Não é fácil para ninguém admitir que se tem um vício. Até porque, a própria alcunha do termo surge da visão alheia sobre algo que age sofregamente sobre nossos sentidos. Para quem a faz uso (ou é usado), tal ato é tido apenas como uma escapatória, ou ainda, uma maneira prazeirosa de curtir alguns instantes de vida.
Muitas vezes para facilitar uma interação grupal, desafiar parentes ou somente para chamar a atenção (fazendo algo estúpido, na maior parte do tempo), somos compelidos a tomar partido de substâncias duvidosas e tentadoras, verdadeiros chafarizes do convívio sociocultural de uma fase conturbada da vida.
Eu admito. Vivi vários desses momentos, fazendo uso de algo que não me orgulho nem um pouco. Tudo começou como na maior desses casos: influência de amigos. Aos 16 anos, em uma busca desnorteada por identificação, acabei por aceitar tal vício como um passe de entrada para um universo paralelo. Meu universo.
Não foi a mais sábia das decisões. Porém, pior do que o início foi a sua continuação. Porque tudo age como num poço sem fundo. Prevendo que a descoberta de tal malefício por parte dos meus pais seria o fim do paralelismo dos meus universos, tive que inventar e recriar mentiras para justificar meias-verdades ensaiadas com precisão cirúrgica. Cheguei ao ponto de não comentar meus trabalhos de meio-período como office-boy e meu estágio numa escola de informática que, na verdade, era remunerado. Tudo isso para garantir as provisões de sustento do meu vício.
Vivi dessa forma por quase 2 anos, até que uma perda muito significativa me fez rever alguns fatores do que eu gostaria para o meu futuro. Assim, claro, depois de muito custo, abandonei esse artifício questionável.
Contudo, ainda hoje sofro de remorso por não haver contado aos meus pais sobre isso quando tive chance. Talvez tenha sido melhor assim.
H ("dá-me um cigarro")
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