sábado, 4 de junho de 2011

Per te, nonno


Quatro de junho. O segundo dia mais triste do ano. Para mim.

Não sou muito bom com datas comemorativas. Aniversários, festejos, namoros, primeiras vezes. Quase sempre passam batido, devido meu déficit de atenção para essas coisas. As poucas as quais dispenso alguma atenção, logo perdem o propósito com a passagem dos anos. Para essas, e algumas mais, ao menos (agora) tenho a tecnologia como suporte.

Mesmo assim, existem aquelas que, alheias a qualquer vontade ou transpor do tempo, continuam lá, firmes e fortes, gravadas no calendário das minhas lembranças.

Pois bem, hoje é uma dessas. Se nossos mais sinceros desejos e vontades fossem realmente passíveis de alcance, hoje, meu avô materno estaria completando 80 anos. Nascido no interior do estado do Paraná, no seio de uma família nem de longe abastada financeiramente, aprendeu desde muito cedo a lidar com os trabalhos do campo, ajudando meus bisavós no sustento da casa.

Assim como seus outros 11 (!!) irmãos, teve uma educação básica. Afinal, o que mais um homem do campo precisava saber além de ler, escrever e fazer alguns cálculos?

Casou-se pela primeira vez em 1952, com Ludovina Ricordi, com quem teve dois filhos (minha mãe e meu tio mais velho). Porém, complicações de um câncer fizeram o casamento durar apenas quatro anos. Casou-se novamente em 1959, com Angelina Piaí. Com ela, teve mais cinco filhos. A família toda se mudou para São Paulo no final da década de 1970.

Assim que conseguiu sua aposentadoria e a maior parte dos filhos já se encontrava encaminhada na vida, desistiu do “agito” da cidade grande e mudou-se novamente, com a esposa e os dois filhos mais novos para o interior do Estado (Leme). E foi aqui, durante mais de cinco anos que tive um contato com meu avô digno de apontamento.

Era um homem simples, sem grandes ambições. Apenas queria ver os filhos bem resolvidos, seus netos felizes e a esposa sempre disposta a lhe preparar um belo sanduiche de mortadela.. rsrs. Não era fanático por nenhum esporte ou time de futebol. Evangélico fervoroso, não gostava muito de discutir religião com os demais (talvez eu tenha “puxado” isso dele.. rs).

Até os 60 anos, tinha uma disposição física invejável. Porém, como era de se esperar, aos poucos os músculos já não podiam corresponder a sua disposição. Foi definhando até chegar ao ponto de só conseguir levar da cama e alcançar a cadeira que deixava na garagem, de onde podia tomar um pouco de ar, ver o movimento na rua de sua casa e trocar “dois dedos de prosa” com quem gostasse de ouvi-lo falar.

E como falava bem! Contava histórias das quais (de alguma forma) havia tomado parte com uma vitalidade e paixão que até hoje me invejam.

De 1995 a 2000, o período entre o Natal e Ano-Novo era uma verdadeira festa naquela casa: sete filhos, genros e noras, dez netos.. todos reunidos! No último amigo-secreto em família que organizamos, ele tirou o meu nome. Recebi um dos abraços mais afetuosos que me recordo. Dois meses e meio depois, na noite de 11 de março de 2001, ele nos deixou.

Bisneto do primeiro Picolli que desembarcou no Brasil, não era muito versado no italiano. Sabia um ou outro palavrão. Herança dos pais.. rs

Se ele estivesse vivo, gostaria de lhe dizer tantas coisas que nem sei por onde começar: que consegui realizar meu maior sonho; que (como prometido) ainda não me casei; que desfrutei sim os inúmeros momentos de alegria proporcionados; que (ainda) não cheguei a 1 milhão de amigos, mas considero os poucos que possuo como uma multidão tão grande quanto; porém, principalmente, gostaria de dizer que tenho muito orgulho de descender de sua linhagem; que sou muito grato pelos ensinamentos; que, esteja onde estiver, espero tê-lo orgulhado em vários instantes da minha caminhada; e, por fim, que sinto muita, mas muita saudade mesmo, das nossas conversas vespertinas, regadas a gelinho e risos sinceros.

Espero, um dia, chegar a ser um décimo da pessoa maravilhosa que o senhor foi. Nesse dia, poderei (enfim) escrever no meu caderninho mental: “Hoje, sou um ser humano.. completo”.


H (parabéns, meu velho!)

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