Para quem nasceu na década de 1980, como eu, não pode ter existido período melhor para se viver. Agora, pergunte para qualquer amante de carros clássicos qual foi a melhor década automotiva da história. Com certeza, a resposta unânime seria a de 1950.
Foi uma época em que, para os carros, a moda era, justamente, criar moda. O “ateliê” e os artistas para tudo isso?! O gigante império americano e seus três cavaleiros do apocalipse (eu sei que na psedo-história original eles eram sete, mas pouco me importa!): GM, Ford e Chrysler. Com o “american way” competindo com os “barbudos bebedores de vodka” depois da Segunda Guerra, o céu era o limite para as três montadoras disseminarem o gosto americano pelo mundo. Ou o que ele viria a ser.
Dessa forma, a década de 1950 e a cidade de Detroit foram transformadas em verdadeiras olarias, entregue ao bel-prazer da criatividade dos desenhistas e projetistas das montadoras.
Claro que, entre uma tentativa e outra, erros e acertos, sucessos e fracos se intercalaram, possibilitando que pérolas no universo automotivo fossem divulgadas até por meios pouco prováveis. Um dos casos mais famosos é o do Plymouth Fury, que, graças a Stephen King, ficou eternizado como o vilão do romance “Christine”.
Tudo começou em 1955, quando a Chrysler sentiu-se no dever de empregar mais esportividade aos seus modelos, numa tentativa desesperada de diminuir a mordida que seus concorrentes GM (com o Corvette) e Ford (Thunderbird) estavam dando no mercado. O segmento Plymouth era o de maiores vendas da montadora. Logo, foi escolhido para “abrigar” o novo carro da marca.
Em 1956, o Plymouth Fury (fúria, em inglês) foi apresentado no Salão de Detroit. Era um carro horroroso. Muito parecido com o Ford Thunderbird, era um carro fadado a não-produção. Porém, no ano seguinte, a direção da Chrysler resolver promover uma “caça por talentos” dentro da empresa. O desafio era redesenhar o Fury, trazendo um ar mais esportivo e sem muito exagero ao carro.
O projeto vencedor deu origem a um nome estilo para a marca: o forward. O motor V8 foi mantido (afinal, era mais potente que os concorrentes). Porém, com a nova transmissão Torqueflite (que era operada por cinco botões e não por alavanca) aumentou a potência final de 240cv para 290 cv! Difícil era não apreciar seu belo desenho: foram necessários dois anos até a GM alcançar a Chrysler com carros igualmente mais baixos e simples. As barbatanas na parte traseira foram um prelúdio do que viria tornar famosos os Cadillacs na década seguinte.
Os faróis dianteiros eram outro capítulo à parte. Dois pares separados por uma grande entrada de ar. Outros detalhes eram os grandes pára-choques cromados e as rodas traseiras escamoteadas. O carro foi um sucesso de vendas, desbancando todos os concorrentes diretos.
Em 1959, na absurda vontade de promovê-lo a carro familiar, a Plymouth renomeou a sua versão top para Sport Fury, com motorização de 315cv. A versão com 4 portas e potência mais modesta ficou com o nome anterior (Fury), voltado à família. O Sport Fury ganhou uma nova frente e traseira, com faróis bizarros e lanternas horríveis. A versão conversível, lançada no começo desse ano, não chegou a virada da década. Aos poucos, foi perdendo terreno no campo esportivo justamente pela tentativa inconcebível da Chrysler de transformá-lo em carro familiar (como o Thunderbird, na década de 1960).
Teve, ao todo, 6 gerações. As três últimas retalharam o carro de tal forma que nada da primeira geração sobrou em 1978, ano da última unidade fabricada. Quem conheceu o Plymouth Fury na sua versão de 1958, o auge da sua produção, não o reconheceria 20 anos depois como sendo o mesmo carro. Passou os últimos anos de vida servindo de carro patrulha nas principais cidades americanas.
Para os cinéfilos, segue abaixo a personificação do mal através de um Plymouth Fury 1958, conhecido por muitos como "Christine, o Carro Assassino", filme de 1983, do diretor John Carpenter:
H ("show me, Christine")
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