É quase tragicômico verificar o quão supérfluas e abismais são nossas relações humanas. E não estou falando apenas das amorosas.
Dez anos atrás eu tive uma dessas amizades que nos fazem pensar que a importância de tudo está na convivência. Uma experiência diferente de muitas outras, já que se tratava de uma amizade entre um adolescente e uma mulher.
Não era uma mera amizade, essa é a verdade. Era como um amor platônico. Uma paixão impossível, uma admiração exacerbada. Ela, assim como muitas outras antes e após, serviu-me de inspiração para compor poemas piegas e auto-flagelantes. Mesmo assim, éramos amigos. Respeitávamos um ao outro e essa troca de poemas só o deixava (o respeito) ainda mais evidente.
Porém, infelizmente em alguns casos, a vida segue seu rumo que nem sempre nos é o mais benquisto. Ficam para trás nossas interações, nossas conversas sem sentido, nossos votos de felicidade, nossos sorrisos desconfortáveis, nossas palavras semi-ditas.
Em abril de 2001, como uma forma singela de marcar seu aniversário, dediquei-lhe um dos meus melhores poemas, cujo original ficou sumido até duas semanas atrás quando ressurgiu numa das minhas limpezas trimestrais. Foi constrangedor reler aqueles versos pueris, aquela caligrafia hieroglífica, aquela inocência que não se faz mais sentida:
Querida musa dos falsos pastores,
quem diria, então, logo eu
que, diga-se, não tenho nada de Dirceu,
seria mais um de teus admiradores.
Meu coração, que por anos como múmia viveu,
hoje já não morre, mas suspira de amores.
E, agora, abobalhado, enfeita-se de flores
para receber apenas um enigmático sorriso teu.
Coitado do pobre e gentil querido
que só conhece felicidade se for contido
e com nenhuma mais.
E cada vez que vê a Lua, ele berra seu canto esquecido:
Marília, por ti seria eu um mendigo,
para de grão em grão, te amar demais!
E, qual não foi a minha surpresa ao conhecer, seis anos depois, alguém com o mesmo nome. Claro que me aproveitei do fato e, por meio de uma mentira, apreciei os piores 16 meses de toda a minha vida.
Ontem foi seu aniversário. Novamente. E me deu aquela vontade de ligar, questionar sobre sua vida, saber sobre suas realizações, sobre as novidades que permeiam sua rotina. Contudo, faltou-me coragem.
As lembranças das palavras refreadas, tornando obscuro nosso convívio, as atitudes incompreensíveis, que levavam a discussões infinitas, as ações não concretizadas, gerando desconfortos insuportáveis, enfim, todas essas coisas, afastaram qualquer resquício da coragem que ainda existia em mim.
Foi melhor assim. Hoje, eu vivo outro momento. Não sou completamente feliz ainda, mas estou contente com o repouso que encontrei aqui. Sinto-me o mais perto de casa que já estive.
H (Congratulations, my perfect stranger)
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