quarta-feira, 23 de junho de 2010

Cabeceira do H: ao autor que não li



Não nos conhecíamos pessoalmente. Encontrávamos vez ou outra, ora numa livraria ou sebo, ora numa reunião entre amigos próximos. Na verdade, depois de certo tempo, nossos “esbarrões” tornaram-se bem freqüentes. Não podia se esperar menos, já que tínhamos um círculo de amizade muito parecido e, consequentemente, restrito.

Porém, apesar disso, além do fato de compartilharmos o mesmo idioma, nunca tivemos a oportunidade de trocar uma única palavra. Nem um “Olá! Tudo bem?!”, “Prazer em conhecê-lo”.

A solitária vez em que tentei lê-lo (“Memorial do convento”), foi graças a um dos meus tios maternos, um típico intelectual-entusiasta que, na falta de um filho, apreciava repartir sua vasta sapiência com seus sobrinhos (pensando bem, até me lembrou alguém agora! rs). Daí já se vão 12, 13 anos...

Consegui chegar, com hercúleo esforço, ao final do primeiro capítulo. Confesso que o achei deveras rebuscado para o meu gosto literário na época. Poderia ter lhe dado uma segunda chance. Na verdade, deveria! Mas estávamos em sintonias diferentes naquele momento. Eu havia acabado de descobrir Agatha Christie e o princípio de todo o seu universo lingüístico e construtivo. Ele, por sua vez, tinha seu modus operanti recompensado através do Prêmio Nobel. Logo virou moda, caindo nas graças dos povos de língua portuguesa que ainda não o conheciam. Não que ele precisasse disso. Realmente, não precisava. Mas quem não gosta de ter seu trabalho reconhecido em uma escala tão alta quanto essa?!

Mesmo assim, meu fascínio pelos romances policiais me cegava diante de qualquer outro gênero literário. Pelo menos, quando se tratava das minhas leituras livres, sem qualquer compromisso. E convenhamos, Saramago não é o tipo de leitura que se faz forçadamente. Não pode existir forma eficaz de apropriação através dessa fórmula retrógrada do nosso ensino público (post em breve).

Desde então, durante esses 12, 13 anos, venho adiando esse nosso embate. Mesmo trabalhando a mais de 4 anos numa biblioteca que possui (quase) todas as obras do literato luso, nunca sequer folheei uma de suas obras.

Aí está, confessado em linhas para a eternidade (?!): eu, Agamenon Picolli Leite, paulista, 27 anos, graduando de biblioteconomia (WTF?!), cinéfilo acima de tudo, jamais li (até o fim) Saramago. Mas, como dizem por aí, nunca é tarde demais para se redimir.

José de Sousa Saramago. Ateu, como provavelmente um dia eu também serei, morreu na última sexta-feira. Durante boa parte de sua passagem terrena, teve uma vida parecida com a minha de agora: sem muita emoção e/ou importância. Autodidata, felizmente descobriu a tempo uma maneira de deixar seus passos gravados pelos caminhos desse mundo. A partir daqui, tenho certeza que viveu prazerosamente até o fim.

"Todos sabemos que cada dia que nasce é o primeiro para uns e será o último para outros e que, para a maioria, é só um dia mais." (J. S.)


H (nunca é tarde para se tentar)

sábado, 12 de junho de 2010

FUTEBOL


Em época de copa do mundo é uma maravilha, nunca se vê tanto nacionalismo, tantos brasileiros, as ruas tornam-se bicolores sempre verde e amarelo, tudo muito lindo e embaixo de toda essa poeira os velhos problemas desse nosso país, mas, meu assunto é futebol e não política (esse assunto fica para uma outra oportunidade).
O futebol infelizmente eu conheci tarde, a primeira vez que pratiquei tinha por volta dos 07 anos em com um breve ensino dos colegas de escola consegui fazer meu primeiro gol... contra. Foi uma xingação dos diabos, e me botaram para fora do time.
Aos 08 descobri o que era time na base da porrada, me perguntaram que time torcia São Paulo ou Corinthians, achando que se referia a cidade onde tinha nascido infantilmente e de uma maneira totalmente ingênua respondi: "São Paulo", foi o suficiente para os conrinthianos me descerem o sarrafo e eu sem saber o porquê. Eu não tinha televisão, minha mãe estava separada do meu pai que já era caminhoneiro e não tinha como dar atenção para os filhos, talvez essa ausência explica o fato de não conhecer o futebol. Quando descobri decidi torcer pelo corinthians.
E nesse mesmo ano o Corinthians se consagrou pela primeira vez Campeão Brasileiro de 1990. O adversário da final por coincidência ou não foi o São Paulo.
Atualmente sou tão técnico quando os 190 milhões de brasileiros dessa pátria amada. Desejo toda sorte para o Dunga o futuro herói nacional ou o maior vilão de todos os tempos. Concordo com sua duvidosa coerência, exceto no fato de ele não ter convocado o Gaúcho acredito que sua convocação seria um diferencial para toda equipe e um "recado" para os adversários.
Fico na torcida para que o hexa possa vir com esses - como o Dunga gostaria de chamar - "soldados" e assim o hepta estaria garantido para a próxima Copa.
"São 190 milhões em ação, pra frente Brasil! Salve a seleção!"

sábado, 5 de junho de 2010

Dê-me um cigarro



Como um viajante, que sempre retorna nos lugares mais inesquecíveis, assim, sou eu quando escrevo no blog. Sempre lembro com carinho e sei que um dia eu "voltarei". Estou com um texto na minha mente a muito tempo, hoje voltei para
compatilhar.
Dê-me um cigarro
Toda sexta-feira quando volto do trabalho, passo no bar do Pépi peço uma dose de pinga com limão e mel para abrir o apetite, comprimento o Piauí, o Claudião e o Seríguela, que sempre estão lá, talvez até muito antes de eu chegar, e vou para casa. Naquela sexta resolvi ficar e ao invés de pinga resolvi tomar uma cerveja com os meus colegas de bar. Acho que seria interessante conhecer as pessoas do bairro, afinal, já morava nessas redondezas à 2 anos e não conhecia muita gente.
Aqueles homens parecia ser muito inteligentes, só me estranhava o Seríguela, um rapaz quieto, sem muitas palavras, um negro alto e forte com pinta de intelectual e sem muito assunto para compartilhar. As cervejas vinham e a conversa pairava entre fofocas de bar, futebol e novelas. De repente ouvi um berro:
-Pepi, dê-me um cigarro, um de cada marca!
Era um rapaz com mais ou menos 29 à 33 anos, vestia-se de social, uma camiseta amarelada, calça preta e sapatos sem meia. Não era um mendigo, a roupa estava bem passada e limpa. Um rapaz branco, barba bem feita, medindo por volta de 1,80. Mas parecia transtornado.
Pepi gritou do outro lado do balcão:
- Já vou! Pegou um cigarro de cada marca e colocou a mesa onde o rapaz já estava sentado.
- Quem é esse rapaz? Perguntei.
O Seríguela respondeu, com uma voz passiva e bem baixa:
- Seu nome é Fernando, o homem mais triste que conheço, ele mora aqui no bairro desde criança, nunca teve vícios e desde muito novo se dedicou as doutrinas cristã, estudava muito e na adolescência conheceu Raquel. Namoraram por muitos anos, terminaram juntos a faculdade de Comunicação Social e se casaram. Dois anos depois, Raquel engravidou, esperava o primeiro menino Pedro, uma homenagem ao apóstolo.
No oitavo mês, Raquel já sentiu que a bolsa tinha estourado, uma correria total. Fernando resolveu pegar uma carona, estava muito nervoso para dirigir, mas houve um acidente, faleceu a mãe e o bebê.
- Meu Deus que tragédia! E como você sabe de tudo isso Seríguela?
Perguntei.
Ele me olhou nos olhos e seus olhos negros encheram de
lágrimas, como se fizesse o possível para não chorar. E respondeu:
- Eu era o motorista, seu melhor amigo, padrinho do casamento e futuro
padrinho de seu primeiro filho.
Engoli toda saliva que brotava de minhas glândulas.
- Pepi dê-me um cigarro! Pedi.