segunda-feira, 29 de março de 2010

Cinéfilo de verdade


Todo cinéfilo que faz jus ao termo pelo qual é chamado (e não só porque é “cool” e/ou está na moda!), algum dia já se rendeu ao cinema europeu como a forma de expressão mais soberba, influente e paradigmática que existe. François Truffaut, Jean Luc Godard, Jean-Jacques Annaud, na França; Sergei Eisenstein, na Rússia; Alfred Hitchcock, na Inglaterra; Pedro Almodóvar, na Espanha; Ingmar Bergman, na Suécia, entre tantos outros talentosíssimos expoentes.

E isso não se aplica apenas a nós, reles mortais, adoradores da sétima arte. Leia qualquer entrevista de diretores americanos (sul e norte) e você, certamente, encontrará a razão de 8 a cada 10 tendo como inspiração (e admiração) algum diretor do Velho Continente.

Comigo, não foi muito diferente. Claro que eu gosto do cinema norte-americano. Com raras exceções, gosto do jeito besteirol com que alguns diretores retratam o próprio cotidiano ou imaginam (na maioria das vezes, erradamente) o cotidiano alheio. Mas eles ainda não conseguiram transcender minha paixão pela expressão fílmica como fez o cinema europeu.

Essa paixão teve início em uma época onde os livros já se tornavam, para mim, obsoletos pontos de fuga. Minha mente carecia de mais movimento, mais rispidez. Minha curiosidade urgia pela criatividade alheia. Uma criatividade tocante, porém, dissimulada. Algo nítido e, ao mesmo tempo, que fosse recluso à primeira vista.

Para tanto, assim como um aprendiz, precisei de um mentor para me mostrar o caminho certo da ilusão cinematográfica. Tomei lições e, com elas, doses homeopáticas do que havia de mais brilhante e perturbador não só na produção européia, mas também na terra do Tio Sam. Infelizmente, não aproveitei ao máximo todo esse potencial, desperdiçando-o com películas pífias e monótonas, repletas de incongruências e risos fáceis.

Contudo (graças ao trabalho que tenho hoje), revendo os imortais dessa fase (que, agora, é mais do que convencional alcunhar de “clássicos”), percebo que apenas os ícones europeus foram capazes de me proporcionar transbordamentos emocionais tais como eu estava sedento na minha adolescência. Filmes inconstantes. E não estou falando do ponto de vista do roteiro! Não, nesse quesito eles são estupendos. Quando falo de inconstância, refiro-me a maneira quase metamórfica com que nos abordam, proporcionando-nos visões distintas correspondentes ao nosso prisma analítico.

Num próximo post eu faço uma lista dos meus filmes europeus favoritos. Agora preciso é repensar na minha lista de 50 melhores...


H (cinéphile)


* Imagem retirada daqui

quarta-feira, 24 de março de 2010

A vida que (não) quero


Talvez não exista nada mais comum (e irritante) do que o nosso constante autoquestionamento. Seja para o bem ou para o mal, mais cedo ou mais tarde, ele sempre está por lá, rondando sua consciência (e, às vezes, até seu subconsciente) atrás de algum traço de fraqueza para se alimentar.

No meu caso, excetuando o caso do meu nome, ele teve início nas cercanias dos 10 anos. A maldita da professora (na época, da 4a série) inventou de passar um questionário com perguntas do tipo “O que você quer ser quando crescer?”; “Qual seu maior sonho?”, e daí para pior. Um subjetivismo e particularidade de dar inveja a qualquer BBB. E, para piorar mais, ainda tínhamos que devolver assinado pelos pais. Ou seja, meus velhos teriam que ler a merda que eu iria escrever!

Eu, ingênuo demais, nem fazia ideia do que gostaria de ser. Por outro lado, sabia muito bem o que não queria: servir ao exército e seguir a profissão do meu pai. E foi isso que escrevi. Nem preciso dizer a porcaria que deu, né?! Aqui teve início a nossa épica e angustiante “guerra dos 8 anos”, que, por ser irrelevante ao tema desse post, deixarei maiores explicações para um próximo (se ele existir, lógico!).

Apesar de pouco elucidativo, essa passagem remete bem aquilo que quero dizer: algumas vezes, somos (forçadamente) compelidos a prerrogativas nada saudáveis. Pelo amor de Deus! Vocês hão de concordar comigo que 10 anos não é, nem de longe, a idade adequada para se começarem esses questionamentos existenciais.

Ao comparar minhas respostas com as dos demais colegas de classe, instintivamente, me senti como um alien; uma anomalia escrota, distinto (e no pior significado que o termo remete) de qualquer coisa viva que já habitou esse planeta. Mesmo assim, não me arrependo do que fiz. Graças a isso, não me tornei um vândalo, grafiteiro, drogado ou (e pior de todos!) pagodeiro.

Hoje, me considero normal (coisa que, por si só, já é muito genérico) justamente por não ter sido “comum”. Minha diferença foi desencadeada pelos autoquestionamentos que se sucederam ao citado no princípio do post. Comecei a não aceitar o geral, o mediano como regra básica para meu desenvolvimento. Eu até poderia não saber exatamente qual (ou quais) seriam os caminhos que gostaria de seguir a partir de um certo ponto. Mas, por outro lado, tinha bem claro qual eu nem tentaria seguir.

Posso não curtir muito o estágio em que minha vida se encontra agora (pois é, afinal, biblioteconomia não foi uma escolha). Porém, se estou assim, é porque o fiz sozinho. Minhas escolhas não foram influenciadas pelo gosto “da maioria”. Teria, realmente, seguido o rumo errado se soube o que fazer do meu futuro.

Mas, enfim, sapiência e arrogância nunca foram os verbetes mais consultados do meu dicionário.


H (walk my way)


* Imagem retirada daqui

quarta-feira, 17 de março de 2010

Mudança x estagnação



Apesar de parecer estagnado, acredite, você nunca o está.

Afinal, esse corpo celeste, o qual você habita juntamente com 6 bilhões de semelhantes, está em constante movimento. E, mesmo diante de bizarras teorias, nada indica que isso irá parar de uma hora para outra.

A percepção disso (em escala menor, claro!) está na sua observação do céu e nos cortes precisos dos ponteiros do seu relógio (isso se você não o comprou via Ponte da Amizade).

Você pode acreditar que todos esses pontos relacionados acima resultam em mudanças. E eu não vou dizer que você está errado. Apenas está meio certo.

O resultado desses exemplos apresentados é a progressão, o “ciclo natural das coisas”. Algo que vem ocorrendo há tanto tempo, tendo uma impressão (erroneamente) tão diminuta que se tornou corriqueiro intitulá-lo de “normal”.

Algo nada normal, taí uma boa interpretação que podemos fazer de uma mudança. Na grande maioria das vezes, surge no momento mais inoportuno, trazendo consigo o desconforto, o desagrado, a estranheza. Porém, tudo depende do ponto de vista. Ou melhor, do contexto que ela se encontra inserida. Sim, porque é disso que ela precisa, e é daí que ela retira sua força e deixa gravado o motivo de sua existência: no contexto.

Até esse ponto você deve estar muito confuso, não é?! Eu também. Ultimamente minha vida tem tomado a forma de uma árvore, onde cada galho transforma-se num contexto propenso a uma mudança. Quando várias se sucedem, de maneira quase ininterrupta, emerge um turbilhão que, por afinidade, gosto de chamar de “tempo presente”.

Não estou aqui para discutir se isso é bom ou ruim, reconfortante ou desesperador. Talvez eu apenas chegue a conclusão de que é necessário para não acabar estagnado...



H (aos poucos)



* Imagem retirada daqui