domingo, 16 de agosto de 2009

Auto-história: o pássaro de fogo


Em meados da década de 1960, surgiu uma avalanche de novos conceitos de carros esportivos norte-americanos: os pony-cars. Assim, apareceram o Plymouth Barracuda, o Ford Mustang e o Chevrolet Camaro. Cada um teve sua legião de fãs. Porém, com excessão do Mustang, nenhum deles teve uma "personalidade" tão marcante quanto o Pontiac Firebird, nome de origem indígena: uma lenda popular sobre um pássaro que trazia ação, poder, beleza e juventude.

Seu idealizador foi ninguém menos que o vice-presidente da GM na época, John Zachary DeLorean (se você pensou no carrinho do filme "De Volta Para o Futuro", acredite, não foi por acaso! rs). A ideia era não perder terreno para o "outro lado", ou seja, o outro segmento da GM, a Chevrolet. Daí a grande semelhança estrutural entre Firebird e Camaro.

DeLorean o apresentou a imprensa em janeiro de 1967 e, graças ao alvoroço promovido como primeira impressão, um mês depois ele já estava disponível para comercialização, nas versões cupê e conversível. Apesar de serem, equivocadamente, tratados como "primos", as diferenças entre Camaro e Firebird eram gritantes. Enquanto o primeiro ainda se mostrava preso as raízes, sem excessos em todos os sentidos, o Firebird buscava inspiração em modelos europeus, utilizando combinações de cores mais requintadas e chamativas, a grade dianteira bipartida, o ressalto no capô e as falsas entradas de ar nos pára-lamas traseiros. A potência de seus motores é um capítulo à parte: os Camaros ainda sofriam com os tradicionais motores de seis cilindros, que geravam, no máximo, 155cv. Já os Firebirds, eram equipados com os seis cilindros em linha chamados de Sprint, que entregavam até 215cv. No ano seguinte, foi lançada a versão com motor V8 (apelidado de Ram Air), com 320cv de potência. Um verdadeiro estouro. Uma tentativa de superar em vendas o "primo pobre" Camaro, numa época em que os rachas diante de semáforos se tornavam constantes e a força de arranque, importantíssimo.


As mudanças significativas começaram em 1969, com a separação dos faróis dianteiros, cercados por uma moldura de poliuretano chamada Endura. Mas, a principal de todas foi o lançamento da versão pouco divulgada Trans Am, trazendo para as ruas modificações exclusivas da versão de corrida. A partir de 1970, o nome Firebird foi instantaneamente trocado pelo nome da nova versão. Na verdade, o Trans Am era o top da segunda geração do Firebird. O pára-choque e a grade dianteira do Firebird agora formavam uma peça única, composta do material Endura apresentado em 1969, mas a grade não era mais cromada e sim pintada na cor do carro. Os pára-lamas eram mais arredondados e o comportamento dinâmico estava mais arisco, pois a suspensão traseira agora contava com estabilizador. O modelo conversível deixava de ser oferecido. O motor V8 chegava a 335cv. Um dos opcionais do Trans Am era o Shaker Hood, a seção no capô que se movia junto do motor, montada sobre o Ram Air II — uma versão mais potente, com 370cv, graças a cabeçotes trabalhados e coletores de admissão em alumínio. Apenas 88 unidades foram construídas.

Em 1972, as novidades estavam na grade em estilo "caixa de ovos" e num novo pára-choque dianteiro, além das famosas rodas Honeycomb. Os dados de potência passavam a ser declarados em valores líquidos em vez de brutos. A mudança desanimava os potenciais consumidores: o V8 350 passava a dispor de apenas 150cv, enquanto que o 400 estacionava nos 250 cv — ainda que esses valores significassem algo como 50% a mais se comparados aos brutos. Mas o pássaro de fogo ganhava a opção do 455 Super Duty, montados à mão, com bloco reforçado, dois parafusos por capa de mancal, comando de válvulas especial, pistões de alumínio, válvulas enormes e coletores de escapamento dimensionados. Geravam 310cv líquidos, embora alguns especialistas garantam que a potência chegava aos 370 cv. Essa omissão do verdadeiro rendimento do motor, que não era novidade nos EUA, parece ter como objetivo não chamar muita atenção das companhias seguradoras e do governo, que a cada dia trabalhavam mais contra os "carros musculosos".

Com o SD, o Firebird se tornava um legítimo — e o único — carro americano de competição 100% legalizado para andar nas ruas. E firmava a imagem de esportividade da Pontiac, na época em que todos os carros do gênero agonizavam. O Trans Am passava em 1973 a ostentar o que deve ser o mais famoso emblema já estampado no capô de um carro americano: um enorme pássaro de fogo que dominava o capô, gerando muita polêmica entre os fãs. Mau gosto ou não, as vendas reagiram bem naquele ano.


Porém, com a crise do petróleo cada vez mais ativa nos Estados Unidos, os motores do Firebird foram gradativamente perdendo potência. Com a debandada da concorrência na virada da década 1970/80, os investimentos foram concentrados mais na sua aparência. Isso gerou recordes de vendas (em 1976, foram mais de 100 mil unidades vendidas).

O Trans Am teve uma terceira geração, iniciada em 1982. Como principal novidade, os faróis escamoteáveis. Mas a potência do motor continuava ladeira a baixo. Ironicamente, durante a década de 1980, o Trans Am foi não só o carro-madrinha das 500 Milhas de Indianápolis, mas também o prêmio para o seu vencedor. E, quando todos achavam que o fim estava próximo, em 1989, a Pontiac apresentou a edição especial de 20 anos do Firebird Trans Am: o motor Buick V6 3,8 com turbo, dotado de câmbio automático, entregava 250 cv, número contestado por especialistas devido ao excelente desempenho. De fato, esse era o Firebird mais rápido até então. Sorte de Emerson Fittipaldi, vencedor das 500 Milhas daquele ano.. rs

Em 1993, surge a quarta (e última) geração do Firebird. Numa tentativa desesperada de conter os recordes de vendas dos carros japoneses que invadiam o país, o sucesso veio na forma de um grande fiasco. O carro podia até ser potente, mais era muito pesado e ainda insistia no eixo rígido traseiro. Não havia nem como comparar com os Hondas, Toyotas e Mitsubishis.

Apesar da restauração ter entreguei um carro muito bonito, além do crescimento anual da potência final, a Pontiac já ensaiava o corte definitivo das asas do Firebird. Em 2002, a Pontiac, que até então oferecia versões comemorativas de aniversário apenas para o Trans Am, decidiu celebrar o aniversário de 35 anos do próprio Firebird. A nova edição era um Trans Am pintado em amarelo, com rodas pretas e grafismos especiais pela carroceria, além do motor de 325 cv. Ela simbolizava o fim de um "pony-car" que, apesar de ter sofrido as agruras das crises energéticas durante os anos 1970 e a falta de criatividade dos 1980, encerrou sua carreira longe da decadência, conquistando uma legião fiel de entusiastas como um produto amadurecido.

Na telona, podemos destacar o filme "Caçada da morte", de 1978, numa cena que vale pelo filme (que, na verdade, não é nada bom!) todo juntamente com uma picape; os seriados "Arquivo confidencial", exibido no Brasil de 1974 a 1980; e "Supermáquina". Aqui em baixo, o clipe "What it feels like for a girls", da Madonna, quando ela faz uso de dois Firebirds 73:



Quem quiser mais informações sobre esse "pássaro" motorizado, basta clicar aqui.

H (só mais 3!)

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