segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Há dias


Há dias em que, por mais improvável que seja, rezo para que meus cinco minutos de praxe, logo cedo, durem pouco mais de uma hora. Na esperança de que alguém me atenda, percebendo o quão grande é a minha mórbida vontade de permanecer aninhado na temperatura amena que emana de meu aconchegante reduto repousante.

Há dias em que peço encarecidamente por uma dor lacerante pelo meu corpo, daquelas que tornam inconcebível qualquer tentativa de um movimento abrupto, quiçá, moderado.

Há dias em que, já entregue aquela nauseante sensação de derrota, ainda entre a rotina e a lucidez, suplico para que nenhuma surpresa desagradável venha ao meu encontro, para transformar o que já é um suplício num caminho de espinhos.

Há dias em que, quando surge uma dessas surpresas, bate aquele arrependimento, aquele anseio incontrolável de gritar a plenos pulmões para que metade do planeta ouça: “mas que po*** de vida é essa!?”.

Daí, como uma resposta repleta de mensagens subliminares, Ele me envia vários noticiários sobre tragédias, desastres e outros momentos perturbadores, como se Ele estivesse me precavendo, passando Seu sermão: “agradeça por você não estar no meio dessas intempéries”.

No fim das contas, posso dizer que, por pior que seja a minha vida, ela só é ruim pelo meu prisma. Se não estiver contente, basta girar o meu caleidoscópio para ter outras visões.


H (dia ruim tem dessas coisas)

Um comentário:

The Owl disse...

Eu ia comentar sobre o tema, mas resolvi falar outra coisa: como acompanho seu blog desde o começo, está sendo muito legal acompanhar também sua evolução como escritor. Belas frases, belas frases...Provavelmente meu post preferido.