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domingo, 16 de outubro de 2016

Happy Birthday, beautiful stranger

Nosso último filme 


Gostaria de escrever aqui uma história engraçada que passamos juntos. Ou, até, contextualizar alguma de suas inúmeras lições de ética e moral, exemplificada sempre de uma maneira debochada e simplória. 

Porém, cheguei a conclusão que nossas histórias não servem aos outros. Foram nossas e assim serão até que o Alzheimer ou a morte me visitem. Talvez, um dia, eu decida escrever algo mais elaborado sobre. Um livro anônimo ou um post multifacetado, quem sabe?!

Contudo, por enquanto, o quê posso dizer é: feliz aniversário, bela estranha. Esteja você onde estiver. E obrigado por esbarrar, propositalmente, em mim naquela festa. Infeliz daquele que nunca levou um esbarrão seu.




H (Miss you)

sábado, 4 de junho de 2011

Per te, nonno


Quatro de junho. O segundo dia mais triste do ano. Para mim.

Não sou muito bom com datas comemorativas. Aniversários, festejos, namoros, primeiras vezes. Quase sempre passam batido, devido meu déficit de atenção para essas coisas. As poucas as quais dispenso alguma atenção, logo perdem o propósito com a passagem dos anos. Para essas, e algumas mais, ao menos (agora) tenho a tecnologia como suporte.

Mesmo assim, existem aquelas que, alheias a qualquer vontade ou transpor do tempo, continuam lá, firmes e fortes, gravadas no calendário das minhas lembranças.

Pois bem, hoje é uma dessas. Se nossos mais sinceros desejos e vontades fossem realmente passíveis de alcance, hoje, meu avô materno estaria completando 80 anos. Nascido no interior do estado do Paraná, no seio de uma família nem de longe abastada financeiramente, aprendeu desde muito cedo a lidar com os trabalhos do campo, ajudando meus bisavós no sustento da casa.

Assim como seus outros 11 (!!) irmãos, teve uma educação básica. Afinal, o que mais um homem do campo precisava saber além de ler, escrever e fazer alguns cálculos?

Casou-se pela primeira vez em 1952, com Ludovina Ricordi, com quem teve dois filhos (minha mãe e meu tio mais velho). Porém, complicações de um câncer fizeram o casamento durar apenas quatro anos. Casou-se novamente em 1959, com Angelina Piaí. Com ela, teve mais cinco filhos. A família toda se mudou para São Paulo no final da década de 1970.

Assim que conseguiu sua aposentadoria e a maior parte dos filhos já se encontrava encaminhada na vida, desistiu do “agito” da cidade grande e mudou-se novamente, com a esposa e os dois filhos mais novos para o interior do Estado (Leme). E foi aqui, durante mais de cinco anos que tive um contato com meu avô digno de apontamento.

Era um homem simples, sem grandes ambições. Apenas queria ver os filhos bem resolvidos, seus netos felizes e a esposa sempre disposta a lhe preparar um belo sanduiche de mortadela.. rsrs. Não era fanático por nenhum esporte ou time de futebol. Evangélico fervoroso, não gostava muito de discutir religião com os demais (talvez eu tenha “puxado” isso dele.. rs).

Até os 60 anos, tinha uma disposição física invejável. Porém, como era de se esperar, aos poucos os músculos já não podiam corresponder a sua disposição. Foi definhando até chegar ao ponto de só conseguir levar da cama e alcançar a cadeira que deixava na garagem, de onde podia tomar um pouco de ar, ver o movimento na rua de sua casa e trocar “dois dedos de prosa” com quem gostasse de ouvi-lo falar.

E como falava bem! Contava histórias das quais (de alguma forma) havia tomado parte com uma vitalidade e paixão que até hoje me invejam.

De 1995 a 2000, o período entre o Natal e Ano-Novo era uma verdadeira festa naquela casa: sete filhos, genros e noras, dez netos.. todos reunidos! No último amigo-secreto em família que organizamos, ele tirou o meu nome. Recebi um dos abraços mais afetuosos que me recordo. Dois meses e meio depois, na noite de 11 de março de 2001, ele nos deixou.

Bisneto do primeiro Picolli que desembarcou no Brasil, não era muito versado no italiano. Sabia um ou outro palavrão. Herança dos pais.. rs

Se ele estivesse vivo, gostaria de lhe dizer tantas coisas que nem sei por onde começar: que consegui realizar meu maior sonho; que (como prometido) ainda não me casei; que desfrutei sim os inúmeros momentos de alegria proporcionados; que (ainda) não cheguei a 1 milhão de amigos, mas considero os poucos que possuo como uma multidão tão grande quanto; porém, principalmente, gostaria de dizer que tenho muito orgulho de descender de sua linhagem; que sou muito grato pelos ensinamentos; que, esteja onde estiver, espero tê-lo orgulhado em vários instantes da minha caminhada; e, por fim, que sinto muita, mas muita saudade mesmo, das nossas conversas vespertinas, regadas a gelinho e risos sinceros.

Espero, um dia, chegar a ser um décimo da pessoa maravilhosa que o senhor foi. Nesse dia, poderei (enfim) escrever no meu caderninho mental: “Hoje, sou um ser humano.. completo”.


H (parabéns, meu velho!)

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Quatro presentes



Presente, tal como qualquer bem durável, logo perde valor. Fica gasto, empueirado, sem sentido.


Mas isso não acontece (nem acontecerá!) com os quatro presentes que recebi ontem: amizade, confiança e carinho. E foram de tantas formas e pessoas que mal tive dedos para contabilizá-los. Serei eternamente grato pelas demonstrações, a distância ou presenciais, de tanto afeto. Como disse a uma amiga, espero ser capaz de retribuí-los sempre, porque é o mínimo que vocês merecem.


E vamos parando por aqui, porque isso está ficando piegas demais.. rs


Peraí! Eu disse QUATRO presentes.. mas só relacionei TRÊS! Então qual é esse quarto presente?! Esse, por ser tão especial quanto a pessoa que me presenteou, segue em separado, aqui embaixo:




Lira dos seus 28 anos


"Quisera eu te dizer
que nem sempre sera com sorrisos que a vida será alegre
Que seu choro nunca é em vão quando se reflete
Ainda que com dissabores,
Celebre
Sinta o limitrofe do maduro e do frescor,
Das amizades saiba que o que mais colhe é o amor
Ouse, quebre e chegue a frente
E ainda que do abismo esteja rente, não pense em voltar
A adrenalina da queda é do piso
Desejo que com beijos doces lhe encaminhem ao riso
Ao lugar que você mais merece
O topo de si mesmo"




H (Te adoro, Peppers!)

terça-feira, 10 de maio de 2011

28


Tentei de várias formas pensar em algo original para escrever nesse dia. Porém, e agora entendo alguns de meus amigos mais pessimistas, chega um certo momento que até mesmo essa data, celebrada tantas e outras tantas vezes de forma especial, perde a graça.

Como já dizia Vinícius de Moraes:

"Queira-se antes ventura que aventura
À medida que a têmpora embranquece
E fica tenra a fibra que era dura."

Bom, nem tudo são flores, mas também não precisam ser dissabores. Se pudesse realmente escolher uma maneira única para comemorar tal dia, acho que seria como no vídeo abaixo: entre amigos, fazendo o que mais sei e gosto. Sem pressa ou cobrança. Apenas meus amigos, eu e um violão.



H (no fim da subida)

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Certeza.. nenhuma

"Not to be reproduced", René Magritte (1937) - Museu Boijmans Van Beuningen, Roterdã


Quando se é jovem, comete-se erros aos zilhões. No meu caso, acho que aproveitei bem a minha cota.. rsrs Aliás, sob alguns aspectos que não compete aqui citá-los, devo confessar que ultrapassei os limites do moralmente aceitável algumas vezes.

Meu avô, um dos muitos sábios que cruzaram meu caminho, dizia que o erro possui predicados como os de um imã: além de ter um lado negativo (óbvio) e outro positivo (às vezes, nem tão óbvio assim), também tem a propriedade de atração.

Não raro, falamos e/ou fazemos algo que, depois de algum tempo, seja por pressão alheia ou pelo nosso próprio julgamento, imaginamos como um desacerto, um passo mal dado, um deslize. Os mais preocupados, vêm na admissão da culpa e, consequentemente, na auto-punição a única saída para o caso. Já os prosaicos, pessoas naturalmente desprovidas de senso de convivência, conseguem apenas enxergar o erro alheio, acreditando serem isentas de falhas tão banais.

Confesso que sou um misto de ambos. Contudo, por um lado, não chego ao ponto crível do arrependimento. Se me arrependesse a cada erro, estaria, na verdade, expugnando a mim mesmo, já que esses (os erros) também foram (são e serão) imprescindíveis para a minha formação como ser social. Porém, e principalmente quando relacionados a mim, costumo sim exigir a cabeça das pessoas numa bandeja ao tomar conhecimento de seus erros. É o meu verso parasitando o anverso. Procuro não pender para nenhum dos lados (ser imparcial sempre foi uma de minhas características mais marcantes! rs).

Até os meus 15 anos, eu era um arrogante que pouco ligava para aquilo que as pessoas pensavam ou sentiam. Era frio mesmo! Um verdadeiro porco chauvinista!

Tudo mudou quando conheci o Michel, em agosto de 1998. Com a nossa amizade, aprendi que existiam muitas outras razões em jogo quando o assunto era socialização. Muitas vezes, o seu ponto de vista (que você achava indefectível) não passava de uma falácia quando comparado ao dos demais.

Comecei a me importar mais com aqueles ao meu redor; a tomar mais cuidado com minhas palavras e ações; não que eu tenha deixado de ofender as pessoas, me tornando um “santo” da noite para o dia. Apenas parei para analisar quem realmente merecia meu desdém.

Enfim, esse é mais um daqueles posts escritos de forma reflexiva e egocêntrica. Não se dispõe a chegada num lugar especifico. Apenas se faz presente para constar na (minha) lista.


H (faz falta)

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Happy birthday


“Tudo parecia dentro da normalidade naquela sexta-feira, 10 de maio de 1991. As crianças brincavam sobre o tapete da sala enquanto o pai assistia ao noticiário na TV. A mãe que, de vez em quando, dava uma olhadela por cima dos óculos na direção dos filhos, estava entretida no tricotar de um cachecol que, por sua vez, a filha insistia que só usaria quando chovesse sorvete de chocolate.

Mesmo sendo o aniversário do filho mais velho, esse era um dia como outro qualquer. Os pais, sempre preocupados em garantir que o mínimo não faltasse dentro de casa, pouca atenção davam para essas comemorações. Um bolo simples e um tapinha nas costas já bastavam.

Entretanto, aquele dia estava sendo diferente. O primogênito sabia que algo estava errado. Seus pais estavam estranhos. A mãe havia dito que se esquecera de comprar os ingredientes para o bolo, então ele só ficaria pronto no dia seguinte. A luz do lado de fora da casa estava acesa, coisa essa que nunca seria tolerada pelo pai que, depois de um resmungo, diria “será que sou o único a desconhecer essa minha prodigiosa habilidade de defecar dinheiro?!”.

Claro que, como toda criança da sua idade, o primogênito sonhava com algo mais. Uma grande festa, com todos os seus amiguinhos, um bolo gigantesco, brigadeiro, refrigerante, flash e mais flash, parabéns etc.

Porém, mal sabia ele que, alguns quilômetros dali, num conjunto de casas quase vizinhas, um batalhão se preparava como se uma guerra estive por começar. Caixas e mais caixas eram empilhadas no porta-malas de três veículos. Todo trabalho era feito num silêncio ímpar. No máximo, quando algo precisava ser dito, ouvia-se um breve sussurro aqui e acolá. Aquele que aparentava ser o chefe do grupo, logo tomou conhecimento das horas e sinalizou para que todos tomassem seus lugares. Os carros saíram em disparada, quebrando o silêncio que se mostrava sorrateiro naquela noite fria.”

Sempre que preciso passar por essa data do ano, esta é a lembrança que gosto de recordar: a romanceada comemoração do meu oitavo aniversário. Minha primeira festa surpresa.

Não foi lá grande coisa, nada que já cheguei a sonhar. Mas preciso concordar que meus tios fizeram um excelente trabalho. Colocaram um sorriso enorme na minha cara (nítido nas fotos) que durou por quase uma semana.

Hoje, mais um desses dias, entendo bem o que minha mãe quis dizer quando, pela primeira vez, me disse "algumas vezes, eu adoraria não fazer aniversário". Depois de uma certa idade, perde-se aquela inocência dos primeiros anos. E, com ela, uma comemoração tal como esta perde todo o sentido lúdico. Torna-se apenas um marco (ilusório) da passagem sem parada do tempo.

Envelhece-se, apenas..


H (nostalgia #modeon)

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Congratulations, perfect stranger...


É quase tragicômico verificar o quão supérfluas e abismais são nossas relações humanas. E não estou falando apenas das amorosas.

Dez anos atrás eu tive uma dessas amizades que nos fazem pensar que a importância de tudo está na convivência. Uma experiência diferente de muitas outras, já que se tratava de uma amizade entre um adolescente e uma mulher.

Não era uma mera amizade, essa é a verdade. Era como um amor platônico. Uma paixão impossível, uma admiração exacerbada. Ela, assim como muitas outras antes e após, serviu-me de inspiração para compor poemas piegas e auto-flagelantes. Mesmo assim, éramos amigos. Respeitávamos um ao outro e essa troca de poemas só o deixava (o respeito) ainda mais evidente.

Porém, infelizmente em alguns casos, a vida segue seu rumo que nem sempre nos é o mais benquisto. Ficam para trás nossas interações, nossas conversas sem sentido, nossos votos de felicidade, nossos sorrisos desconfortáveis, nossas palavras semi-ditas.

Em abril de 2001, como uma forma singela de marcar seu aniversário, dediquei-lhe um dos meus melhores poemas, cujo original ficou sumido até duas semanas atrás quando ressurgiu numa das minhas limpezas trimestrais. Foi constrangedor reler aqueles versos pueris, aquela caligrafia hieroglífica, aquela inocência que não se faz mais sentida:


Querida musa dos falsos pastores,
quem diria, então, logo eu
que, diga-se, não tenho nada de Dirceu,
seria mais um de teus admiradores.

Meu coração, que por anos como múmia viveu,
hoje já não morre, mas suspira de amores.
E, agora, abobalhado, enfeita-se de flores
para receber apenas um enigmático sorriso teu.

Coitado do pobre e gentil querido
que só conhece felicidade se for contido
e com nenhuma mais.

E cada vez que vê a Lua, ele berra seu canto esquecido:
Marília, por ti seria eu um mendigo,
para de grão em grão, te amar demais!

E, qual não foi a minha surpresa ao conhecer, seis anos depois, alguém com o mesmo nome. Claro que me aproveitei do fato e, por meio de uma mentira, apreciei os piores 16 meses de toda a minha vida.

Ontem foi seu aniversário. Novamente. E me deu aquela vontade de ligar, questionar sobre sua vida, saber sobre suas realizações, sobre as novidades que permeiam sua rotina. Contudo, faltou-me coragem.

As lembranças das palavras refreadas, tornando obscuro nosso convívio, as atitudes incompreensíveis, que levavam a discussões infinitas, as ações não concretizadas, gerando desconfortos insuportáveis, enfim, todas essas coisas, afastaram qualquer resquício da coragem que ainda existia em mim.

Foi melhor assim. Hoje, eu vivo outro momento. Não sou completamente feliz ainda, mas estou contente com o repouso que encontrei aqui. Sinto-me o mais perto de casa que já estive.


H (Congratulations, my perfect stranger)

domingo, 10 de maio de 2009

História com "H" e para o H.. rs

Pode não parecer, mas sou eu, 25 anos atrás

Segundo a Wikipedia, alguns fatos históricos que aconteceram nesse dia:
* 1774 – Luis XVI assume o trono da França;
* 1789 – Tiradentes é preso no Rio de Janeiro acusado de participar da Inconfidência Mineira;
* 1869 – A Ferrovia Transcontinental norte-americana, depois de duros esforços da Central Pacific e Union Pacific, é aberta a circulação civil pela primeira vez;
* 1933 – Teve início a chamada Bücherverbrennung (queima de livros) pelos nazistas na praça Königsplatz, em Munique. Nas seis semanas seguintes, foram queimados cerca de 20.000 livros em diversas cidades alemãs.

Personalidades que nasceram nesse dia:
* 1746 – Gaspard Monge, matemático francês, criador da geometria descritiva;
* 1838 – John Wilkes Booth, ator norte-americano que ficou mais conhecido como o assassino do Presidente dos Estados Unidos Abraham Lincoln;
* 1899 – Fred Astaire, dançarino e ator norte-americano;
* 1955 – Mark David Chapman, criminoso norte-americano, assassino de John Lennon;
* 1960 – Bono Vox, vocalista da banda irlandesa U2.

Personalidades que morreram nesse dia:
* 1829 – Thomas Young, físico, médico e egiptólogo britânico. Famoso pelo experimento da dupla fenda, que possibilitou a determinação do caráter ondulatório da luz, também participou dos estudos para decifrar a Pedra de Roseta;
* 1977 - Joan Crawford, atriz norte-americana vencedora do Oscar de Melhor Atriz em 1945 pelo filme "Almas em Suplício".

E, diante de todos esses acontecimentos, no ano de 1983, depois de muita espera, nasce esse que vos escreve, no Hospital São João Batista (hoje já desativado), na região da Lapa. Primogênito do casal Claudionor Leite e Maria de Lourdes Picolli, teve seu nome inspirado, apesar de eu negar até a morte, no político pernambucano Agamenon Sérgio de Godói Magalhães. Baixinho, barrigudo, careca, teimoso e, apesar de não ser, com mó cara de nerd por causa desses óculos. É, acho que estou feliz por chegar aos 26 anos.. rs


H (Happy Birthday to me)

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

História com "H" - Especial

ele era viciado nos quadrinhos do Calvin & Haroldo...


Conheci o Michel em outubro de 1998. Na ocasião, ele me salvou de ser atropelado por um caminhão desgovernado, na rua principal da cidade (Leme). Viramos amigos na hora. Assim como eu, ele entendia muito bem como era ser um “estranho no ninho”, um alguém sem importância numa cidade desconhecida do resto do mundo e cheia de pessoas com cérebros de tamanho diminuto. ‘Seu’ Rubens, o pai dele, havia morrido recentemente e deixou metade do controle do restaurante da família e da herança que acumulou em mais de 30 anos de trabalho para o Michel. Ele não ligava muito para isso. O sócio do seu pai cuidava do restaurante. O Michel só aparecia nos finais de semana para ‘fazer uma presença’ com as pessoas influentes da cidade que davam as caras por lá.

A irmã mais velha dele, Melissa, ficou com a outra metade da herança. Na primeira oportunidade que teve, se mandou para Curitiba e nunca mais deu notícias. Eles não se davam tão bem. Mal se falavam, mas tinham muito respeito um pelo outro.

A casa da família, um sobrado enorme num bairro silencioso e afastado do centro, ficou, de comum acordo, com o Michel. Dona Maysa, sua mãe, morreu quando ele tinha 5 anos, de câncer. Ele pouco falava dela. Eu sabia que ele guardava uma foto dela na carteira, foto essa tirada no seu quarto aniversário, num parque de Belo Horizonte (cidade natal da família). Nunca tive coragem de perguntar alguma coisa sobre ela ou sobre a relação deles. Como ele também não falava muito, eu não insistia.

Em agosto de 2000, depois de uma proposta irrecusável, ele vendeu a sua parte no controle do restaurante e começou a trabalhar meio expediente num escritório de advocacia. Mas a sua doença (bipolaridade) e a rotina o faziam cada vez mais se fechar em um mundo particular. Logo, perdeu o emprego e a motivação para tudo. O caminho tortuoso das drogas já o acompanhava há bastante tempo. E era uma das únicas coisas que o mantinha de pé. A outra, era a nossa amizade.

Algum tempo depois de nos conhecemos, ele me apresentou aos seus amigos. Um grupo de aproximadamente 20 pessoas, cada um com sua particularidade, porém, sofrendo do mesmo mal: a solidão. Sim, era isso que nós éramos para as outras pessoas: um bando de solitários, sem importância alguma. Não demorou muito para começarmos a nos chamar de “Sociedade da Solidão”, ou, simplesmente, “S = S”. Tínhamos até camisetas! Era um grupinho como outro qualquer. Não existia um líder unânime. Mas tínhamos nossas richas. Dois sábados por mês, sempre à noite, usávamos o cemitério da cidade como nosso QG. Geralmente só contávamos histórias de terror, bebíamos e conversávamos. Até o coveiro virou ‘parceiro’ do grupo. Foram grandes momentos da minha vida.

O Michel nasceu prematuro de 7 meses a exatos 30 anos, em 27 de fevereiro de 1979. Com pouco peso e vários problemas (pulmonar e cardiovascular), o médico já havia avisado a família sobre a possibilidade de não sobrevivência. ‘Seu’ Rubens ficou tão desesperado que praticamente montou acampamento na sala de espera da maternidade. Depois de mais de 20 dias de tratamento e cuidados redobrados, ele recebeu alta. Cresceu saudável, recebeu uma educação satisfatória para as condições da família. Mesmo sem muito esforço, se destacava em quase tudo que fazia. Terminou a faculdade de Direito em 2000, aos trancos e barracos é verdade.

Gostava de pão de queijo e chocolate, vinho de garrafão e chopp. Adorava carros. Onde quer que ele estivesse, gostava de acordar cedo para ver o sol nascer, enquanto murmurava “Obrigado”. Certa vez, quando uma de suas ex-namoradas terminou com ele dizendo “você é sensível demais pra mim!”, ele retrucou: “se eu me cortar, sairá sangue e não areia das minhas veias!”. Teve uma filha (Rebeca) no final de 2000, que hoje mora com o tio materno em Brasília.

Morreu na madrugada do dia 25 de março de 2001, literalmente nos meus braços, depois de me salvar novamente e receber 7 tiros no peito.

Foi o melhor amigo que tive na vida. Em algumas situações, foi um verdadeiro pai. Parabéns meu amigo...
H ("Faça da sua ausência o bastante para que alguém sinta sua falta, mas não prolongue-a demais para que esse alguém não aprenda a viver sem ti." (Anônimo))