domingo, 6 de setembro de 2015

Amanhecer calmo: um sábado de reflexão



Sábado. O dia amanhece tão preguiçoso quanto eu. Nem o banho gelado (sim, eu adoro!) e o café sem açúcar que tomo antes de sair parecem ajudar na disposição que preciso. O que me anima é o fato de saber que este não será o único café que tomarei ao longo do dia. Sim, eu ainda me contento com pouco.

Como toda pessoa (ou a grande maioria) de “meia idade”, adquiri uma mania que alguns amigos, por várias vezes, já apelidaram de TOC: procuro organizar tudo que utilizarei logo cedo ainda no dia anterior. Pensando bem, de certa forma, isso é um TOC. Mas não ligo para isso. Estou ficando velho e acho que posso me permitir uma psicose ou outra. Mantem a mente ocupada e me deixa sempre alerta.

Saio de casa tranquilamente. Prefiro sempre reservar alguns minutos de folga para fazer uma caminhada pausada até o ponto de ônibus.

Sei que pode parecer estranho, mas, apesar de detestar acordar cedo, eu gosto de manhãs. Acho que capitei isso por osmose, já que um grande amigo era idêntico neste quesito. Gosto de apreciar a variedade de cores, o aroma mais fresco e (em certos dias) mais úmido do ar. Até aquela brisa fria e dilacerante tenho como um coringa.

Na metade do caminho, um casal passa por mim numa corrida sincronizada. Eu solto outra bufada de fumaça do cigarro, que logo desaparece em redemoinho acima da minha cabeça. E penso: respeito muito quem acorda tão bem disposto a ponto de promover uma corridinha pelo bairro, com o cônjuge junto. Mas nunca invejarei isso! De forma alguma. Alguns anos atrás, uma ex-namorada tentou me “por na linha” como ela mesma dizia. Aos finais de semana, acordávamos bem cedo e pedalávamos por quase duas horas sem descanso. O namoro não durou 3 meses. Esforcei-me muito para adquirir esta “barriga de pochete”. Seria, no mínimo, insano fazer ainda mais esforço para perde-la. Não sou tão desalmado com as minhas coisas!

Está uma manhã mais fria do que eu havia previsto. Não que eu me importe com isso. Gosto muito do frio. Além de manter minha sudorese sob controle, ainda me dá mais disposição e auxilia nas minhas já raras horas de sono.

Mais à frente, vejo uma senhora com um casaco puído parada na calçada. Ela olha vagamente para um lado, depois para o outro. Parece perdida ou procurar alguém que está para chegar. Estou a 10 passos dela e não consigo deixar de pensar: “não seria engraçado se ela anunciasse um assalto assim que me visse?”. Eu abro um sorriso amarelo, mais por visualiza-la ir embora com uma mochila surrada contendo um livro, um sanduiche e uma maçã, do que pelo fato disso realmente acontecer.

Quando estou a dois passos da senhora, o MP3 faz uma breve pausa na troca das músicas e posso ouvi-la me chamar. Instintivamente, libero um dos meus ouvidos e me mostro solicito para ajuda-la. Ela me oferece duas coisas. Um “bom dia” muito simpático e sincero; e um panfleto com os dizeres ‘Você está pronto para aceitar Jeová em sua vida?’ na capa.






Eh... a velhinha abre um sorriso como se achasse que isso me ajudaria a estender a mão e aceitar o panfleto de bom grado. Sem saber, ela me coloca num dilema: não costumo negar aceitar o que me é oferecido “na rua” por estranhos. Porém, sou quase um ateu.

Mas decido que ela está com sorte. Levantei de bom humor e o clima frio só faz corroborar essa sensação. Aceito o panfleto e retribuo o cumprimento. Nem preciso dizer qual das duas coisas oferecidas pela velhinha saltou comigo no meu destino, né?!

Este sábado foi estranho. Um bom sábado. Mas sem religião para mim, por favor!



H (religião é o cúmulo)

3 comentários:

Anônimo disse...

"São 7 horas da manhã
Vejo Cristo da janela
O sol já apagou sua luz
E o povo lá embaixo espera
Nas filas dos pontos de ônibus
Procurando aonde ir
São todos seus cicerones
Correm pra não desistir"

Alê disse...

Aga(menon)

Eu também passo por isso na rua e fica complicado, porque sim, eu tenho religião, mas respeito tudo.

Fico a como é complicado por vezes se falar que se é ateu ou quase ateu e acho que isso não tem nada a ver.

Se você é quase ateu e está tudo bem, ótimo!

A vida é muito mais do que religião ou aceitar alguma salvação: acho que a vida é aceitar cada um como se é e a salvação é estarmos todos bem, conversando e nos entendendo.

Adoro seu blog.

Alê (Menina Voadora)

Alê disse...

Faltou a palavra: Fico imaginando... (no segundo parágrafo).

É a timidez em escrever comentários.

Morro de vergonha.

Eu sou uma leitora silenciosa.

:)

Alê