Os primeiros filetes de luz começam a se embrenhar pelos lençóis. Assumem formas segundo os relevos destoantes da cama. O recinto, aos poucos, vai adquirindo uma tonalidade alaranjada, como se a alvorada estivesse espiando pela janela, porém, sem medo de ser descoberta.
Mas nosso personagem, ali servindo de recheio para esse lanche têxtil, ignora tais fatos. Encontra-se semi-desfalecido, apreciando o sono dos campeões. Afinal, ele se deu muito bem ontem!
O celular vibra sobre o móvel junto a cabeceira. O incômodo que tal som provoca, misturado a preguiça, faz com que ele afunde ainda mais a cabeça no travesseiro. “Logo ele pára”, pensou. Mas o aparelho parecia ter ganhado vida! Não havia outra solução: abriu apenas um dos olhos, medindo bem a distância até seu desafeto. Alcançou-o, num esforço hercúleo, com a mão direita. “Reunião em duas horas”. É, segunda-feira era mesmo um dia amaldiçoado para um “caçador”.
Esticou o braço em direção a outra metade da cama. Gostava quando elas tomavam a iniciativa de saírem de fininho. “Mais uma para a coleção”, refletiu com um sorriso maroto nos lábios.
Enquanto se espreguiçava, já sentado na beirada da cama, o celular foi tragado pelo redemoinho que há poucos instantes era seu aconchego. Piscou as pálpebras várias vezes até se acostumar com a luminosidade do quarto. Viu suas roupas dobradas no braço da poltrona. Ela estava ganhando pontos.. ele tinha certeza que, na noite anterior, as roupas formaram uma trilha pelo corredor até a porta do quarto.. essa merecerá uma ligação. Daqui umas três semanas. Ou mais.
Durante o banho, iniciou o ritual: barba, água não muito quente, sabonete líquido hidratante, shampoo anti-queda e condicionador. Metrossexual?! Não. Apenas gostava de se cuidar, porque era o mínimo que uma mulher moderna exigia para transar logo no primeiro encontro. Ah, e como ele adorava esse tipo!
Percorreu o curto caminho entre o banheiro e o quarto com uma toalha enrolada na cintura (D. Thereza, a sua mãe, costumava levantar cedo e ele não queria ser surpreendido “do jeito que veio ao mundo” por uma senhora de 62 anos!).
Assoviando a marcha de “A ponte do rio Kwai” (coisa que gostava de fazer quando estava alegre), de repente, estancou na porta do quarto. Havia algo errado ali. Aliás, muito errado! Aquele não era seu quarto! Estava tudo muito arrumado: chão e paredes limpíssimos. Cortinas, poltrona?! Seu quarto não tinha nada disso!
Saiu de lá aos berros: “Mãe?! Mãe?! Onde você está? Mãe?!”. Ao chamar a genitora pela última vez, acabara de adentrar a cozinha. E, definitivamente, aquele não era seu apartamento. Ao contrário da sua, aquela era do tamanho de um campo de futebol! Olhou ao redor boquiaberto, porém mantendo a porta em seu campo de visão. Estava temeroso em se perder no meio de tantos utensílios. A sua cozinha tinha, no máximo, uma geladeira e um microondas. Aquela ali, só não tinha mobília. Porque, de resto...
Tentou se lembrar de como havia parado ali, naquele apartamento enorme. Em vão. Num ato automático, e já demonstrando um princípio de descontrole, começou a apalpar seu abdômen, na ânsia de encontrar a marca de uma cicatriz recente. Nessas horas, nada mais o surpreenderia.
Bom, mas já que estava na cozinha, resolver vasculhar atrás de comida. Logo localizou a geladeira. Da porta pendia um pequeno bilhete onde pode ler: “olá estranho. Desculpe não tê-lo acordado, mas tive um vôo logo cedo. Tem pão e frios na geladeira, fique à vontade. Apenas me faça um favor: hoje a minha empregada não vem. Então, você poderia levar o lixo quando sair? Obrigada. P.s.: quase esqueci! Como você havia me pedido, tem dinheiro para o táxi na gaveta da escrivaninha. Deixe seu telefone que ligarei, assim que chegar”.
Modernidade demais, não é, ‘homem moderno’?!
H (uma tentativa de resposta ao desafio desse post)
2 comentários:
Só uma coisa a dizer: kkkkkkkkkk
Homen Moderno, Mulher Pós-Moderna!
Mulheres 1 x Homens 0.
Postar um comentário