos a minha alegria. Esse é o 'quadro' do qual mais fiz uso nesses últimos 28 meses.

Foi através dele que me inspirei, não só criando coragem para transcrever meus próprios trabalhos, como também compartilhando poemas de amigos e ídolos.

E o de hoje é especial não por marcar o fim, algo que já tentei, por duas vezes, sem sucesso. Porém, tenho-o como o ponto de largada para algo que terá um término próximo: 15 de janeiro. Encontrar tal poema, e não encontro termo mais apropriado, foi destino. Ela estava ali já havia tempos. Mas só me foi revelada agora, porque agora era o seu momento. Momento esse que dedico a seguir (e sem maiores explicações):


Não-lugares*


O sonho é um não-lugar
que habito
virtualmente
- no tempo e no espaço
da não-existência
de cuja permanência
ou imanência
dependo.

Entendo: sonho, logo existo.


No bonde, antigamente...
No trem, no navio, em movimento
- um não-lugar concreto.

E na internet, atualmente.

O bonde trilhado
O avião voando
O navio...

Existe lugar em movimento?

(Um-lugar-de-momento).


Onde estou, se sou?
Mas não estou em mim,
necessariamente.

Habito uma galáxia
(planetária)
em expansão
(informacional)
e sou onde estou.


Se existem tantos centros,
eu sou um deles
- o único possível para mim.

Não por causa do egocentrismo
ao contrário:
por causa do exocentrismo
- o sair de mim,
o expandir-me
pelo compartilhar
pelas relações múltiplas, rizomáticas, fractais.


Se escolho navegar também sou escolhido
viro um escolho no oceano e também escolho
minha centralidade
(eu quase disse individualidade).
Fracionando-me pela rede.
Distribuído, digerido
- vomito e, na volta, me devoro
e excreto: sou mutante.


Vou aonde a rede me levar.

E o meu endereço
(o meu lugar) é a rede
em que descanso
e me reencontro:
eu-ilha
virilha
trilha...
(e outras relações metatextuais
ou hipertextuais).
Demais!

(Antonio Miranda)


* Retirado da parte inicial do livro "Informação e tecnologia: conceitos e recortes", de 2005, organizado por Antonio Miranda e Elmira Simeão.

Imagem retirada desse blog.


H (logo ali)

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Top 10 filmes que mudaram minha vida


Cinéfilo que se preze, adora uma lista. Mais ou menos um mês atrás, uma das minhas melhores amigas, sabendo o quão difícil seria para mim (sim, ela sabe ser malvada!), me propôs um desafio: levantar uma lista com 10 filmes que, de alguma forma, mudaram a minha vida.

Tentei discutir com ela que achava a explicação do repto meio, digamos, óbvia. Bastava fazer uma lista com meus 10 filmes favoritos e pronto. Depois de muito discutirmos (e bebermos), chegamos a algumas conclusões: 1) Não bastava a identificação com a película; era preciso um "contexto", alguma experiência que tivesse ficado gravada com o filme; 2) Aprendizados e primeiras vezes são aceitas; 3) Nenhum diretor devesse se repetir; 4) Faz-se necessário uma gradação ("1" para um menor importância; "5" para um maior destaque), enfatizando, assim, a importância que cada filme teve.

Dessa forma, resolvi trazer informações adicionais, como os anos de produção e da sua primeira exibição a minha pessoa. Além, é claro, de um pequeno comentário sobre o porquê de seu destaque perante tantos outros que já vi. Vale ressaltar que eles não são, obrigatoriamente, meus filmes favoritos. Segue a lista:



Jurassic park (Steven Spielberg)

Produção: 1993
Ano em que assisti: 1995

Ensinamento nenhum, na verdade. Mas eu não poderia deixar de fora dessa lista o primeiro filme que vi numa sala de cinema. Às vezes, quando entro numa sala depois de um longo período de “jejum”, algumas lembranças daquele dia ainda me invadem. É um filme que tenho como especial por ser o precursor desse meu vício cinéfilo.

Baseado naquilo que disse sobre precursor, a nota fica em 4,8.



Aracnofobia (Frank Marshall)

Produção: 1990
Ano em que assisti: 1996

O mérito desse está no pavor que me causou. Sim, pavor! Quem me conhece bem, sabe que o meu maior medo com relação ao mundo animal é de aranhas. Precisei de três “tentativas” para conseguir assisti-lo até o fim. Foi realmente uma superação quando consegui chegar aos créditos finais.

Pela persistência e superação, 4,2.



Amadeus (Milos Forman)

Produção: 1984
Ano em que assisti: 1996

Foi, durante um curto espaço de tempo, meu filme favorito. Hoje, ainda preciso refazer as contas, mas, provavelmente, nem figure entre os “10 mais” (rsrs). Mesmo assim, é um dos filmes biográficos que mais gosto, por conseguir aliar soberbas atuações (como a de F. Murray Abraham no hospício, logo no princípio) com uma trilha esplêndida. Depois desse, música clássica se tornou outro vício em minha vida.

Por tudo que já foi escrito, 4,4.



O carteiro e o poeta (Michael Radford)

Produção: 1994
Ano em que assisti: 1999

O assisti dias antes de me apaixonar pela primeira vez. Lembrar das tais “metáforas” foi inevitável. Um dos filmes que mais me inspirou nos meus poemas. E quantas vezes não me identifiquei com a cena em que o carteiro Mario chega todo esbaforido para Pablo Neruda: “Don Pablo, aconteceu algo gravíssimo! Estou apaixonado!”; “Mas isso não é tão grave, existe remédio.”; “Mais que remédio!? Eu não quero remédio! Quero continuar doente!”.

Pela identificação e inspiração, 4,7.



Matrix (Wachowski Brothers)

Produção: 1999
Ano em que assiti: 2000

Apesar da diferença de um ano, eu o vi na sua estréia. Tanto se falou sobre sua produção, seus efeitos inimagináveis, que não consegui esperar alguns dias mais. Logo virou “cult”. E abriu as portas para o meu gosto por filmes repletos de efeitos especiais.

4,1.



A língua das mariposas (José Luis Cuerda)

Produção: 1999
Ano em que assisti: 2002

Assisti esse no cursinho que a minha namorada na época freqüentava. O filme é horrível. Mas a história tem seus momentos interessantes. No final, para quem prestou atenção, ficou evidente o quão difícil foi para o pequeno Mocho fazer a escolha que fez. Um filme sobre amizade que, no ato, me remeteu a minha relação de “aprendiz e mestre”, “filho e pai” com o Michel.

Pelas lembranças, 4,3.



Jogos mortais (James Wan)

Produção: 2004
Ano em que assisti: 2005

Esse é realmente especial. Lembro até da data exata: 09 de fevereiro de 2005. O filme em si até que é inteligente (pelo menos, até o terceiro). Mas o que marcou mesmo foi o contexto: logo que saí da sala do cinema, recebi a ligação de uma tia dizendo que eu havia passado na Fuvest! A partir daí, não teve jeito. Toda vez que revejo esse filme, só consigo pensar na sensação de “estar na USP”.

Pela sensação, 4,6.



Carros (John Lasseter)

Produção: 2006
Ano em que assisti: 2006

A primeira animação que vi no cinema. Minha namorada na época (sim, era outra!) me convenceu a assisti-lo, usando de todas as artimanhas que as mulheres possuem. Eu só fiz uma ressalva: não assistiria dublado. E assim foi. Fora isso, ainda há o fato de ter uma das músicas que mais gosto como parte de sua trilha (Rascal Flatts – Life is a highway) e a frase que, com pequenas modificações, se tornou meu “bordão”: “Eu sou assim. Desperto nos carros os instintos mais primitivos”. Foi, na minha opinião, o melhor filme que assistimos no (curto) tempo que ficamos juntos. Taí outro motivo para estar aqui.

Pela frase (e otras cositas mas), 4,5.



Brilho eterno de uma mente sem lembranças (Michel Gondry)

Produção: 2004
Ano em que assisti: 2006

Quando a pessoa citada no texto anterior me deu um pé-na-bunda, uma amiga me indicou esse filme, dizendo que me ajudaria a transpor a sensação de dor e perda. Realmente o auxílio foi enorme. Tanto que, dali em diante, virou meu “filme-salvação” nas demais vezes em que situações como essa se repetiram (e quantas vezes!).

Pela ajuda (sempre), 4,8.



Nós que aqui estamos por vós esperamos (Marcelo Masagão)

Produção: 1998
Ano em que assisti: 2006

Lembro-me de ver o trailer desse filme no (para mim, extinto) “Fantástico” em 1998. Mal sabia eu, mas ali teve início a minha paixão por filmes com apelo pela narração de fatos históricos. Tentei de todos os modos vê-lo na telona, porém, sem sucesso. Até que, oito anos depois, quando comecei a estagiar no meu atual trabalho, o descobri entre os vários títulos da dvdteca. Fiquei fascinado. Não só pela maneira como foi produzido, mas, principalmente, depois que soube do contexto: fazer um documentário, em meados da década de 1990, usando apenas imagens de arquivo (ficcionais ou não, pouco importa) e música incidental, numa época em que os recursos tecnológicos não eram tão avançados. Achei bárbaro. Até hoje, tenho como o melhor filme dirigido por um brasileiro.

Sem mais comentários, 4,7.


H (cada qual com seu vício)

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

My best dream* - post convidado


Salvador Dalí , Dream provoked by the flight of a bumble bee


Hoje eu me achei no direito de compartilhar com você algo que escrevi há alguns dias. Sei que não nos falamos há um bom tempo, por isso ele servirá para quebrarmos o gelo e trocarmos algumas palavras. Espero que você goste. Tudo começa mais ou menos assim:

De repente, despertei e me vi como um rei no meu castelo de cartas, construído bem fundo, no fundo do mar. Tudo contrastava belamente: o branco, vermelho e preto (do meu castelo) com o azul do oceano. Quando dei por mim, começou a nevar. Pequenos grãos de açúcar caiam vagarosamente, cada um no formato de um animal. Meu olhar se ateu em um deles e logo lá estava eu, cavalgando rumo a linha de chegada. Assim que a cruzei, meu cavalo ganhou asas e migramos para o sul nos orientando pelas estrelas cadentes que apareciam no horizonte. Num descuido, me desequilibrei e cai num funil formado de nuvens. Estendo meu braço e percebo de imediato: elas não eram feitas de algodão como sempre acreditei. Eram pequenos caleidoscópios formando desenhos lindos à medida que a gravidade fazia seu papel comigo. Esse eterno cair só teve fim quando vislumbrei um navio fantasma que navegava tranquilamente, rasgando esse céu vitral. Resgatado, cruzamos desfiladeiros de chaves, atrás daquela que abriria a caixinha de música pendurada no meu pescoço. Pelo tamanho da tal chave, era como procurar uma agulha num palheiro. Ficamos nisso o dia todo: Papai Noel, minha vizinha do 503, o pessoal da banda e eu. Quando finalmente a encontramos, tomou a forma de um cachorro que logo saltou sobre mim, dizendo “não jogue fora.. viva!”. Num movimento rápido, arranquei a chave da sua coleira e abri a caixa. Lá dentro, para minha surpresa, estava uma miniatura de mim ensinando Beethoven a tocar bateria. Contemplei a cena maravilhado. O som era tão harmonioso, que fui adormecendo aos poucos, a música ficando cada vez mais inaudível. Acordei num pulo, com o som estridente do meu despertador.

Agora você deve estar se perguntando porque lhe escrevi tudo isso. Afinal, qual a importância desse sonho? E, ainda mais, qual a minha (sua) relação com toda essa falta de nexo?

E eu lhe pergunto: sabe qual foi a melhor parte desse sonho?! Certamente você desconhece. Mas eu lhe digo: pela primeira vez em três meses, eu não sonhei com você ou com qualquer lembrança relacionada a sua pessoa. E isso foi um alívio. O melhor sonho que já tive.


Rebecca Ruiz


* Escrito, originalmente, em 15/10/2000; Modificado (em pequenas partes) em 28/10/2010.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Amarras invisíveis*


Muitas das suas ações não serão bem vistas pelas outras pessoas. Isso é fato. Não importa o quão significante você já foi para alguém, sempre aparecerá um indivíduo que se acha no direito de lhe julgar. E eu sou um brincalhão (fanfarrão não, Capitão Nascimento! Brincalhão!) e, por isso mesmo, gosto de ver todos ao meu redor felizes e rindo, principalmente se estiverem c/ algum problema. É espontâneo!

Num longínquo post, falei algo vago sobre espontaneidade. Taí algo sobre o qual tenho aprendido bastante. Não que eu seja o primor do ser espontâneo! Não, isso ninguém consegue sem muita prática. Mesmo assim, fico incomodado quando leio algum relato ou ouço uma conversa que gira em torno de “encontrar a pessoa perfeita”. Não sei se alguém já chegou a reparar, mas, quase sempre, uma das qualidades imprescindíveis ao tal indivíduo é ser sincero.

Há uma linha tênue que delimita espontaneidade de sinceridade. E, devido sua complexidade e a falta de tato desses que escrevem, deixemos as definições de lado, por enquanto. Tentemos apenas percebê-la: espontaneamente, ninguém (em sã consciência) sai por aí dizendo a torto e a direito o que sente sobre fulano e ciclano, certo? Por mais belo e romântico (ou, no caso de um desabafo, engraçado e aliviador) que isso possa parecer nos filmes, aqui, na vida real, isso nunca seria bem aceitável, tendo em vista os padrões morais da sociedade ocidental.

Mas por quê?! Por que não posso simplesmente acordar um dia, correr até o portão da minha casa e gritar que estou apaixonado (a) por tal pessoa?! Ou por que não posso mandar meu chefe para aquele lugar num dia considerado normal?! Pode parecer uma reflexão rasa, porém, a resposta está em nós mesmos. E aqui, voltemos a linha tênue do parágrafo anterior: a espontaneidade é bem vista (com restrições, é verdade!) quando o ato/ação limita-se ao universo do ator/atriz; ao incluir outros seres, tudo se transforma, ficando a mercê dos julgamentos alheios. É aí que a sinceridade vira inimiga. Afinal, quem gosta de ouvir uma crítica quanto ao seu comportamento, mesmo esse sendo compatível com a moral e os bons costumes da sua cultura? Acho que ninguém chega a esse ponto de sadismo.

Mahatma Gandhi, perguntado certa vez sobre o que ele achava das qualificações difamatórias que o governo britânico havia lhe atribuído, disse: sempre que estiver numa escolha entre sua consciência e sua reputação, prefira a primeira; sua consciência diz respeito àquilo que você sabe que fez; sua reputação é aquilo que os outros julgam que você fez.

Logo, podemos chegar a conclusão que viver é privar-se. Limitar nossos atos e ações aos moldes que nos são impostos desde cedo. Uma sucessão de desgostos, de restrições, de quereres que não se pode ter. Tudo porque escolhemos viver em sociedade; porque, apesar de dizermos (e até acreditarmos) que somos livres e independentes, sempre dependemos de outras opiniões, respostas, decisões.

Não me julgo competente o bastante para propor uma solução. Se a soubesse, acreditem, seria o (a) primeiro (a) a querer experimentá-la. O que se pode fazer é adaptar-se; moldar seus caminhos e escolhas levando sempre em consideração as muitas variáveis em jogo.

E desconsidere a felicidade e a perfeição, pois ambas são estados imaginários. É tediante ser feliz sempre ou totalmente perfeito. A graça da vida está nos defeitos, nas imperfeições, nos contrastes. Tudo com certo limite, lógico! Ninguém vive só (de preto) o tempo todo. É preciso (descolorir para) apreciar cada momento.


* Post escrito a quatro mãos. Logo, fica sem a assinatura de rotina.


Imagem retirada daqui

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Semana de biblio - Meu agradecimento


Tentei de várias formas pensar em um jeito diferente para começar esse post. Na verdade, eu gostaria que ele fosse diferente por se tratar de uma homenagem a um grupo de pessoas que me ajudou (academicamente falando) a ser uma pessoa melhor.

Nas inúmeras possibilidades que imaginei, cheguei a conclusão que o melhor seria resgatar um dos meus artifícios mais presentes nesse blog em tempos vindouros: um momento flashback, ajudando, assim, a contextualizar minha aterrissagem num evento dessa magnitude.

Foi por acaso. Nem sei bem explicar como entrei nessa organização. No entanto, chega um momento na vida de todos em que nos sentimos tão inúteis que acabamos por aderir a algo revolucionário, algo que nos permita rev(iv)er aquela sensação de utilidade e revolução quando adentramos a faculdade.

Meu caso começou exatos 365 dias atrás, quando o Ilmo. Sr. RD Robinson me chamou para expor a sua ideia de levantar um projeto que se enquadrava perfeitamente na descrição do parágrafo anterior: a criação da empresa júnior da biblio.

O plano começou tímido, mas logo angariou mais voluntários. Não demorou a agregarmos outros projetos, como a recepção promovida aos bixos/2010. Ao final dessa, inclusive, o já citado Sr. RD, provavelmente inebriado pelo sucesso, me fez a proposta que considerei a primordial em toda a minha existência ecana até então: “agora, precisamos pensar na organização da Semana de Biblioteconomia”. Qualquer ser com um histórico parecido ao meu, de sedentarismo acadêmico, certamente, balbuciaria meia dúzia de desculpas e pularia fora.

Porém, e aqui reside a minha maior dúvida, por mais incrível que isso possa parecer, nem cheguei a pensar quando respondi: “considere-me dentro da organização!” Naquele mesmo dia, ao chegar em casa, não me reconheci quando me olhei no espelho. Aquele não podia ser eu!

Aos poucos, foram surgindo mais e mais pessoas interessadas em ajudar. E assim foram reuniões a se perder de vista; discussões através de emails, no corredor do CBD, nos sofás, durante tardes frias no CCSP (ou em bares pelo caminho). Meses de planejamento. Dez dias antes da data programada, surgiram os primeiros sinais de nervosismo, comuns em casos como esse onde impera uma mistura de insegurança, responsabilidade e esperança para que tudo funcione perfeitamente.

Claro que também é normal que surjam imprevistos pelo caminho. Arrisco dizer que são esses os artifícios que realmente separam um grande sucesso de um terrível fracasso. Não esmorecer nesses momentos de desconforto é que demonstra o quão empenhados estamos, dispostos a tudo para não ver pequenos detalhes impedirem o andamento natural das coisas.

Hoje (ou em dezembro ou no ano que vem) eu deixo a biblioteconomia com uma certeza que tentei por muito tempo contestar: seis anos atrás, entrei nesse universo por um motivo ridículo que logo caiu por terra; e, se continuo aqui, o fiz pelo simples fato de conhecer pessoas maravilhosas no decorrer dessa estrada.

Foi, não só uma das melhores semanas da minha vida, mas os dois melhores meses. Ir atrás de palestrantes, tomar decisões, passar por alegrias e tristezas. Enfim, eu gostaria de fazer um agradecimento individual, porém, como ficaria demasiado longo, o farei em conjunto:

* Ao pessoal da organização: Amanda (pelos momentos), Ana (pela sua criatividade inspiradora), Andréa (pela sua postura calma e tranqüila e pelas palavras no seu discurso final), Bia, Carol, Daniel (pela liderança natural), Eva, Fábio & Robson (pelos ensinamentos concisos e muito valiosos), Paloma & Patrícia (pelas conversas, conselhos, palavras de conforto e a amizade que perdurará por muito tempo);

* Menções honrosas: Jonathan (uma das melhores apresentações que vi), Marcela (por me mostrar que estamos sempre enganados quanto aos nossos pré-conceitos), Prof. Moreiro, Gisele Sousa e Robinson (pelo convite e confiança depositada em mim).

Dez anos atrás, numa época mais agitada da minha adolescência, um dos meus melhores amigos me propôs um desafio: escrever o epitáfio perfeito, aquele que melhor resumiria minha passagem pela Terra. Foi difícil. E o resultado final ficou uma bosta. Mas, até hoje, me lembro bem do que ele escreveu:

Aqui e ali,
Pedaços aos milhares;
Ali e aqui,
Vários pedaços em inúmeros lugares
”.

Algum tempo depois, ele me confessou que, para conseguir escrevê-lo, inspirou-se nas amizades que fez por onde passou. Hoje, sempre que penso nas minhas (poucas), essa frase é a que melhor as define. Como as que fiz durante a organização dessa Semana de Biblio.

Para finalizar, gostaria de citar, na íntegra, uma frase da Patrícia (pelo Twitter) que assino em baixo por sintetizar em poucas linhas tudo que a Semana de Biblio significou para mim e aquilo que julgo, hoje, o ponto primordial desse curso: meus colegas e amigos graduandos.

"A Semana da Biblio tá ótima,organizada, palestras com potencial modificador imenso...mas, confesso: o q mais me deixa feliz qdo chego em casa é a sensação de estreitar laços c/ pessoas q antes eram próximas, agora são tbm conjunto, grupo, coletivo...tô feliz demais #familiabiblio" (@PatHellmanns, 28/09).


H (Obrigado a todos)

domingo, 12 de setembro de 2010

Momento poesia XXXIX


Mario de Miranda Quintana foi "o poeta das coisas simples". Conseguia, através de poucas palavras, transmitir muito mais do que sensações e impropérios. Era um nômade, não só nas letras, mas também na vida.

Morreu sem nunca ter se casado. Também não teve filhos. Espero poder experimentar dessa mesma "negativa" até o fim dos meus dias.

Abaixo, um dos poemas de sua autoria que mais gosto:


No quarto

“Este quarto de enfermo, tão deserto
De tudo, pois nem livro eu já leio
E a própria vida eu a deixei no meio
Como um romance que ficasse aberto...

Que me importa este quarto, em que desperto
Como se despertasse em quarto alheio?
Eu olho é o céu! Imensamente perto,
O céu que me descansa como um seio.

Pois só o céu é que está perto, sim,
Tão perto e tão amigo que parece
Um grande olhar azul pousado em mim.

A morte deveria ser assim:
Um céu que pouco a pouco anoitecesse
E a gente nem soubesse que era o fim...”


(Mario Quintana)


H (isso aí)

sábado, 4 de setembro de 2010

Deep in my dark


Se você realmente pretende ler esse post, antes tenha em mente duas coisas:

1) Ele foi escrito num momento de pura raiva e questionável sanidade. Porém, por transmitir 90% daquilo que pretendo, pouquíssimas mudanças posteriores foram feitas;

2) Como ele não cita (abertamente) fatos ou pessoas, quem se sentir ofendido ou retratado em algum momento, tem a liberdade de se sentir "homenageado". Ou não.

Agora pode seguir a leitura.


Revisitar partes tenebrosas do passado não é um dos exercícios mais gratificantes que alguém perto da casa dos 30 anos pode querer para o seu fim de noite.

Pouco mais de quatro anos atrás, numa época em que Orkut era uma febre, o Youtube não passava de uma idéia maluca e Facebook e Twitter ainda nem tinham saído da prancheta, fui marcado por uma dessas bestas-feras que, só porque possuem alguns neurônios a mais e um par de olhos verdes, se achou no direito de me usar como peão no seu já doloroso joguinho de xadrez.

Não posso dizer que “quase” fiquei louco porque, na verdade, eu realmente enlouqueci. Lógico que não como um todo, graças a baixa exposição, mas numa ínfima (porém, importante) parte. Nesses tempos de #InceptionFeelings, tentemos compreender melhor com a seguinte analogia: imaginem um grande cesto com maçãs. Conceitualmente, tenha cada maçã como uma sinapse, uma lembrança, conflito, interação etc. do seu cérebro. Um cesto bem grande, não é verdade?! No caso de uma loira, não deve passar de um pote para sobremesa.. rsrs

Vocês conhecem aquela máxima que diz “uma maçã podre pode contaminar todas as demais”, não é?! No meu caso, ainda seguindo com a lógica proposta anteriormente, trancafiei todas as “estragadas” que consegui coletar numa caixa. Porém, por fazer parte da minha vivência e já que idéias como as de filmes como “Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças” e “O Pagamento” não passando de ilusões, tive que deixar essa mesma caixa juntamente com as demais maçãs.

A “contaminação” era uma questão de tempo. Mesmo assim, contando com esporádicas ajudas aqui e ali, a tal caixa se tornou cada vez mais um item supérfluo (como muitos outros) da minha mente. Ela simplesmente ficou lá, esquecida, perdendo importância e envelhecendo como todo o meu restante.

Sofri muitos outros reveses na sequência desse citado. Mas nenhum chegou ao ponto de ressuscitar essa vontade quase incontrolável de revisitar tais lembranças como esse mais recente. Provavelmente, por compartilhar ingredientes e situações tão igualmente envolvidos, isso fosse realmente impossível de não acontecer. Mas não improvável de prever.

Pois é, se eu sofro hoje, assim como já sofri antes, o único que pode ser culpado sou eu mesmo. Acabo tomando minhas decisões baseadas em emoções fantasmas, sentimentos estúpidos e assim me fodo por precipitação.

Eu não quero pagar uma de eterna vítima, mas estou farto de ser "perfeito", "bom demais", "tudo", "a melhor foda da minha vida" ou sei lá mais o quê de alguém! Frases e adjetivos quase tão vazios quanto o termo "amigo". Ao mesmo tempo, sinto uma raiva imensa da minha pessoa por me permitir entregar rapidamente e de maneira tão profunda a relacionamentos que não vingam. Dividir particularidades com garotas que (pela minha sanidade mental, prefiro desconhecer os motivos!) não conseguem enxergar uma oportunidade de recomeço nem se esta lhes fosse apresentada em neon piscante!

Entretanto, e como este post já está longo demais para o meu gosto, só consigo chegar a uma conclusão (que nem sei se pode ser tida como tal): tenho pena de pessoas que não o conseguem.


H (Por que é tão difícil?!)

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Momento poesia XXXVIII


No fim do caminho*

Cada percalço, uma usura
Todo motivo, uma bagagem.
Antes daqui, nenhuma miragem
Depois de lá, sempre tontura.

Aquilo que vem, parece mais além.
Daquele que vai e some, logo perto.
Do pé-ante-pé trôpego e incerto
Surge a cor, a forma, o desdém.

Se cada descaminho é uma opção,
Então quem pode ter as respostas
Para as perguntas que tanto almejo?

Ninguém. Eis aqui, então, o meu ensejo:
Leve em frente sua trajetória de apostas
Que eu sigo com minha vida de solidão.


(Agamenon Leite)


* Escrita em 31/03/2001

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Prerrogativas de uma morte anunciada¹ - Conto perdido²


Tudo aconteceu tão rápido...

Apesar d’ele saber que era impossível, aquele parecia ser mais um dia como outro qualquer. Nenhuma novidade, nada fora do comum (como se o ‘comum’ fosse algo mensurável).

Mas tudo aconteceu tão rápido... quando se deu conta, já havia sido atingido, forçado a girar nos calcanhares, sendo a queda algo inevitável. Se Newton e Murphy estivessem ali, com certeza estariam apontando o dedo para sua cara enquanto gritavam efusivamente “ninguém escapa das leis, rapaz!”

Estendido sobre o asfalto escaldante, o único calor que sente, porém, é o do líquido viscoso que se esvai pelos seus cortes, impregnando-se em sua pele suada, formando pequenas poças brilhantes de um aroma repulsivo.

Começa a sentir frio.. não aquela sensação gélida relacionada à baixas temperaturas.. não, é uma sensação de vazio, um calafrio persistente percorrendo, vagarosamente, sua espinha de cima a baixo e estagnando em seu estômago.

Deve ser assim que as pessoas se sentem quando estão nessa situação, pensou ele. Um turbilhão de pensamentos fragmentados começou a invadi-lo.

Se esse era seu último instante, se pôs, então, a pensar em quem sentiria a sua falta. Talvez a Laura?! Pouco provável, já que não se viam há mais de 2 anos. E seu círculo de amigos?! Thomas, Marcelo, Eduardo... talvez não de todo. Afinal, como dizia Victor Hugo, eram corajosos sem dúvida... mas fidelidade era algo que sua amizade, provavelmente, não inspiraria numa hora como essa.

E o que seria de seus pais?! Como suportariam passar por isso?! Seu pai, militar aposentado, amargo e ranzinza por experiência de vida, certamente, diria “e o que mais poderia se esperar? Nascido de um acidente, só poderia morrer do mesmo modo”. Sua mãe, reservada por apelido, enlutaria-se por uma semana, choraria uma vez ou outra e logo esqueceria.

Lançou um olhar a sua volta. Na verdade, nem meia-volta. Com uma das bochechas colada ao solo, ficava impossível um ângulo de visão maior que 120º. Diante de tantos rostos desconhecidos, com suas impressões que iam da indiferença a curiosidade mórbida (óbvio!), balbuciou um inocente “me desculpem”, porém, isso só lhe fez recordar dos versos de Chico Buarque, que ele, apenas por não ter nada mais urgente por fazer, começou a murmurar:

E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

Logo vieram a mente as lembranças de seu avô.. a velha vitrola onde ouvia Chico Buarque numa repetição exaustiva.. a precária máquina Olivetti, da qual saiam sons quase tão belos quanto dos discos de vinil.. as vezes em que sentava na calçada, junto ao seu avô.. olhos fixos no horizonte e ouvidos atentos as maravilhosas histórias que ele tinha para contar.

De repente, ao longe, ele ouve um sussurro a lhe chamar... seria Deus, ou algum de seus intermediários?! Supostamente, não.. Deus era um luxo para o qual ele nunca se sentiu tentado a dedicar muito do seu tempo. Apreciava, era verdade, toda a mitologia construída a sua volta: céu, inferno, reencarnação, pecados, arrependimentos... mas acreditar, isso era assunto para adultos.

- Ei, Edgar.. Tá tudo bem?! Deixa eu te ajudar a levantar – disse Thomas, seu melhor amigo, estendo-lhe a mão.

- Obrigado... cof, cof...

- Por que você ficou tanto tempo caído? No que estava pensando?

- Nada em especial... apenas nas prerrogativas de uma morte anunciada – exclamou Edgar, averiguando se estava tudo nos devidos lugares.

- Eu sabia! Você e seus pensamentos funestos! Melhor voltarmos ao jogo.. acho que ainda podemos reverter o placar – disse Thomas, se afastando do amigo.

- Funestos?! – indagou Edgar. E, desolado, completou num sussurro - Até a morte idealizada perdeu seu direito de existência.


H (bons tempos)


¹ Qualquer coincidência com o título do livro "Crônicas de uma morte anunciada", de Gabriel Garcia Marquez, acreditem, não é mera...

² Conto escrito, originalmente, em 19 de janeiro de 1999, em homenagem ao 190º aniversário de nascimento do escritor Edgar Allan Poe.


Imagem retirada daqui

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Cabeceira do H: ao autor que não li



Não nos conhecíamos pessoalmente. Encontrávamos vez ou outra, ora numa livraria ou sebo, ora numa reunião entre amigos próximos. Na verdade, depois de certo tempo, nossos “esbarrões” tornaram-se bem freqüentes. Não podia se esperar menos, já que tínhamos um círculo de amizade muito parecido e, consequentemente, restrito.

Porém, apesar disso, além do fato de compartilharmos o mesmo idioma, nunca tivemos a oportunidade de trocar uma única palavra. Nem um “Olá! Tudo bem?!”, “Prazer em conhecê-lo”.

A solitária vez em que tentei lê-lo (“Memorial do convento”), foi graças a um dos meus tios maternos, um típico intelectual-entusiasta que, na falta de um filho, apreciava repartir sua vasta sapiência com seus sobrinhos (pensando bem, até me lembrou alguém agora! rs). Daí já se vão 12, 13 anos...

Consegui chegar, com hercúleo esforço, ao final do primeiro capítulo. Confesso que o achei deveras rebuscado para o meu gosto literário na época. Poderia ter lhe dado uma segunda chance. Na verdade, deveria! Mas estávamos em sintonias diferentes naquele momento. Eu havia acabado de descobrir Agatha Christie e o princípio de todo o seu universo lingüístico e construtivo. Ele, por sua vez, tinha seu modus operanti recompensado através do Prêmio Nobel. Logo virou moda, caindo nas graças dos povos de língua portuguesa que ainda não o conheciam. Não que ele precisasse disso. Realmente, não precisava. Mas quem não gosta de ter seu trabalho reconhecido em uma escala tão alta quanto essa?!

Mesmo assim, meu fascínio pelos romances policiais me cegava diante de qualquer outro gênero literário. Pelo menos, quando se tratava das minhas leituras livres, sem qualquer compromisso. E convenhamos, Saramago não é o tipo de leitura que se faz forçadamente. Não pode existir forma eficaz de apropriação através dessa fórmula retrógrada do nosso ensino público (post em breve).

Desde então, durante esses 12, 13 anos, venho adiando esse nosso embate. Mesmo trabalhando a mais de 4 anos numa biblioteca que possui (quase) todas as obras do literato luso, nunca sequer folheei uma de suas obras.

Aí está, confessado em linhas para a eternidade (?!): eu, Agamenon Picolli Leite, paulista, 27 anos, graduando de biblioteconomia (WTF?!), cinéfilo acima de tudo, jamais li (até o fim) Saramago. Mas, como dizem por aí, nunca é tarde demais para se redimir.

José de Sousa Saramago. Ateu, como provavelmente um dia eu também serei, morreu na última sexta-feira. Durante boa parte de sua passagem terrena, teve uma vida parecida com a minha de agora: sem muita emoção e/ou importância. Autodidata, felizmente descobriu a tempo uma maneira de deixar seus passos gravados pelos caminhos desse mundo. A partir daqui, tenho certeza que viveu prazerosamente até o fim.

"Todos sabemos que cada dia que nasce é o primeiro para uns e será o último para outros e que, para a maioria, é só um dia mais." (J. S.)


H (nunca é tarde para se tentar)

sábado, 12 de junho de 2010

FUTEBOL


Em época de copa do mundo é uma maravilha, nunca se vê tanto nacionalismo, tantos brasileiros, as ruas tornam-se bicolores sempre verde e amarelo, tudo muito lindo e embaixo de toda essa poeira os velhos problemas desse nosso país, mas, meu assunto é futebol e não política (esse assunto fica para uma outra oportunidade).
O futebol infelizmente eu conheci tarde, a primeira vez que pratiquei tinha por volta dos 07 anos em com um breve ensino dos colegas de escola consegui fazer meu primeiro gol... contra. Foi uma xingação dos diabos, e me botaram para fora do time.
Aos 08 descobri o que era time na base da porrada, me perguntaram que time torcia São Paulo ou Corinthians, achando que se referia a cidade onde tinha nascido infantilmente e de uma maneira totalmente ingênua respondi: "São Paulo", foi o suficiente para os conrinthianos me descerem o sarrafo e eu sem saber o porquê. Eu não tinha televisão, minha mãe estava separada do meu pai que já era caminhoneiro e não tinha como dar atenção para os filhos, talvez essa ausência explica o fato de não conhecer o futebol. Quando descobri decidi torcer pelo corinthians.
E nesse mesmo ano o Corinthians se consagrou pela primeira vez Campeão Brasileiro de 1990. O adversário da final por coincidência ou não foi o São Paulo.
Atualmente sou tão técnico quando os 190 milhões de brasileiros dessa pátria amada. Desejo toda sorte para o Dunga o futuro herói nacional ou o maior vilão de todos os tempos. Concordo com sua duvidosa coerência, exceto no fato de ele não ter convocado o Gaúcho acredito que sua convocação seria um diferencial para toda equipe e um "recado" para os adversários.
Fico na torcida para que o hexa possa vir com esses - como o Dunga gostaria de chamar - "soldados" e assim o hepta estaria garantido para a próxima Copa.
"São 190 milhões em ação, pra frente Brasil! Salve a seleção!"

sábado, 5 de junho de 2010

Dê-me um cigarro



Como um viajante, que sempre retorna nos lugares mais inesquecíveis, assim, sou eu quando escrevo no blog. Sempre lembro com carinho e sei que um dia eu "voltarei". Estou com um texto na minha mente a muito tempo, hoje voltei para
compatilhar.
Dê-me um cigarro
Toda sexta-feira quando volto do trabalho, passo no bar do Pépi peço uma dose de pinga com limão e mel para abrir o apetite, comprimento o Piauí, o Claudião e o Seríguela, que sempre estão lá, talvez até muito antes de eu chegar, e vou para casa. Naquela sexta resolvi ficar e ao invés de pinga resolvi tomar uma cerveja com os meus colegas de bar. Acho que seria interessante conhecer as pessoas do bairro, afinal, já morava nessas redondezas à 2 anos e não conhecia muita gente.
Aqueles homens parecia ser muito inteligentes, só me estranhava o Seríguela, um rapaz quieto, sem muitas palavras, um negro alto e forte com pinta de intelectual e sem muito assunto para compartilhar. As cervejas vinham e a conversa pairava entre fofocas de bar, futebol e novelas. De repente ouvi um berro:
-Pepi, dê-me um cigarro, um de cada marca!
Era um rapaz com mais ou menos 29 à 33 anos, vestia-se de social, uma camiseta amarelada, calça preta e sapatos sem meia. Não era um mendigo, a roupa estava bem passada e limpa. Um rapaz branco, barba bem feita, medindo por volta de 1,80. Mas parecia transtornado.
Pepi gritou do outro lado do balcão:
- Já vou! Pegou um cigarro de cada marca e colocou a mesa onde o rapaz já estava sentado.
- Quem é esse rapaz? Perguntei.
O Seríguela respondeu, com uma voz passiva e bem baixa:
- Seu nome é Fernando, o homem mais triste que conheço, ele mora aqui no bairro desde criança, nunca teve vícios e desde muito novo se dedicou as doutrinas cristã, estudava muito e na adolescência conheceu Raquel. Namoraram por muitos anos, terminaram juntos a faculdade de Comunicação Social e se casaram. Dois anos depois, Raquel engravidou, esperava o primeiro menino Pedro, uma homenagem ao apóstolo.
No oitavo mês, Raquel já sentiu que a bolsa tinha estourado, uma correria total. Fernando resolveu pegar uma carona, estava muito nervoso para dirigir, mas houve um acidente, faleceu a mãe e o bebê.
- Meu Deus que tragédia! E como você sabe de tudo isso Seríguela?
Perguntei.
Ele me olhou nos olhos e seus olhos negros encheram de
lágrimas, como se fizesse o possível para não chorar. E respondeu:
- Eu era o motorista, seu melhor amigo, padrinho do casamento e futuro
padrinho de seu primeiro filho.
Engoli toda saliva que brotava de minhas glândulas.
- Pepi dê-me um cigarro! Pedi.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Insônia


As noites de domingo, ultimamente, têm sido generosas em me remitir a algo que não aprecio há um bom tempo: a insônia.

Digo ‘há um bom tempo’ por não se tratar de algo inédito. Aproximadamente 10 anos atrás, numa época nobre do fim da minha adolescência, dormir era um privilégio que eu reservava (não por acaso) às aulas de química e sociologia do colégio. Minhas noites eram agitadas demais para serem desperdiçadas com horas de sono a fio.

Apesar de ter consciência que isso não é nada saudável, gosto muito desses episódios de lucubração por serem, de fato, os únicos momentos de meditação que disponho durante minha jornada cotidiana.

Inerte sobre meu leito, mão direita espalmada sobre o peito, mão esquerda apoiada sob a cabeça, olhar fixo num ponto qualquer, bem longe dali. Uma vez ou outra, um pequeno feixe de luz bruxuleante vindo da janela abre um rasgado luminoso no teto enegrecido pela noite.

À companhia dessa “brincadeira” entre luz e escuridão, surgem os primeiros vestígios das reflexões que, por motivos óbvios, não me acompanham pela minha rotina vespertina. Alcunhei-os de ‘pensamentos obscuros’ não pela sua natureza em si, mas, devido ao fato de, estando sempre escondidos, só decidirem vir à tona no instante do dia em que posso dedicar-lhes as menores porções de meu tempo.

Não obstante, são raras as vezes em que não acabo adormecendo durante uma reflexão, quando essa chega a um ponto complexo demais para o peso de minhas pálpebras suportarem. Como ocorreu nesta noite passada. E que merecerá um post muito em breve...


H (zzzzzz)

* Imagem retirada daqui

terça-feira, 18 de maio de 2010

Top 10 filmes (não americanos) que todo cinéfilo deveria ver - 2ª parte


Não faz muito tempo, uma amiga me perguntou qual seria meu filme favorito. Diante da minha expressão de dúvida, ela logo se convenceu da gafe: “nossa, mas que pergunta, não é mesmo?! Afinal, deve ser muito difícil para um cinéfilo ter um filme favorito”.

Realmente, é muito difícil. Principalmente quando nos acostumamos a ver de tudo e reparar em detalhes que um mero olho-amador deixaria passar batido.

Qualquer cinéfilo de verdade não cria uma lista de filmes favoritos. Cria várias! E não somente boas preferências, mas, também, sobre destaques imperceptíveis à primeira vista. É um ato deveras complicado, já que envolve inúmeras variáveis que, por sua vez, vão muito além do “gosto desse, não gosto daquele”.

“Gosto não se discute”, já diz o dito popular. Apesar de ser composto quase basicamente de influências exteriores, ele não é aberto a debates porque faz parte da individualidade de cada um e, como tal, tem o direito de ser respeitado.

Assim sendo, um cinéfilo não se baseia em gostos. Ele formaliza preferências, influências, citações, enfim, conecta situações. Afinal, um filme surge como se fosse uma briga: ela só acontecerá se ambas as partes assim a quiserem. Dessa forma, o filme se apresenta para transmitir uma mensagem. Porém, essa só será possível se você estiver no mesmo momento dessa produção.

Está aí o motivo para explicar melhor a complexidade que compõe o gosto por um filme.

Sei que certa vez, nos primórdios desse mundo, levantei uma lista de 50 filmes que julguei serem meus favoritos. Admito que pequei na escolha de alguns. E outros, pelo simples fato do passar do tempo, caíram por terra, dando lugar a produções que vi ultimamente. Foi um trabalho ousado e que não penso em repetir tão cedo.

Contudo, por não conseguir ficar longe de uma lista, formalizei esse “Top 10 filmes (não americanos) que todo cinéfilo deveria ver” como parte de uma lista substituta para a citada anteriormente. E, sem mais delongas, assim como prometido, segue o pódio da tal lista:

3) Kagemusha, a sombra do samurai (Kagemusha) – Akira Kurosawa, Japão, 1980.




Nenhum outro diretor foi tão imitado e serviu de inspiração para a categoria do que Kurosawa. É outro diretor do qual indico toda a filmografia. Kagemusha é o que mais gosto porque o considero mais inspirador. Como a frase que define o temível dono do feudo Takeda: “Rápido como o vento, silencioso como a floresta, poderoso como o fogo, imutável como as montanhas”. Nota: 9,3


2) Os incompreendidos (Les quatre cents coups) – François Truffaut, França, 1959.




Truffaut é, sem sombra de dúvida, o melhor diretor francês de todos os tempos. Ousou iniciar uma carreira “do zero” apenas para ilustrar aos demais diretores franceses da época que era sim possível mudar a forma como os filmes do país eram conduzidos. Os incompreendidos foi o primeiro desafio que o, até então, crítico de cinema assumiu. E o filme está nessa lista por ser aquele onde se encontra a maior parte da essência criativa de Truffaut, que depois se “espalharia” pelas suas demais produções. Nota: 9,5


1) Fanny e Alexander (Fanny och Alexander) – Ingmar Bergman, Suécia, França e Alemanha, 1982.




Imaginem condensar toda a obra de um diretor em pouco mais de três horas de um filme em que os personagens principais não têm mais do que 10 anos de idade. Difícil de acontecer, não é?! E se esse diretor for um dos mais admirados e respeitados de todos os tempos? Provável, não?! E que tal Ingmar Bergman? Ah, agora sim! Ele foi um gênio. Revisitando os mesmos assuntos, porém, sempre de maneiras diferentes. Influenciado pelo cinema francês das décadas de 1940/50, seus primeiros filmes foram experimentos. Aos poucos, ajustados aqui e ali até a perfeição: Fanny e Alexander. Não preciso dizer mais nada. Nota: 9,8

Até o próximo..


H (corta!)

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Happy birthday


“Tudo parecia dentro da normalidade naquela sexta-feira, 10 de maio de 1991. As crianças brincavam sobre o tapete da sala enquanto o pai assistia ao noticiário na TV. A mãe que, de vez em quando, dava uma olhadela por cima dos óculos na direção dos filhos, estava entretida no tricotar de um cachecol que, por sua vez, a filha insistia que só usaria quando chovesse sorvete de chocolate.

Mesmo sendo o aniversário do filho mais velho, esse era um dia como outro qualquer. Os pais, sempre preocupados em garantir que o mínimo não faltasse dentro de casa, pouca atenção davam para essas comemorações. Um bolo simples e um tapinha nas costas já bastavam.

Entretanto, aquele dia estava sendo diferente. O primogênito sabia que algo estava errado. Seus pais estavam estranhos. A mãe havia dito que se esquecera de comprar os ingredientes para o bolo, então ele só ficaria pronto no dia seguinte. A luz do lado de fora da casa estava acesa, coisa essa que nunca seria tolerada pelo pai que, depois de um resmungo, diria “será que sou o único a desconhecer essa minha prodigiosa habilidade de defecar dinheiro?!”.

Claro que, como toda criança da sua idade, o primogênito sonhava com algo mais. Uma grande festa, com todos os seus amiguinhos, um bolo gigantesco, brigadeiro, refrigerante, flash e mais flash, parabéns etc.

Porém, mal sabia ele que, alguns quilômetros dali, num conjunto de casas quase vizinhas, um batalhão se preparava como se uma guerra estive por começar. Caixas e mais caixas eram empilhadas no porta-malas de três veículos. Todo trabalho era feito num silêncio ímpar. No máximo, quando algo precisava ser dito, ouvia-se um breve sussurro aqui e acolá. Aquele que aparentava ser o chefe do grupo, logo tomou conhecimento das horas e sinalizou para que todos tomassem seus lugares. Os carros saíram em disparada, quebrando o silêncio que se mostrava sorrateiro naquela noite fria.”

Sempre que preciso passar por essa data do ano, esta é a lembrança que gosto de recordar: a romanceada comemoração do meu oitavo aniversário. Minha primeira festa surpresa.

Não foi lá grande coisa, nada que já cheguei a sonhar. Mas preciso concordar que meus tios fizeram um excelente trabalho. Colocaram um sorriso enorme na minha cara (nítido nas fotos) que durou por quase uma semana.

Hoje, mais um desses dias, entendo bem o que minha mãe quis dizer quando, pela primeira vez, me disse "algumas vezes, eu adoraria não fazer aniversário". Depois de uma certa idade, perde-se aquela inocência dos primeiros anos. E, com ela, uma comemoração tal como esta perde todo o sentido lúdico. Torna-se apenas um marco (ilusório) da passagem sem parada do tempo.

Envelhece-se, apenas..


H (nostalgia #modeon)

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Top 10 filmes (não americanos) que todo cinéfilo deveria ver


Lembro-me de, em algum post passado, ter feito uma pequena reflexão sobre meu percalço cinéfilo. Algo bobo, sem nenhum embasamento ou mesmo comprometimento com o ato informacional em si.

Porém, deixei claro que tal ponderação proporcionar-me-ia (valeu novamente, Word!) conflitos internos que questionariam não só minha forma de admirar a sétima arte, como, também, atribuiria valores presentes, mas até então adormecidos entre tantos outros que permeiam meu gosto ficcional fílmico.

Pois bem, é como uma conclusão ao citado problema acima, além de uma pergunta feita recentemente por uma amiga, que apresento a resposta na forma de um dos quadros que mais gostei de ter elencado “neste mundo”: o “Top 10 filmes (não americanos) que todo cinéfilo deveria ver”.

Procurei não me render às tentações para inflar tal listagem num número infinito de possibilidades, praticamente um clichê para qualquer um nessa situação. Limitei-me a escolhas simples e, ao mesmo tempo, enriquecedoras. Por outro lado, precisei me ater a alguns pequenos detalhes: são filmes até a década de 1980 (talvez, numa outra oportunidade, posso fazer uma parte 2, com filmes mais recentes), nenhum diretor foi sugerido mais de uma vez e eles estão por ordem de (minha) preferência. Filmes que, num primeiro momento, não valorizei o quanto mereciam, mas, hoje, tenho-os como, se não favoritos, imprescindíveis.

Contudo, como me disse Maristela Lira algumas semanas atrás, “como pode um cinéfilo não gostar de rever filmes?!”. Quando o replay sugere um maior prazer que o play, acho que vale a empreitada.

10) Danton: o processo da revolução (Danton) – Andrzej Wajda, França e Polônia, 1983.




Um ponto que talvez ainda seja pouco explorado pelos europeus é a representação dos seus principais fatos históricos. Danton, entretanto, é um capítulo à parte. Um filme francês, dirigido por um polonês e que, da forma mais fidedigna (até 1989), conseguiu ilustrar não o clichê da Revolução Francesa, mas o momento de euforia, liberdade e falta de rumo em que se encontrava o país logo ao fim desta. Pouquíssimas produções foram tão nacionalistas e, ao mesmo tempo, tão críticas do que Danton. Nota: 8,2


9) Mulheres à beira de um ataque de nervos (Mujeres al borde de un ataque de nervios) – Pedro Almodóvar, Espanha, 1988.




Ele não podia ficar de fora dessa lista. Também é a única comédia que você verá por aqui. Esse não é meu filme favorito dele. Mas foi o que mais me fez rir até hoje. Seu entendimento sobre o universo feminino é algo digno de George Cukor! Nesse filme, Almodóvar extrapola, revelando quais seriam as conseqüências de um enfrentamento de três amigas, aparentemente, fora de controle. Não é a grande produção de sua carreira, porém, foi o filme que abriu as portas cinematográficas às demais produções espanholas. Nota: 8,3


8) Alphaville (Alphaville: une étrange aventure de Lemmy Caution) – Jean-Luc Godard, França, 1965.




Três anos antes do épico Kubrickiano “2001: uma odisséia no espaço”, Jean-Luc Godard lança sua aventura sci-fi de um futuro sob o controle das máquinas. Qualquer semelhança com o livro “1984” de George Orwell (ou qualquer livro de Isaac Asimov) pode não parecer mera quando analisado mais profundamente. As raízes estão ali: ele disserta sobre o tempo, sociedade de e sob controle e os desmandos da alma humana. Tem bela fotografia em preto-e-branco e alguns dos diálogos mais inteligentes da década de 1960. Nota: 8,5


7) Z – Costa-Gavras, Argélia e França, 1969.




“Baseado em fatos reais”. Taí um motivo a mais que me faz apreciar um (bom) filme. “Z” não foge a essa regra. Assim como acontece com outros diretores, essa também não é minha produção favorita assinada por Costa-Gavras. Indico pelos diálogos, pela trilha sonora e, principalmente, pelas impressionantes tomadas de câmera. Nota: 8,6


6) Outubro (Oktyabr) – Sergei Eisenstein, União Soviética, 1928.




Até hoje não há um diretor na imensa Rússia que chegue ao nível de primor ao qual Eisenstein se encontra. Um visionário do cinema mudo, alguém capaz de criar um épico utilizando como personagens os próprios participantes da revolução bolchevique de 1917. Poucos diretores souberam explorar tão bem o cinema mudo quanto Charles Chaplin. Contudo, Sergei Eisenstein chegou bem perto. Assim como a maioria de seus filmes, Outubro não foi concebido apenas para comemoração de uma data, mas para mostrar ao mundo do que a União Soviética era capaz. Nota: 8,8


5) 8 ½ – Federico Fellini, Itália e França, 1963.




Assim como os outros, esse também não é meu filme favorito de Fellini. Gostaria, na verdade, de recomendar toda a filmografia desse mestre italiano. Porém, nenhum outro expressa melhor a magnitude que o cinema italiano conseguiu a partir da década de 1960 do que esse. Uma interpretação invejável de Marcelo Mastroianni e uma trilha de Nino Rota que valem assisti-lo mais de uma vez. Nota: 9,0


4) O triunfo da vontade (Triumph des Willens) – Leni Riefenstahl, Alemanha, 1935.



Assim como o filme de Eisenstein, a produção única da diretora Leni Riefenstahl é uma obra nacionalista ao extremo, utópica. Um dos primeiros filmes de propaganda ideológica que, na verdade, surgiu por acaso, da mente mais bitolada da Europa na década 1930. Um objeto ufanista, marcando os passos do que viria a ser o nazismo, e que tinha um público-alvo certo: todas as demais nações. Nota: 9,1


Bom, por enquanto é isso. Num próximo post, o pódio desse Top.


H (façam suas apostas)