Se fosse possível aos mais entendidos do assunto listarem numa das mãos os melhores carros-esporte fabricados na terra da Rainha Elizabeth, tenho certeza que, na grande maioria dos casos, o primeiro dedo "citaria" o carrinho que será analisado nesse post.
Porém, antes de cairmos de cabeça nesse bólido, vale fazer um breve balanço histórico: durante a década de 1950, na Europa, não existia melhor "laboratório" para os fabricantes poderem testar suas criações do que a famosa corrida das 24 Horas de Le Mans. Essa, por sua vez, foi responsável por imortalizar carros espetaculares, sonhos para qualquer colecionador que se preze.
E, se teve uma montadora que aproveitou e muito os bons fluídos da pista francesa, foi a britânica Jaguar. Entre 1951 e 1957, ela fez a festa na prova anual utilizando seus dois modelos fabricados na época: o C-Type e, sua evolução, D-Type. Com a pintura verde escura tradicional dos carros de corrida britânicos – o famoso British Racing Green –, o D-Type era um verdadeiro foguete! Era capaz de fazer de 0-100 km/h em impensáveis 4,7 s!
A marca já tinha um sedã e um esportivo (o Mark II e o XK 120, respectivamente) que faziam sucesso em vendas na Europa e Estados Unidos. Porém, o destaque que o D-Type estava recebendo, fez a diretoria da Jaguar repensar na imagem de um carro-esporte para uso "doméstico": nascia assim o XK SS. Infelizmente, poucas unidades foram construídas e comercializadas, por causa de um grande incêndio que danificou extensamente a fábrica de Coventry (sede da marca). O jeito foi recomeçar o projeto, dessa vez com a ajuda do famoso construtor americano de carros de corrida Briggs Cunningham.
Em março de 1961, no Salão de Genebra, era apresentado o resultado final do tal projeto: o Jaguar E-Type. Chamou muita atenção do público, sendo muito elogiado pelas belas linhas. Segundo a imprensa da época, o carro era "bonito de qualquer ângulo". A carroceria exibia formas arredondadas e imponentes. Media 4,45 m e apenas 1,22 m de altura. O cupê tinha ótima área envidraçada, coisa rara num esportivo. Sua frente era muito grande, com o capô fazendo uma só peça com os pára-lamas e tinha abertura contra o vento. A grade estreita, herdada do D-type, tinha formato oblongo e os faróis circulares eram carenados.
Desenvolvia potência de 265 cv, suficientes para levar o esportivo de mais de 1.200 kg a 230 km/h, desempenho muito bom naquele tempo. A direção, tipo pinhão e cremalheira, algo pesada em manobras, tornava-se suave e precisa em velocidade. Os freios Dunlop, a disco nas quatro rodas, eram assistidos mas não muito eficientes.
Por dentro, tudo de muito bom gosto e refinamento. Se o capô era grande, o habitáculo nem tanto. Os bancos dianteiros eram confortáveis, mas limitados. Atrás do volante, havia uma vasta instrumentação de boa qualidade. Se na Europa ele ficou conhecido como E-Type, nos EUA seu codinome era XK-E. Foi um sucesso de vendas, principalmente porque seu preço final era bem menor que a da maioria de seu concorrentes diretos.
Em 1968, era lançada a sua segunda geração. Por fora, a grade oblonga estava maior, as luzes de direção (tanto atrás quanto na frente) vinham abaixo dos pára-choques. Por dentro, ganhava bancos mais confortáveis, com reclinação total e encosto de cabeça. Com o aumento da concorrência (com a chegada do Porsche 911, Shelby GT 350 e Chevrolet Camaro, por exemplo), porém, as mudanças precisaram ser mais sólidas.
Dessa forma, surgia, em 1971, a maior mudança do carrinho: ele ganhava um motor V12 todinho, só para ele! A potência passava a 272 cv, com a velocidade final aumentando para 235 km/h, e o peso subia sensivelmente: 1.450 kg. Só era vendido na versão longa com pára-lamas mais largos, pois a bitola havia aumentado, e na traseira, recebeu um reforço estrutural. Na frente a grade também ficava maior. O escudo-símbolo da marca vinha ao centro e não havia mais a régua metálica que cortava a grade oblonga, que era toda cromada.
Em 1975, após um total de 71.071 exemplares fabricados entre cupês e conversíveis, o E-type, já com idade avançada e concorrência muito forte, deixava o mercado. Ao lado do XK e do Mark II, faz parte dos Jags mais famosos. E nunca teve sucessor à altura: o XJ-S de 1975 estava longe de repetir sua elegância.
Para os cinéfilos, as dicas são as seguintes: no filme Ensina-me a viver, de 1971, vemos um E-Type convencional transformado num carro funerário pelo protagonista; em Corrida contra o destino, também de 1971, o E-Type confronta o Dodge Challenger dirigido pelo protagonista, mas acaba levando a pior; em Comboio, de 1978, a bela Ali MacGraw pilota um E-type da última série; e, como deixar de citar a série de filmes do detetive Austin Powers: seu carro é um E-Type pintado com a bandeira britânica (como o da terceira foto).
H (mais um sonho de consumo!)
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