quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Top 10 músicas que mais ouvi em 2010


Mais um Top. Quem lê, pensa que minha vida inteira deve girar em torno disso. Uma meia-verdade, posso dizer seguramente.

A verdade é que me divirto muito com essas classificações e meditações até o resultado final. Como um bom bibliotecário, que nunca serei, fico levantando limitações, qualidades, preponderando prós e contras.

Esse ano de 2010 foi, disparado, aquele em que ouvi mais música e de forma mais diversificada. Relembrei clássicos, aceitei indicações de amigos e ‘parentes’, segui dicas de sites e blogs. Além, é claro, das trilhas de alguns filmes que assisti durante o período.

Dando continuidade à ideia lançada em janeiro passado, esse é o primeiro (de um número ainda incerto) post em formato retrospectiva que escrevo: o “Top 10 músicas que mais ouvi em 2010”. Espero que vocês gostem da seleção tanto quanto o meu celular (pseudo MP3). Fiz pequenas contextualizações que julguei necessárias para cada música.

Como de costume, cabe fazer algumas ressalvas: 1) nenhum artista, apesar de ter acontecido e, isso eu explicarei a seguir, se repete; 2) tentei ao máximo não ofender (ou mesmo citar) pessoas e eventos durante as explicações; 3) pelo grau de dificuldade durante a escolha, inclui algumas ‘menções honrosas’ no final do post. Segue a lista:


10) The Strokes – I’ll try anything once

Confesso que não gosto dessa banda. Desde a longínqua ‘Last Nite’, nunca tinha ouvido sequer falar sobre eles. Logo, essa música só está aqui porque faz parte da trilha sonora de um dos melhores filmes que vi, na 32ª Mostra de Cinema: ‘Um Lugar Qualquer’ (Somewhere), da diretora Sofia Coppola. O filme em si é tão parado quanto ‘Encontros e Desencontros’, da mesma diretora. Mas ele me fez refletir sobre o tédio de estarmos, quase sempre, em lugares e/ou situações que não nos agradam. E é isso que essa música me faz sentir quando a ouço.




9) The Stereophonics – Maybe Tomorrow

Há uns dois anos atrás, a dona de um blog que acompanho, ao comentar um post meu, indicou essa canção como vertente aquilo que havia escrito. Gostei tanto que fui a caça de outras da mesma banda. Porém, essa ainda é a minha favorita (deles) por um motivo bem parecido com a citada anteriormente: o tédio, a sensação de estagnação perante suas próprias decisões.




8) Mike and the Mechanics – Over my shoulder

Desilusão amorosa é foda. E quando você se declara para a outra pessoa então, não recebendo uma resposta equiparada em troca?! Aí é descer ao nível mais obscuro da patética trajetória de uma vida. Onze anos atrás, época da minha primeira paixão adolescente, eu me senti assim. E, em 2010, mais precisamente no segundo semestre, aconteceu tudo outra vez. As semelhanças foram gritantes! Vi-me novamente como um lixo, sem objetivos por almejar. Cheguei ao ponto máximo de recordar a música de fossa que me fez afundar ainda mais no poço do meu desencanto.




7) Oasis – Wonderwall

Antes de 2010, nem consigo me lembrar qual foi a última vez que tinha ouvido essa música. Não sou do tipo que gosta de bandas (com raras exceções). Curto música, sonoridade, independente do intérprete. Oasis é uma dessas raríssimas exceções. E ‘Wonderwall’ foi, durante o bimestre agosto/setembro, TODA minha playlist. Desde então, não consegui mais ouvi-la. Até hoje, claro.. rs




6) The Beatles – Get back

Apreciar o som dos Beatles é algo que agradeço a minha mãe. Fora ‘Twist and shout’, que tomei conhecimento quando assisti ‘Curtindo a vida adoidado’, nenhuma outra canção deles havia me chamado atenção. Até surgir a memória bem calibrada da minha velha. Inclusive, ‘Get back’ poderia ter outras parceiras nesta lista. Mas, daí, não sobraria espaço para as demais músicas.. rs




5) Beady Eye – Bring the light

Como eu disse no início do post, nenhuma banda poderia se repetir. Porém, não tive como deixar Liam Gallagher de fora, tanto com sua antiga banda (Oasis), quanto com essa sua nova empreitada. Esse primeiro single, lançado em meados de outubro, já deixa claro que o grupo irá se basear na sonoridade do rock dos anos 50. Se isso não basta para explicar o porquê da 5ª colocação, que tal isso: ‘Bring the light’ é foda pra carai..!




4) Cee Lo Green – It’s ok

Esse foi indicação de blog. Graças ao Chongas, tomei conhecimento dessa música que logo virou chiclete. Talvez pelo próprio momento.




3) AC/DC – It’s a long way to the top (if you wanna rock and roll)

Aprendi a tocar bateria aos 16 anos. Em 2000, juntamente com 4 amigos, participei de uma dessas BG (banda de garagem), só para preencher as tardes e se achar alguém importante. Na verdade, era só pretexto para beber, fumar e, assim, fugir do mundo. Pois bem, em 2010, retomei contato com um colega dessa época. Entre várias recordações, surgiu essa ‘obra de arte’ do AC/DC, a primeira música que tocamos minimamente bem. Ouvi-la repetidas vezes teve um efeito revigorante, fazendo-me relembrar alguns fatos dessa tenra idade que julguei ter enterrado para sempre.




2) Ray Charles – What’d I say

Como pseudo-baterista, sei muito bem reconhecer minhas limitações. E uma delas é nunca ter conseguido acompanhar a batida do baterista nessa música do Ray Charles.




1) Miike Snow – Song for no one

Taí outra música que tomei de indicação do blog Chongas. Depois de ouvi-la, tudo me parece mais calmo. Desde setembro, tem ficado entre minhas preferidas. Aliás, não foi a única do Miike Snow que apreciei nesses últimos meses, destacando também a viciante ‘Black & blue’.




Menções honrosas:

* Trilha do filme ‘Whip it’, primeiro da Drew Barrymore na direção. Uma seleção interessante, incluindo Ramones e Radiohead;
* Trilha do filme 'Homem de Ferro 2'. AC/DC na veia!;
* ‘Paradeiro’, da Marisa Monte com participação do Arnaldo Antunes;
* ‘Use somebody’, do The Kings of Leon;
* E, recentemente, ‘Little baby pines’, do Sunbears!, que ouvi nessa retrospectiva com os principais filmes do ano.


H (music is everything)

domingo, 26 de dezembro de 2010

Grazie...


Como faço desde 2007, esse meu Natal foi um dia de silêncio. Não uma meditação espiritual ou com qualquer ligação religiosa. Não. Apenas um momento de reflexão pelo ano que passou.

Pois é.. logo eu que, alguns post atrás disse (ou escrevi, sei lá! rs) não acreditar nessa "mística" pausa. Envelhecer realmente não pode fazer bem para ninguém.. rsrs

Bom, não será agora que transcreverei minha retrospectiva e avaliação do ano. Este é apenas meu post agradecimento a todas as pessoas com as quais convivi nesses últimos 365 dias. Conversas, discussões, e-mails, fotos, olhares, momentos, experiências.. enfim, sou grato a todos e todas (sem exceções).

Sei que a música a seguir é por demais brega, mas representa muito bem esse agradecimento.





H (speciale)


* Imagem retirada daqui

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Conversação, metamorfose, aquarela

Metamorfose de Narciso, de Salvador Dalí

Um dia, meu filho, quando você já estiver bem próximo da minha idade, você olhará para essas mesmas lembranças e sentirá falta de tudo relacionado; Porém, e é o mais provável que aconteça, talvez você simplesmente nem as recorde, daí você apenas perceberá que sente falta de algo, sem saber ao certo de quê.”

No feriado mais recente, pela primeira vez eu anos, sentei-me com minha mãe para conversar. Não foi nada programado, até porque, se o fosse, certamente não funcionaria. Mesmo morando juntos todos esses anos, nossas conversas deixaram de ser rotina há pelo menos uma década.

Talvez pelo próprio momento de ambos, foi quase inevitável esse “encontro”. Eu precisava de um “colo” (e minha mãe é ótima pra isso) e ela precisava de dois ouvidos. As palavras brotavam com naturalidade. Mais emotiva do que eu, não demorou muito para ela estar aos prantos. Eu parei de falar. Fiquei ali só olhando para seu rosto já marcado por profundos vincos de sofrimento e auguras. E aqui eu quero abrir um parêntese:

Minha mãe, a primeira de sete filhos, nasceu no interior do Paraná. Perdeu a mãe logo cedo (aos 4 anos) e foi criada pela avó materna. Uma educação rígida: mulher não tinha que estudar; tinha que aprender tudo relacionado ao lar: cozinhar, lavar, passar, cuidar das crianças. O máximo de liberdade que ela conseguiu foram as aulas de costura, isso já com quase 20 anos. Nessa mesma época, surgiu o primeiro pretendente a marido. Ela não o quis. Não queria ficar presa aquela cidade, às lembranças que só lhe faziam mal. Não queria levar uma vida de dona de casa. Tinha o sonho de ser professora. Porém, destino escrito não tem como ser ludibriado. Anos mais tarde, ela conheceu meu pai. Como já estava (segundo a própria) naquela idade crítica onde não choviam tantas opções, resolveu se casar com ele mesmo. E daí já se vão 30 anos como dona de casa. Criando filhos, agüentando desaforos, engolindo revoltas.

Enquanto ela desabafava suas mágoas, eu me perguntava quantas daquelas rugas em seu rosto não eram por minha causa. Quantas noites em claro ou mal dormidas ela não deve ter passado ao meu lado? Quantas vezes foi me defender na escola? E tantas outras coisas que não consigo quantificar agora.. e quando foi que eu lhe agradeci?! Ou, na melhor das hipóteses, tomei conta de sua dedicação?!

Percebi que os meus problemas não passavam de pequenos arranhões perto dos socos e pontapés que a vida já havia lhe dado. Meus olhos ficaram marejados diante de tal sensação. Será que, um dia, serei assim também, frustrado com o rumo que minhas escolhas me levarão?!

Resolvi, a partir daquele momento, parar de transformar meus problemas solucionáveis em obstáculos intransponíveis. Afinal, todos nós temos alguns. É a nossa forma de lidar com cada um deles que nos define.

E eu, nesse ponto, sou um fracassado. Primeiro, porque ainda não aprendi a lidar (satisfatoriamente) com meus problemas, mesmo quando eles se repetem várias e várias vezes. Arrumo fugas e escapatórias mirabolantes (algumas, bem fantasiosas). Tudo porque não tenho coragem de enfrentá-los (os problemas) de frente. Talvez porque fui criado assim: ao menor sinal de perigo, “corra para as colinas!” (rsrs). Segundo, porque tal maneira de não-enfrentamento acaba, muitas vezes, transparecendo aos demais como uma falha, uma arrogância da minha parte. E não o é. Ao menos, não de todo. É apenas o único modo de agir que conheço.

Ou melhor, conhecia! Graças a algumas pessoas (para as quais estou preparando um post-homenagem em breve), estou conseguindo aprimorar minha auto-estima, aprendendo a enxergar e, principalmente, me sentir completo pelas minhas próprias conquistas.

Assim, sinto que estou deixando de ser (apenas) aquele objeto frio e reflexivo, um ‘espelho voltado aos que me rodeiam’, um pedaço de vidro moldado alheiamente. Metamorfico-me, aos poucos, sem pressa, num quadro inacabado. Minha própria obra de arte. Minha vida de óleo em tela.


H (“O que não me mata, me fortalece”, Friedrich Nietzsche)


* Imagem retirada daqui