sexta-feira, 10 de julho de 2009

Auto-história: o ícone do saia-e-blusa

Uma pergunta: qual foi o carro que melhor definiu a década de 1950 nos Estados Unidos? Se você tem mais de 60 anos, com certeza saberia a resposta mesmo morando aqui nos trópicos. Agora, se você ainda é tão jovem a ponto de nem se lembrar do Atari, então continue a leitura que logo irá descobrir a resposta para a pergunta.

Em toda a história automobilística ao redor do globo, nem outro carro conseguiu atingir seu ápice e decadência em anos tão próximos como o Chevrolet Bel Air 1957. Foi o queridinho de uma juventude pós Segunda Guerra que detestavam os tamanhos exagerados dos Cadillacs, mas que, ao mesmo tempo, não abria mão da exuberância que os carros da GM traziam. Se pudesse aliar esportividade sem excessos, melhor ainda.

A ideia toda nasceu em 1949, quando surgiram quase que simultaneamente o Cadillac De Ville, o Buick Roadmaster Riviera e o Oldsmobile Ninety-Eight DeLuxe Holiday. Em comum, um teto rígido, sem coluna central e pintado numa cor diferente da do restante do carro. Some-se a isso os vidros traseiros envolventes e voilà.. aí estava a sensação de conversível (e liberdade) que os jovens da época buscavam. Eram os chamados "hardtop". Tudo graças ao projetista Harley Earl.

O sucesso foi tanto que a direção da GM resolveu repassar esse estilo para a Chevrolet, uma das suas divisões de carros de passeio. Assim, em 1950, nascia a série StylelineDeLuxe Bel Air (o nome foi tirado de um bairro residencial luxuoso de Los Angeles). Pois é, o primeiro Bel Air na verdade era a opção "top" de uma série que ainda incluia os "One-Fifty" (150) e os "Two-Ten" (210), uma referência às cilindradas. Porém, essa "desmembração" só ficou evidente em meados de 1953, quando o Bel Air foi promovido à mais completa série da divisão. Além da maior evidência, o Bel Air estava mais gracioso e requintado na aparência. Agora, além do cupê ao estilo hardtop, a série incluía sedãs de duas e quatro portas e um conversível.

O nome estava certo, o estilo cada vez melhor, mas ainda faltava uma faísca capaz de causar entusiasmo no topo de linha da Chevrolet. Numa época em que os fabricantes de Detroit faziam atualizações anuais, o Bel Air teve sua mais relevante evolução em 1955 quando a direção da GM tomou conta que a potência gerada pelos 6 cilindros de seus motores (125cv) já não era o bastante para competir com os concorrentes. Os V8 precisam voltar. E qual foi o escolhido como garoto-propaganda-cobaia para esse retorno triunfal?!

Os fãs do Bel Air agradeceram. E muito. O modelo de 1955 foi fabricado meio a meio: com 6 cilindros e câmbio Powerglide, que geravam 136cv; e os V8, que com carburador quádruplo, chegavam a imprecionantes 180cv de potência.

Mas, ao mesmo tempo que o Bel Air tinha aquele estilo jovem, a Chevrolet queria criar algo para atrair também a família. E, lançou no final daquele ano a perua Nomad. A "família Bel Air" parecia estar completa. E os americanos adoraram as novidades: o modelo 1955 deixou a Chevrolet no topo do ranking do mercado americano, com uma vantagem de mais de 150 mil carros a frente da Ford.

A linha 1956 teve seu aspecto retilíneo reforçado. A frente recebeu grade retangular embutindo as luzes de direção e transbordando as duas extremidades, com uma faixa cromada que acompanhava o pára-choque até as aberturas das rodas. A divisão das cores dos modelos saia-e-blusa agora começava por uma fina faixa pontiaguda, sobre as rodas da frente, até chegar com suave curvatura ao pára-choque traseiro. O bocal do tanque vinha atrás da lanterna esquerda. A perua de quatro portas para até nove ocupantes foi batizada de Beauville.

Mas o melhor ainda estava por vir. A ideia era dar ares de Cadillac ao Bel Air. E o modelo 1957 reproduz para muitos em forma de automóvel a quintessência de sua época e de seu país. Lá estavam os rabos-de-peixe, o pára-brisa panorâmico, a pintura saia-e-blusa e os muitos cromados. O motor V8 entregava até 283cv na sua versão mais robusta. Um sonho. O conforto também era outro ponto forte: o cliente podia optar por ar-condicionado, direção hidráulica, rádio, controle elétrico dos vidros e bancos e até um barbeador elétrico (rs).

Contudo, em 1958, com a chegada da divisão Impala, o Bel Air foi perdendo atenção pela direção da Chevrolet. O primeiro nome da marca a criar uma forte empatia com o público merecia um tratamento melhor. Ele continuou sendo fabricado, como uma sombra do Impala, até 1975 nos Estados Unidos e, até 1981, no Canadá.

Muitos se referem ao Bel Air 1957 como "o Chevy clássico". Nunca antes nem depois dele (à parte o Corvette) um Chevrolet significou tanto em termos de estilo, desempenho, carisma e sintonia fina com seu tempo. Passados 50 anos deste modelo lendário, é impressionante a força da imagem desse carro.

No cinema, o Bel Air foi um astro de inúmeros filmes. Entre alguns, posso citar: 007 Contra o Satânico Dr. No (1962); Quando os Jovens se Tornam Adultos (1982); Los Angeles - Cidade Proibida (1997); A Vida em Preto em Branco (1998); Capote (2005).

H (topei com um desses ontem.. quase chorei!)

Um comentário:

Juliana Almeida disse...

Que bela máquina...
Só não gosto daqueles dados cafonas, que alguns seres gostam de colocar no retrovisor...

E o que eu não perdôo, filmar vidros de carros antigos... (momento desabafo..rs)

Bjo querdidoooooo!