sexta-feira, 16 de setembro de 2011

"O tempo dá-se em fragmentos"


Daqui algumas horas, tudo perderá sentido. Doze anos de (imaginado) conhecimento mútuo limitar-se-á ao nada.

Nos conhecemos numa época bem estranha de nossas vidas. Você, uma forasteira, fugia de uma vida que não era sua. Eu, ainda imerso no turbilhão da adolescência, vivia cada dia sem qualquer perspectiva. Em meio a uma multidão bêbada e surda, nos trombamos. Meio sem quer, talvez de propósito. E assim seguimos.

Colhemos o que plantamos, isso é bem verdade. Mas quem é o felizardo que consegue colher EXATAMENTE o fruto que idealizou?! Pois é...

Você vagou o mundo. Disse, certa vez, que procurava o lugar mais longe possível de mim. Eu ri. Você não. Confesso: existem mais brasileiros vencedores do prêmio Nobel do que momentos em que me lembro de ter arrancado uma gargalhada de seus lábios.

Daqui algumas horas, você será mais sozinha. Terá um não-sei-quem para dividir os passos pela areia molhada da praia. Não espero que você entenda minha reação quando soube. Da mesma forma, não estou aqui pedindo desculpas pelas coisas que disse. Borracha alguma é capaz de apagar tais atos impensados.

Também não espero vê-la, ouvi-la ou mesmo ter notícias suas daqui em diante. Você terá toda uma vida dividida, de dedicação e afeto. Eu.. bom, sei lá. Estarei por aí, como sempre, me remoendo pelos cantos, chutando pedrinhas pelas calçadas, esperando despertar a qualquer momento, na minha cama, 12 anos mais jovem.

Sempre me lembrarei de você da maneira como a conheci: uma menina, pouco mais de um metro e meio, magrinha, aparentando uma fragilidade externa tão proporcional quanto o olhar de decisão que lançava aos desafios.

Daqui algumas horas, sei que meu celular irá tocar. E, mais uma vez, não irei atendê-lo. Por vergonha (de não saber como consertar um erro antigo). Por inveja (de não-sei-quem que estará ansioso, lhe esperando num altar). Por medo (de mim).

Não desejarei que você seja feliz. Isso você já, seja sozinha, seja acompanhada. Apenas peço (se eu ainda tiver esse direito): não desista de mim. Porém, se decidir fazê-lo, continue.. sem olhar para trás.


H ("Uma doença grave / esse amor sem braços / e toda a carga leve / que súbito me arde.")


* Imagem retirada daqui

Um comentário:

Juliana Almeida disse...

Sinta-se abraçado por essa amiga tosca e sem jeito mas que te quer tão bem que não cabe... Olhe para frente e para o futuro, não fique voltando seu olhar e seu coração ao passado (pelo menos por enquanto), o retorno é bom, mas em certos momentos da vida devem ficar reservados para não atrapalhar o presente.

Beijo meu querido.