Quadragésimo "Momento poesia"! Nunca imaginei que pudesse chegar tão longe. E não é para menos a minha alegria. Esse é o 'quadro' do qual mais fiz uso nesses últimos 28 meses.
Foi através dele que me inspirei, não só criando coragem para transcrever meus próprios trabalhos, como também compartilhando poemas de amigos e ídolos.
E o de hoje é especial não por marcar o fim, algo que já tentei, por duas vezes, sem sucesso. Porém, tenho-o como o ponto de largada para algo que terá um término próximo: 15 de janeiro. Encontrar tal poema, e não encontro termo mais apropriado, foi destino. Ela estava ali já havia tempos. Mas só me foi revelada agora, porque agora era o seu momento. Momento esse que dedico a seguir (e sem maiores explicações):
Não-lugares*
O sonho é um não-lugar
que habito
virtualmente
- no tempo e no espaço
da não-existência
de cuja permanência
ou imanência
dependo.
Entendo: sonho, logo existo.
No bonde, antigamente...
No trem, no navio, em movimento
- um não-lugar concreto.
E na internet, atualmente.
O bonde trilhado
O avião voando
O navio...
Existe lugar em movimento?
(Um-lugar-de-momento).
Onde estou, se sou?
Mas não estou em mim,
necessariamente.
Habito uma galáxia
(planetária)
em expansão
(informacional)
e sou onde estou.
Se existem tantos centros,
eu sou um deles
- o único possível para mim.
Não por causa do egocentrismo
ao contrário:
por causa do exocentrismo
- o sair de mim,
o expandir-me
pelo compartilhar
pelas relações múltiplas, rizomáticas, fractais.
Se escolho navegar também sou escolhido
viro um escolho no oceano e também escolho
minha centralidade
(eu quase disse individualidade).
Fracionando-me pela rede.
Distribuído, digerido
- vomito e, na volta, me devoro
e excreto: sou mutante.
Vou aonde a rede me levar.
E o meu endereço
(o meu lugar) é a rede
em que descanso
e me reencontro:
eu-ilha
virilha
trilha...
(e outras relações metatextuais
ou hipertextuais).
Demais!
(Antonio Miranda)
* Retirado da parte inicial do livro "Informação e tecnologia: conceitos e recortes", de 2005, organizado por Antonio Miranda e Elmira Simeão.
Imagem retirada desse blog.
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