* Quem tiver curiosidade, a primeira história está aqui.
- E então..?
- Então o quê?!
- Qual a sua opinião sobre tudo?
Foi você quem me chamou aqui. Disse que tinha algo importante para falar – ele
fez uma pausa para saborear o café que tinha acabado de chegar – Julguei que
seria sobre isso.
- Pensamento muito sensato o seu. Antes, me responda uma coisa: quantas recusas você consegue suportar? – perguntou ela
com um sorriso nervoso entre os lábios.
- Cof, cof.. é, acho que esse
pode ser um assunto complexo demais para um mero café! - ele fez menção de chamar novamente o garçom.
- Por favor! Não leve para o lado
pessoal. – ela disse enquanto pegava mais um sachê de açúcar – Sejamos adultos,
tendo uma conversa igualmente adulta, ok? Agora, responda a pergunta!
- Apenas um número? É isso que
você quer?!
- Sim, Ed! – ela não pode demonstrar menos impaciência – Apenas um número. Mas,
se for muito difícil para voc...
- Cinco. – interrompeu ele, rispidamente.
- Eu acho. Espera.. isso significa que você não gostou?! Não pode ser! Nas
outras duas ocasiões você era só elogios para comigo. – E completou, quase aos
berros –
O que mudou?!
Era nítido que ele estava
perdendo o controle da situação. Por quê?! Sempre a mesma ladainha. A terceira
só naquele ano! Vinte nove anos uma ova! Queria seus nove anos de volta, quando
tudo era bem mais simples. E divertido. Sim, muito divertido.
- Ed, será que você consegue
refletir em modos a idade que tem? Por favor! – ela olhou para os lados e fez um breve movimento para se levantar, porém deteve-se ao sentir as mãos dele sobre as suas. –
Novamente, eu lhe peço: não leve para o lado pessoal, ok? É mais comum do que
você imagina. Você é bom.
– e completou, diante de um leve sinal negativo dele
– Sério! Engraçado, profundo, afetuoso, dedicado. Mas não é
bom o bastante. – fez uma breve pausa e completou já de pé diante dele – Não
para nós.
- Tudo bem. Me desculpe pelo
descontrole momentâneo. – disse ele enquanto observava a borra de sua xícara –
Você pode ao menos me dizer quais meus pontos fracos? No que posso melhorar,
sabe?! Para isso não se repetir mais vezes.
- Querido – disse ela da forma
mais amorosa possível, voltando a sentar-se. – Vou responder a sua pergunta com
uma simples analogia, utilizando exatamente este espaço onde estamos. Você está
vendo aquele casal de idosos ali, próximo ao balcão?
- Sim.
- Ótimo. Alguns minutos atrás,
assim como fez conosco, o garçom passou por eles para anotar seus pedidos. Como
você pode ver, o senhor está tomando café expresso e a senhora, um cappuccino,
certo?
- Concordo.
- Agora eu lhe pergunto: qual a
diferença entre os dois? O que um cappuccino tem que um café expresso não tem?
- Ah.. sei lá. – ele parou um
instante, não apenas para pensar na resposta, mas para imaginar onde essa observação
se encaixaria no pedido que havia feito. – O cappuccino, além de café expresso,
também leva leite e espuma.. é isso?!
- Exato! – exclamou ela apontando
o dedo para a testa do rapaz como uma professora querendo chamar a atenção da
sala ao aluno sabichão. – Agora, uma pergunta mais complexa: por que eles
fizeram pedidos tão sutilmente diferentes?
- Não sei.. talvez porque eles
sejam pessoas diferentes?!
- Novamente correto, querido.
- Está bem. Mas o que isso tem a
ver com a pergunta que lhe fiz antes?
- Cada pessoa tem um gosto, Ed.
Um dia, você encontrará alguém que leia o seu trabalho e visualize o café
expresso que sempre buscou. Simples assim. – disse ela, abrindo um sorriso
sincero – Agora preciso ir. Boa sorte com o livro, querido.
H (ainda há esperança!)