sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Minha vida, minha história - post convidado


Alguns anos atrás, um homem, que amava muito uma mulher, estava indo ao encontro dessa. Ele ia a passos decididos, sem medos e anseios, porém muito feliz. Afinal, que outra sensação uma paixão pode nos causar?

De longe ele a avista. Tão linda, tão formosa... de doer de tão bela! E, como em tantas vezes nos últimos meses, ele se põe a pensar:
- Meu Deus! O que fiz para merecer jóia tão bela e preciosa quanto essa a que vejo e desejo?

Ao chegar ao encontro da amada, esse homem, desatento como só ele (ou enfeitiçado como qualquer outro que já a tinha amado), não percebe que ela está diferente. E ele veria que era um diferente de desalegrar qualquer um em seu lugar...

- Precisamos ter uma conversa... muito séria – diz a mulher com um olhar vazio.
- Posso antes lhe dizer uma coisa muito importante? – intercede ele, ainda sorrindo.
Ela, já pressentindo o que o homem iria dizer em seguida, coloca a mão sobre a boca desse, impedindo que esse diga a tal frase.
- É exatamente sobre isso que precisamos conversar... – diz ela com os olhos já marejados.

Ele pega a mão dessa entre as suas, abaixa a cabeça enquanto acaricia aquela mão fria e macia. Ficam assim por alguns minutos: ela, olhando-o como se visse um menino desamparado, sozinho no mundo; ele, cabisbaixo, não sentindo mais o chão aos seus pés...

Ao levantar a cabeça, ele não traz mais o brilho rotineiro no olhar. Vagarosamente ele libera a mão da mulher e, com uma voz calma, pergunta:
- Por quê?
- Não existe um motivo aparente. – diz a mulher – simplesmente não aconteceu como queríamos que acontecesse.
E ele logo pensa: "Queríamos? Mas aconteceu tudo como eu queria... como ela pode fazer isso comigo?"

- Diga-me, por favor, como alguém deixa de amar outro alguém de uma hora para outra?
- Mas não aconteceu de repente! – retruca a mulher – Foi aos poucos que isso aconteceu. Eu apenas estou sendo sincera com você em dizer que não consigo mais lhe amar como você me ama.

Ele abaixa novamente a cabeça. Sente tudo ao seu redor girar. Como pode uma fortaleza desmoronar em poucos minutos? Como? Ele tinha lhe dado tudo: carinho, atenção, proteção. Estava sempre lá, nas horas boas, mas, principalmente, nas horas ruins...

Num movimento lento, ele a encara pela primeira vez durante aquela conversa (e a última das suas vidas) e, com sua voz rouca rotineira, diz:
- Eu lhe perdôo.
- Pelo quê? – pergunta a mulher sem entender.
- Por não ter sido totalmente sincera comigo. – e, vendo que ela já articulava uma defesa, ele eleva a mão e o tom de voz: - se você tivesse sido totalmente sincera comigo, não teria esperado que o seu amor por mim chegasse a esse ponto de não existir mais... eu fui o melhor que pude para você. Honesto, leal, amigo, carinhoso... bom o bastante para sempre lhe ajudar e nunca maldizer de qualquer defeito seu! E é dessa maneira que você me retribui?

Ele respira fundo como se não o fizesse a milênios. Está vermelho, porém, estranhamente calmo. Pensamentos se chocam em sua mente enquanto espera que ela diga algo. E que resposta ela poderia dar?! No fundo ele queria mesmo que ela dissesse que tudo não passava de uma brincadeira. Mas que idiota seria capaz de brincar com algo tão sério? Quantas perguntas lhe atormentavam...

- Eu não sei mais o quê lhe falar... – finalmente diz ela, num esforço que parecia hercúleo.
- Claro que não, porque você sabe que eu estou certo! – ele faz uma pausa para tentar ordenar o turbilhão da sua cabeça – Desde o começo, achei que você era diferente das outras que eu tinha conhecido. Mas você é igual, senão pior. Você queria isso! Não sei o motivo... – aqui, ele repara que ela ia o interromper, então eleva um pouco mais a voz: - ... e nem quero saber! Pensei que você não fosse uma dessas que deixa a opinião de outras pessoas interferir na sua vida, porém, pelo que parece, eu estava enganado...
- Acho que você está muito alterado para dizer uma bobagem dessas. Você nem sabe o verdadeiro motivo...
- E, como eu já disse, nem quero saber – diz ele calmamente – Não importa o tão bom que você seja, isso nunca é o bastante! Sei que sou sensível e romântico demais, que tenho qualidades que nenhum outro homem possui ou possuirá, mas isso não é o bastante...

Por alguns instantes eles ficam ali imóveis e mudos. Nenhum dos dois sabe porquê ainda estão ali, contudo nem ele, nem ela, demonstram vontade de se mexer. Quem passa por eles, logo imagina que são dois estranhos que se encontraram, porém com nada em comum entre eles. E é exatamente isso que eles são agora: dois estranhos...

Ela abre a boca para dizer algo, mas é ele quem fala:
- O que vou te dizer agora, gostaria que você guardasse bem – ele faz uma pausa para tomar fôlego – Peço desculpas se alguma vez fui grosseiro ou mal-educado com você... saiba que não foi minha intenção – ele faz uma nova pausa como se não soubesse mais o que dizer. Então, ele se levanta, ela o segue com o olhar:
- Espero que você seja muito feliz. E se algum dia quiser me conhecer de novo, você sabe como e onde me encontrar... um laço arrebentado pode muito bem ser refeito, mas acima de tudo... – ele pára ao sentir suas lágrimas começarem a brotar - ... que nunca amei, nem serei capaz de amar outra como lhe amei e amo... daqui para frente, você me será apenas uma lembrança de uma época que, mesmo tendo todos os motivos, jamais esquecerei...

Ele se vira e, em passos decididos, se afasta, sentindo que ela o segue olhando até ele se misturar a multidão.

Alguma vez na vida ele se arrependeu por não querer saber o verdadeiro motivo? Nunca! E ela, se arrependeu de não ter sido totalmente sincera com ele? Algumas vezes, mas não o bastante para procurá-lo.

E eles foram felizes? Sim, cada um ao seu jeito. Porém, nunca como foram quando estiveram juntos. Ele amou novamente? Não, e ele se arrependeu disso por muito tempo. Mas, como ele mesmo dizia:
- Cada amor perdido é uma ferida nova que surge no coração. Só quando essa ferida cicatriza é que você está realmente pronto para um novo amor... mas existem cortes que nunca cicatrizam.

E esse foi o caso desse seu amor: um corte tão profundo que jamais cicatrizou...

(Michel Ferrera, maio de 2000)

H (baseado em vários fatos reais!)

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