Comecei a escrever esse texto no fim de outubro passado. E,
desde então, venho postergando a sua conclusão.
Numa tentativa exagerada de exorcizar meus demônios, resolvi
retomá-lo alguns dias atrás e, numa avaliação totalmente descarnada, continuo
achando-o difícil de concluir. Porém, o dever é maior, e urge ser resolvido.
Sou uma pessoa do tipo saudosista. Isso desde a tenra idade.
E, se tem algo que evidencia ainda mais tal característica, pode-se dizer que é
o correr acelerado do tempo.
Não é certo dizer que SEMPRE tive problemas com o fato de
envelhecer. Até meus 10, 11 anos, os ponteiros do relógio giravam num ritmo
perceptivelmente mais lento. Talvez pela falta de responsabilidades, talvez
pelo modo simplista com o qual a vida nos é apresentado.
Tomei conta disso (velhice), pela primeira vez, quando
reparei nas primeiras rugas que surgiam no rosto de minha mãe e,
consequentemente, na sua falta de ânimo para nossas brincadeiras (minhas e da
minha irmã). Lembro de ter questionado uma de minhas professoras sobre isso. E
ela foi seca em sua resposta: minha mãe estava envelhecendo.
Pode parecer pueril agora, analisar isso de forma tão
prosaica. Mas, na época, senti medo. Medo de um dia acordar e não conseguir ver
em minha mãe uma centelha da mulher forte que ela havia sido durante minha
primeira década de vida.
Durante muito tempo procurei ser uma pessoa alegre. Uma
decisão controversa se levarmos em conta que sofri bullying por quase toda
minha vida escolar. Não sei mesmo explicar o porquê. Apenas posso teorizar
nesse ponto: meu pai sempre foi um ranzinza. Um reclamão de marca maior. Brigava,
xingava, nunca estava contente com nada. Não fazia meu tipo favorito. Eu
gostava mesmo eram das pessoas que conseguiam me fazer rir. Consequentemente,
julguei que o mesmo gosto caberia a todos que gostaria de ter em volta.
E a tática tem dado certo até agora. Porém, as pessoas
esquecem que não tenho como tirar leite de pedra. Minha “irradiação” de alegria
depende de uma fonte primária. E o meu sol se apagou, mais ou menos quando
comecei a escrever esse texto. As estrelas que sobraram, pela distância,
conseguem causar algumas cócegas esporádicas. Mas nada que me faça gargalhar.
Estou ficando ranzinza.
Agora, falando sobre o último giro de 365 dias: não tenho
muito que comemorar! Estou numa situação financeira melhor, vida amorosa
praticamente nula, vida social reduzida a pó, vontade de escrever quase zerada.
Todos os motivos para ser uma péssima data, não é? Daí, lembrei de uma promessa que fiz, uns cinco anos atrás, a uma pessoa muito importante (aquele sol que citei anteriormente): não me deixar abater e, por conseguinte, me tornar um alguém amargurado.
Para concluir essa delonga, uma das principais lições
que tomei da vida nessas três décadas se resume a música a seguir,
provavelmente a canção que mais ouvirei nas próximas 24 horas:
Agora, que venham os desejos de "meus pêsames".
H (Acaba logo!)