quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Auto-história: o pioneiro velhinho japonês



Os carros antigos originários do Japão nunca foram um atrativo para mim. Porém, hoje, gostaria de falar sobre um que, de tão longínquo, chega a confundir-se com a própria marca a que está ligado.

Até o fim da década de 1940, os carros produzidos em solo nipônico não passavam de meras reproduções (algumas, bastante grotescas!) dos beberrões norte-americanos. Não demorou muito para eles perceberem que, pelo menos nessa questão, a imitação não era o melhor caminho.

Assim, em 1955, a Toyota, maior montadora japonesa da época, lança o que seria um experimento para o segmento de táxis: o Crown (coroa em inglês). Apesar de ser o primeiro totalmente voltado para o público nipônico (entenda-se, baixa potência, velocidade e consumo), percebe-se no nome as futuras intenções da montadora. Mesmo com o excesso de cromados na parte dianteira, as suas linhas arredondadas e a grande distância entre-eixos (2,53m), garantiram um sucesso estrondoso de vendas no mercado interno.

Talvez um pouco deslumbrada demais pelo recorde de vendas no dois anos anteriores, a direção da montadora decidiu que aquela seria a hora de alçar vôo para o território norte-americano. Em 1957, a Toyota resolver promover o Crown num tipo de maratona automobilística, indo de Los Angeles até Nova Iorque (quase 4.000 km!). O resultado?! Um desastre! Antes mesmo de chegar a Las Vegas, onde seria recebido com toda a pompa, a maratona foi cancelada.

Mas, o que tinha acontecido? Infelizmente, pela primeira e última vez, os japoneses cometeram um erro por falta de planejamento. Descobriram a duras penas que o Crown, feito para as ruas pouco pavimentadas e o trânsito moroso de seu território, não tinha a menor chance contra as freeways e o trânsito rápido dos EUA. Sem contar que um motor de 4 cilindros nunca conseguiria concorrer com a febre dos V8 que reinavam naquela década.

Acabou servindo de lição. E, já na sua segunda geração, a partir de 1962, o Crown trazia um ar mais americano, lembrando muito o Ford Falcon, com suas linhas retas, faróis dianteiros arredondados ligados pela grade cromada que tomava quase toda a frente do carro, além da traseira baixa e lanternas horizontais.


Mas as novidades não pararam por aí. De 1964 a 1967, foi fabricado o Crown Eight, o primeiro carro japonês com motor V8, de 2,6 litros, 115cv e 170km/h de máxima. Media 4,72m, com entre-eixos de 2,74m. Muitos dizem que foi o melhor Crown já produzido.

Em 1972, com a chegada da quarta geração, a dianteira do carro foi toda modificada: dividida em duas partes, trazia, acima, um pequeno ressalto destacava as luzes de direção; abaixo, vinham os dois pares de faróis ligados pela grade, além de um pára-choque envolvente, geralmente na cor do carro. O motor, apesar de voltar ao 6 cilindros, entregava 131cv de potência. Essa quarta geração também marcou a volta do modelo aos EUA, pegando uma carona no sucesso do Toyota Corona (coroa, em espanhol! rs). Porém, inexplicavelmente, a tentativa mostrou-se novamente um fracasso.

A quinta geração, de 1974 a 1979, foi responsável pelo primeiro carro nipônico com motor a diesel (de 2,2 litros) e o primeiro Crown com direção hidráulica.

Mesmo chegando a sua 13ª geração (apresentada no ano passado), demonstrando um sinal de grande sucesso no mercado interno e regional (até hoje, os táxis de Hong Kong e Cingapura são da 10ª geração, de 1995 a 1998), o Crown não conseguiu repetir em solo americano o mesmo prestígio que seus “primos” Corona e Corolla.

O verdadeiro motivo ninguém sabe. Com suas recentes reformulações, muito mais ao gosto europeu, apenas podemos esperar que muitas outras gerações virão, dando ainda mais experiência a esse cinquentão japonês.

Na telona, o Crown ficou muito mais reservado a produções locais, como seriados e filmes “B” japoneses. Porém, ele também conseguiu chamar a atenção de Hollywood: em 007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro (1974), vê-se um modelo de 1963; No filme Chuva Negra (1989), do diretor Ridley Scott, ambientado na cidade de Osaka, numa das sequências de perseguição, o veículo que a polícia da cidade utiliza é um Toyota Crown 1977.


H (se eu pudesse, teria um de cada geração)

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