Imagem meramente ilustrativa
Quando eu era mais novo (mais de
idade do que de estatura), minha mãe dividia seu tempo entre os afazeres da
casa, os cuidados com os filhos e marido e seu principal hobby: a costura.
Como, para facilitar seu
trabalho, minha irmã e eu estudávamos em horários diferentes, ela sempre me
arrastava em suas viagens homéricas, em busca de tecidos, botões e demais
apetrechos necessários.
Quase sempre aceitei de bom grado
tal tarefa. Claro que tinha em mente o lado especulativo que essa empreitada
possibilitava. Era, salvo raríssimas exceções como aniversários, eleições e
visitas a parentes distantes, de aproveitar o bom humor e a grande disposição
da minha mãe para “exigir” algo em troca da minha prestativa função como filho.
Nada muito elaborado e/ou expansivo. Geralmente, uma guloseima ou salgado.
Porém, uma das minhas exigências
favoritas não passava nem perto da ala gastronômica.
Uma das lojas que minha mãe
visitava com maior freqüência ficava no bairro da Lapa. Defronte a supracitada
estava um Grupamento do Corpo de Bombeiros. E, na entrada deste, ficava uma
pequena fonte com peixes japoneses dos mais coloridos. No fundo, um tapete de
pequeninos objetos metálicos, em forma de brilhantes moedas.
Diferentemente de outros casos, nesta
loja, fazia questão de esperar minha mãe na porta. Ela, provavelmente com medo
de que eu aturdisse como um louco até o outro lado da rua, lançava um olhar
risonho à fonte, voltava-se para mim, passava a mão em minha cabeça e dizia:
“volto já”.
E lá ficava eu, estancado. O
olhar fixo e um desejo crescente, maior do que qualquer número que eu conhecia
àquela época.
Difícil explicar quais eram meus
sentimentos ao ficar ali parado. Tudo para mim era digno de admiração. Até as
pedras que adornavam a fonte eram especiais. Lembro que numa das primeiras
vezes que fomos até ela, perguntei a minha mãe porque as pessoas jogam moedas
aos peixes ao invés de comida. Minha genitora, que nunca foi dada a vislumbres
ficcionais, disse-me algo que, mesmo sem saber, transformou aquele lugar no
ponto conflitante entre minha realidade e minha imaginação: aquela era uma
fonte dos desejos!
Infelizmente, com o passar do
tempo e o assombro das responsabilidades acumuladas, tendemos a substituir esse
aspecto quixotesco da infância.
Ontem à noite, após quase 20
anos, passei novamente pela tal fonte. Tinha o caminhar apressado e fôlego
quase nulo. A última condução para meu merecido descanso sairia em poucos
minutos.
Não sei bem se foi a
tranqüilidade do horário ou minha felicidade pelo dia exaustivo que tive, mas
retrocedi alguns passos. Tal como Narciso, admirei meu reflexo, sombrio e
desbotado de luz artificial, antes mesmo de passar os olhos pelo entorno.
Tão saudoso quanto Casimiro de Abreu, lembrei-me daquelas manhãs gélidas e fugazes. Abri um pequeno sorriso,
agradeci e me afastei, sentindo-me renovado.
H (Novo.. denovo)
2 comentários:
continue fazendo poesia
Sei qual era a loja de tecidos: Varejão Chaves! (sensacional a escolha da imagem do post Aga! Chaves na fonte, Varejão Chaves, fonte dos bombeiros!!)Fui tb algumas vezes nesta loja qdo era criança, e também adorava uma "fonte dos desejos" muito próxima dali, mas não era a dos bombeiros e sim de uma loja de gnomos, fadas, bruxas e pedras. Tb era cheia de moedas, mas não tinha peixes...só pedras coloridas, fumaça e luz no fundo, mas encantava a pequena Jujuba de qualquer modo ;-)
O post me trouxe boas lembranças! Beijo!!
Saudades!!
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