quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Mórbido monólogo



Depois de passar 2 dias completos pensando apenas nela, decidi faltar ao trabalho e fazer algo de mais útil no último feriado: fui ao seu encontro. E, a palavra que melhor pode defini-lo é “estranho”.

Foi estranho revê-la sem contar com sua presença física. Foi estranho ler seu nome, acocorar-me diante dele e refletir sobre o que dizer. Talvez não devesse dizer nada. Não sei se meu silêncio faria alguma diferença. Para ela, certamente não faria. Mas desabafar foi crucial para mim.

Fiquei ali, aos seus pés, por mais de duas horas, relatando tudo que julguei relevante. Pessoas me circundavam o tempo todo, algumas estavam absortas em seus próprios pensamentos; outras, curiosas à distância; haviam alguns fantasmas também. Mas esses surgiam e morriam conforme as frases atravessavam minha boca e pegavam carona na suave brisa linense.

Tive inúmeros instantes de silêncio constrangedor até perceber que minha teatralidade não passava de um monólogo. Uma morbidez inspirada por outrem. Não estou acostumado com isso. Sempre, em nossas conversas, fiz o papel de bom ouvinte. Porém, desta vez, o roteiro me pertencia. Logo, cabia a mim fazer a escolha certa de palavras. Ou não.

Nosso encontro (que nunca chamarei de visita) rendeu muito. Claro que não me senti aliviado como pessoas próximas me afirmaram que me sentiria. Contudo, relembrar momentos passados juntos me rendeu alguns risos sinceros e uma recordação musical das mais inusitadas: canções das quais tenho vergonha de dizer que gosto. Sinto-me envergonhado ao relembra-las, principalmente, por retratarem momentos embaraçosos que passamos juntos. E por serem artistas dos quais nunca nutri a menor fração de admirador. Essa é e sempre será ela: alguém que me inspira e vexa, mesmo ausente fisicamente.

Mas antes de enumera-las (o que ficará, devido ao tamanho deste, para um próximo post), acho essencial abrir aqui um parêntese para falar diretamente com ela: fiz uma visita rápida aos seus pais. Eles continuam como da última vez que os vi. Como imaginei, talvez pelo sofrimento ainda recente, evitaram mencionar seu nome. Certamente, já sabiam o motivo da minha aparição repentina. Seu pai me ofereceu café e se mostrou interessado pelo meu trabalho. Sua mãe me acompanhou até o portão da casa, deu-me um beijo na bochecha e sussurrou um “obrigada por ter vindo”. Prometi ligar quando terminasse a jornada de volta. Por uma boa causa, quebrei minha promessa. E estou prestes a quebra a outra que lhe fiz.


H (Gélido)

3 comentários:

Anônimo disse...

H enigmático e piegas....bj

Anônimo disse...

"Comprometo-me ao extremo, combino encontros a que nunca irei, pronuncio palavras vãs,
minto dizendo: até amanhã. Pois não haverá."

Anônimo disse...

"Decifra-me, mas não me conclua, eu posso te surpreender".