Todo cinéfilo que faz jus ao termo pelo qual é chamado (e não só porque é “cool” e/ou está na moda!), algum dia já se rendeu ao cinema europeu como a forma de expressão mais soberba, influente e paradigmática que existe. François Truffaut, Jean Luc Godard, Jean-Jacques Annaud, na França; Sergei Eisenstein, na Rússia; Alfred Hitchcock, na Inglaterra; Pedro Almodóvar, na Espanha; Ingmar Bergman, na Suécia, entre tantos outros talentosíssimos expoentes.
E isso não se aplica apenas a nós, reles mortais, adoradores da sétima arte. Leia qualquer entrevista de diretores americanos (sul e norte) e você, certamente, encontrará a razão de 8 a cada 10 tendo como inspiração (e admiração) algum diretor do Velho Continente.
Comigo, não foi muito diferente. Claro que eu gosto do cinema norte-americano. Com raras exceções, gosto do jeito besteirol com que alguns diretores retratam o próprio cotidiano ou imaginam (na maioria das vezes, erradamente) o cotidiano alheio. Mas eles ainda não conseguiram transcender minha paixão pela expressão fílmica como fez o cinema europeu.
Essa paixão teve início em uma época onde os livros já se tornavam, para mim, obsoletos pontos de fuga. Minha mente carecia de mais movimento, mais rispidez. Minha curiosidade urgia pela criatividade alheia. Uma criatividade tocante, porém, dissimulada. Algo nítido e, ao mesmo tempo, que fosse recluso à primeira vista.
Para tanto, assim como um aprendiz, precisei de um mentor para me mostrar o caminho certo da ilusão cinematográfica. Tomei lições e, com elas, doses homeopáticas do que havia de mais brilhante e perturbador não só na produção européia, mas também na terra do Tio Sam. Infelizmente, não aproveitei ao máximo todo esse potencial, desperdiçando-o com películas pífias e monótonas, repletas de incongruências e risos fáceis.
Contudo (graças ao trabalho que tenho hoje), revendo os imortais dessa fase (que, agora, é mais do que convencional alcunhar de “clássicos”), percebo que apenas os ícones europeus foram capazes de me proporcionar transbordamentos emocionais tais como eu estava sedento na minha adolescência. Filmes inconstantes. E não estou falando do ponto de vista do roteiro! Não, nesse quesito eles são estupendos. Quando falo de inconstância, refiro-me a maneira quase metamórfica com que nos abordam, proporcionando-nos visões distintas correspondentes ao nosso prisma analítico.
Num próximo post eu faço uma lista dos meus filmes europeus favoritos. Agora preciso é repensar na minha lista de 50 melhores...
H (cinéphile)