Principal representante do arcadismo português, Manuel Maria Barbosa du Bocage, ou apenas Bocage, na verdade, foi uma pessoa de transição, tanto na vida quanto na escrita. Viajante errante, quase morto pela Inquisição, passou pelas principais terras da Coroa Portuguesa, inspirando-se por donzelas (a maioria, nem tão donzelas assim) e bebidas. No próximo dia 21, comemora-se 206 anos de sua morte, por aneurisma, na cidade de Lisboa. Segue um de seus sonetos mais conhecidos:
Contrição
Meu ser evaporei na lida insana
Do tropel de paixões, que me arrastava:
Ah, cego eu cria, ah mísero eu sonhava
Em mim quase imortal a essência humana:
De que inúmeros sóis a mente ufana
A existência falaz não me doirava!
Mas eis sucumbe a Natureza escrava
Ao mal, que a vida em sua origem dana.
Prazeres, sócios meus, e meus tiranos,
Esta alma, que sedenta em si não coube,
No abismo vos sumiu dos desenganos.
Deus... oh Deus! Quando a morte a luz me roube,
Ganhe um momento o que perderam anos,
Saiba morrer o que viver não soube.
(Bocage)
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