segunda-feira, 10 de maio de 2010

Happy birthday


“Tudo parecia dentro da normalidade naquela sexta-feira, 10 de maio de 1991. As crianças brincavam sobre o tapete da sala enquanto o pai assistia ao noticiário na TV. A mãe que, de vez em quando, dava uma olhadela por cima dos óculos na direção dos filhos, estava entretida no tricotar de um cachecol que, por sua vez, a filha insistia que só usaria quando chovesse sorvete de chocolate.

Mesmo sendo o aniversário do filho mais velho, esse era um dia como outro qualquer. Os pais, sempre preocupados em garantir que o mínimo não faltasse dentro de casa, pouca atenção davam para essas comemorações. Um bolo simples e um tapinha nas costas já bastavam.

Entretanto, aquele dia estava sendo diferente. O primogênito sabia que algo estava errado. Seus pais estavam estranhos. A mãe havia dito que se esquecera de comprar os ingredientes para o bolo, então ele só ficaria pronto no dia seguinte. A luz do lado de fora da casa estava acesa, coisa essa que nunca seria tolerada pelo pai que, depois de um resmungo, diria “será que sou o único a desconhecer essa minha prodigiosa habilidade de defecar dinheiro?!”.

Claro que, como toda criança da sua idade, o primogênito sonhava com algo mais. Uma grande festa, com todos os seus amiguinhos, um bolo gigantesco, brigadeiro, refrigerante, flash e mais flash, parabéns etc.

Porém, mal sabia ele que, alguns quilômetros dali, num conjunto de casas quase vizinhas, um batalhão se preparava como se uma guerra estive por começar. Caixas e mais caixas eram empilhadas no porta-malas de três veículos. Todo trabalho era feito num silêncio ímpar. No máximo, quando algo precisava ser dito, ouvia-se um breve sussurro aqui e acolá. Aquele que aparentava ser o chefe do grupo, logo tomou conhecimento das horas e sinalizou para que todos tomassem seus lugares. Os carros saíram em disparada, quebrando o silêncio que se mostrava sorrateiro naquela noite fria.”

Sempre que preciso passar por essa data do ano, esta é a lembrança que gosto de recordar: a romanceada comemoração do meu oitavo aniversário. Minha primeira festa surpresa.

Não foi lá grande coisa, nada que já cheguei a sonhar. Mas preciso concordar que meus tios fizeram um excelente trabalho. Colocaram um sorriso enorme na minha cara (nítido nas fotos) que durou por quase uma semana.

Hoje, mais um desses dias, entendo bem o que minha mãe quis dizer quando, pela primeira vez, me disse "algumas vezes, eu adoraria não fazer aniversário". Depois de uma certa idade, perde-se aquela inocência dos primeiros anos. E, com ela, uma comemoração tal como esta perde todo o sentido lúdico. Torna-se apenas um marco (ilusório) da passagem sem parada do tempo.

Envelhece-se, apenas..


H (nostalgia #modeon)

Um comentário:

The Owl disse...

Tb não ligo muito pra aniversário, mas acho curioso que minha melhor lembrança não venha da infância.

A minha melhor festa foi a que o pessoal fez pra mim no CBD, porque quando eu era criança minha mãe simplesmente chamava os "irmãos" da igreja pra comemorar comigo, e acho que vc pode imaginar o quanto eu me divertia...

Boa velhice pra vc! Espero que o primeiro fio de cabelo branco ainda não tenha aparecido.