sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Diretores - Elia Kazan


"Pegadas na areia do tempo? Bobagem! Amanhã irá chover". [E. K.]

Nascido Ilías Kazantzóglu, em 7 de setembro de 1909, na antiga Constantinopla (atual Istambul), filho de imigrantes gregos, mudou-se para os EUA em meados da década de 1910, ainda criança.

Instalando-se em Nova Iorque, seu pai, George Kazantzóglu, se tornou um respeitável comerciante de tapeçarias e esperou que o filho assumisse os negócios assim que terminasse seus estudos. Porém, contrariando seu pai e seguindo mais o conselho de sua mãe, Athena (que lhe dizia para seguir seus próprios sonhos), assim que terminou seus estudos básicos, Elia Kazan decidiu fazer arte dramática na Universidade de Yale.

Durante a década de 1930, atuou em inúmeras peças de sucesso da Broadway. E, como uma coisa leva a outra, na primeira oportunidade que teve, lançou-se como diretor de teatro. Seu prestigio saltou da Broadway, chegando até Hollywood, quando as portas se abriram para ele dirigir seu primeiro longa, "Laços Humanos" (1945). Seu destaque foi discreto, tanto em público quanto em crítica. Porém, dois anos depois, surge sua primeira grande produção: "A Luz é para Todos". Como uma história girando em torno do anti-semitismo da recém terminada Segunda Guerra, o filme acumulou premiações, recebendo 8 indicações ao Oscar® e faturando 3 estatuetas.

Em 1951, Elia Kazan fez o que parecia improvável para a época: dirigiu, ao mesmo tempo, a peça "Uma Rua Chamada Pecado" e sua adaptação para o cinema. No filme, Elia pessoalmente escolheu para o papel de protagonista um ator até então pouco conhecido, mas que, segundo o próprio diretor, parecia ter nascido para interpretá-lo: Marlon Brando (foto, ao lado do diretor).

Estava formada uma das parcerias mais premiadas do mundo cinematográfico. Juntos, fizeram ainda “Viva Zapata!” (1952) e o grande sucesso da carreira de Kazan, “Sindicato de Ladrões” (1954).

Aliás, esse último, marca, talvez, a maior contribuição que o diretor deixou de herança para o cinema. A criação de um novo subgênero para a arte: o mocinho delator. Vale a explicação:

No começo da década de 1950, quando foi perseguido pelo Macarthismo (movimento de perseguição e repressão anticomunista, instaurado pelo senador Joseph McCarthy), Elia Kazan que, de 1934 a 1936, havia participado do partido comunista nacional, resolveu “entregar” alguns de seus colegas dos tempos da Broadway. Conversando com seu grande amigo da época (Arthur Miller), Kazan disse que não tinha outra opção se quisesse continuar na carreira que havia escolhido. Afinal, a Twentieth Century Fox já tinha dito que fecharia as portas a ele caso as denúncias do Comitê de Atividades Anti-americanas fossem mesmo confirmadas.

Logo, o nome do diretor virou sinônimo de “Judas” dentro dos universos do cinema e do teatro. Restavam-lhe poucos amigos e raríssimos atores de calibre aceitavam trabalhar com ele. Mas Kazan teve uma idéia assim que começou a conversar com Malcolm Johnson e Budd Schulberg sobre o roteiro de seu próximo trabalho: virar a mesa.

Muitos ficaram indignados quando viram o filme (o já citado “Sindicato de Ladrões”) se transformar no grande “papa-estatuetas” do Oscar® de 1955 (das 12 indicações que teve, levou 8 prêmios). O filme conta a história do ex-boxeador Terry Malloy que trabalha como estivador no porto de Nova Iorque. Ele faz parte da turma que dá sustentação ao sindicato que domina a corrupção no porto. É considerado um vagabundo, um inútil que nada sabe além de usar sua força. Perdeu a grande chance de ser campeão em sua época porque seu irmão havia apostado alto no adversário e obrigou-lhe a perder a luta. Quando o sindicato resolve dar um susto em um homem que tentou delatá-los a justiça, Terry é usado para atraí-lo, mas os planos do sindicato de liquidá-lo não eram os imaginados por Terry que não gostou da morte do amigo. Edie, irmã do homem assassinado, busca provas para encontrar o assassino do irmão e Terry engraça-se com ela. A convivência entre os dois e outros acontecimentos fazem Terry questionar seus valores morais e suas atitudes. Daí surge uma das melhores frases (minha modesta opinião!) já pronunciadas na telona: “Você não entende! Eu poderia ter classe. Eu poderia ser um lutador. Eu poderia ter sido alguém, ao invés de um vagabundo, que é o que eu sou”.

Porém, a sina continuou a persegui-lo. Tanto que, em 1999, quando a Academia de Artes Cênicas decidiu premiá-lo com um Oscar® Honorário por sua contribuição a sétima arte, muitos dos atores presentes naquela noite mantiveram-se sentados, de braços cruzados, ou com feições de nítida repulsa pela escolha. Outros artistas, como Sean Penn e Richard Dreyfuss, vieram a público declarar sua oposição pela escolha da Academia.

Culpado ou não, a verdade é que Elia Kazan foi o estrangeiro que melhor conseguiu traduzir as várias faces da vida americana. Uma vida da qual ele foi vítima e protagonista, porém, nunca um coadjuvante. Morre em 28 de setembro de 2003, na cidade de Nova Iorque.

Alguns de seus filmes que eu recomendo:

* Laços Humanos (1945)
* A Luz é para Todos (1947)
* Uma Rua Chamada Pecado (1951)
* Sindicato de Ladrões (1954)
* Vidas Amargas (1955)
* América, América (1963)
* O Último Magnata (1976)


H (Judas ou não, cada filme vale ser visto mais de uma vez..)

Nenhum comentário: