Como é bom recebermos presentes sem uma data comemorativa prevista.
Na última semana, recebi da Bequinha um livro de poemas do poeta argentino Jorge Luis Borges (foto), “O Aleph”. Ao começar a lê-lo, me senti um verdadeiro ignorante por não conhecer tanto sobre outros poetas além daquelas figurinhas carimbadas da época do colégio.
Pensando nisso, pesquisei um pouco mais e resolvi transcrever dois excelentes trabalhos desse poeta que nasceu em Buenos Aires (1899) e morreu em Genebra (1986):
Um Cego
Não sei qual é a face que me mira
quando miro essa face que há no espelho;
e desconheço no reflexo o velho
que o escruta, com silente e exausta ira.
Lento na sombra, com a mão exploro
meus traços invisíveis. Um lampejo
me alcança. O seu cabelo, que entrevejo,
é todo cinza ou é ainda de ouro.
Repito que perdi unicamente
a superfície vã das simples coisas.
Meu consolo é de Milton e é valente,
porém penso nas letras e nas rosas.
Penso que se pudesse ver meu rosto
saberia quem sou neste sol-posto.
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Do que Nada se Sabe
A lua ignora que é tranquila e clara
E não pode sequer saber que é lua;
A areia, que é a areia. Não há uma
Coisa que saiba que sua forma é rara.
As peças de marfim são tão alheias
Ao abstracto xadrez como essa mão
Que as rege. Talvez o destino humano,
Breve alegria e longas odisseias,
Seja instrumento de Outro. Ignoramos;
Dar-lhe o nome de Deus não nos conforta.
Em vão também o medo, a angústia, a absorta
E truncada oração que iniciamos.
Que arco terá então lançado a seta
Que eu sou? Que cume pode ser a meta?
(Jorge Luis Borges)
H (Brigaduuuuu!)
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