Passou depressa. Mas não rápido o bastante, diriam os pessimistas.
Estou até agora me repreendendo por resolver escrever esse post. Porém, como assunto anda escasso por aqui, vamos lá: como esse fim de ano tem sido bem deprimente, por n motivos que não julgo necessário enumerá-los aqui, hoje acordei decidido a fazer algo "diferente". Por diferente, entendam dormir bem, levantar cedo, não ler e não ver TV.
Depois do almoço, calcei meu tênis de caminhada e fui dar uma volta pelo bairro. Passados trinta minutos, me sentei no banco da praça próxima de casa. Depois de umas duas semanas sem, sintonizei meu celular na KissFM.
Enquanto a música fazia seu trabalho (me proteger do mundo externo), não resisti e acendi um cigarro (eu sei, eu sei! Como alguém sai para uma caminhada e termina fumando?!). Logo, comecei a pensar numa pergunta e, instintivamente, olhei ao redor para ver se o raio da minha privacidade naquele lugar era seguro. Sim, era.
Então, para acreditar ainda mais, a refiz, desta vez em voz alta: "E então, Agamenon? Quais são seus planos para 2012?!"
Não, minha vida (nem mesmo meus últimos 365 dias) passou diante de meus olhos. Respondi o mais sinceramente possível: viver. E é o que desejo a todos.
E aqui está mais um Top. Provavelmente o mais especial deles. Porque, como vocês podem confirmar aqui e aqui também, essa já é a terceira edição do "Top 10 músicas que mais ouvi". Mas, o que ele é afinal?!
Bem, o "Top 10 músicas" foi uma ideia sugerida por uma amiga, lá por meados de 2009. Segundo palavras dela, eu não sou um viciado em música. Eu, simplesmente, vivo por música. Tudo, absolutamente tudo, que faço tem uma canção como mote e/ou pano de fundo. E quem sou eu para desmenti-la?
Dando continuidade a essa tradição, o ano de 2011 foi aquele em que a música se fez mais presente e, consequentemente, mais necessária no meu dia-a-dia. Contrariando os anos da minha adolescência, o silêncio não me inspira mais. Somente a música (além do cigarro) é capaz de ordenar o turbilhão de pensamentos diários. Afastar meus demônios, fortalecer minhas defesas e desacreditar minhas dúvidas e decepções.
Como de costume, cabe fazer algumas ressalvas quanto a essa lista: 1) nenhum artista, apesar de ter acontecido e, isso eu explicarei a seguir, se repete; 2) tentei ao máximo não ofender (ou mesmo citar) pessoas e eventos durante as explicações; 3) pelo grau de dificuldade durante a escolha, inclui algumas ‘menções honrosas’ no final do post. Segue a lista:
10) Passion Pit – Little secrets
Acho que peguei a dica dessa banda no site do Chongas (mas não é certeza!). Na época, lá pelos idos de junho, a música indicada era essa. Pesquisando um pouco mais, encontrei a responsável pelo fim dessa lista. Gostei da cadência e letra. Virou hit na minha playlist. Porém, logo deu lugar a outras. Ou melhor, nove outras. Na sequência.
9) Jamiroquai – Smile
Não tenho muito que falar dessa. Se não me falha a memória (afinal, idade e condições físicas para isso eu já tenho), se encaixa no mesmo caso da música citada anteriormente. Não é raro eu ficar zanzando por inúmeros sites, navegando pelos diversos links compartilhados e acabar por encontrar algo realmente bom e, no mesmo instante, me esquecer completamente onde estou ou como cheguei ali.
Jamiroquai é uma banda que curto desde que vi o clipe da música Deeper Underground pela primeira vez na MTV. Ver o Jay Kay dançando numa sala de cinema inundada foi pirante! A partir daí, a banda se tornou habitué das minhas playlists.
8) Intergalactic Lovers – Delay
Uma das melhores surpresas do ano, a banda lançou em março o disco Greetings & Salutations. Uma amiga me passou o link da versão acústica dessa música em meados de abril. Virou presença constante nas minhas andanças auditivas.
Surgiram como um meteoro. A letra ad eternum agradou alguns, irritou outros e, logo, se tornou viral, parodiada n vezes.
Eu, sinceramente, gostei. Durante um tempo. Depois parti para outras canções do grupo. Confesso que já tinha uns três ou quatro meses que não a ouvia. E, hoje, descobri que ela ainda me encanta. Mas vamos com parcimônia, certo?
6) Incubus – Love hurts
Uma das letras mais bonitas que ouvi nesses últimos meses. Faz parte do álbum Light Grenades, de 2006. Achei por acaso, no YouTube, enquanto procurava por novidades sobre a banda. Que, aliás, lançou o disco If Not Now, When? em julho desse ano. Ainda não tive tempo para ouvi-lo, mas algo me diz que é por um bom motivo.
A música (Love hurts), em si, não significa nada. Apenas uma constatação (ele realmente machuca). Durante algumas semanas de agosto e setembro, foi minha música de dormir (sem maiores explicações!).
5) Foo Fighters – I should have know / These days
Foi uma escolha muito difícil. E, como não consegui chegar a um acordo, decidi dividir esse 5º lugar entre as duas do álbum Wasting Light que mais ouvi. Ambas têm relação com a música citada anteriormente e, também, com o 1º lugar (quem me conhece, dispensa maiores explicações).
Poucas pessoas sabem, mas, como [péssimo] baterista que sou, sempre procurei me inspirar no Dave Grohl quando assumia as baquetas. Acompanhei o surgimento da banda, desde o primeiro clipe. Porém, confesso que deixei de ouvir os dois últimos álbuns. Tudo mudou quando soube do lançamento de Wasting Light.
Foi o álbum mais ouvido, o documentário mais assistido (Back & Forth) e o show mais esperado (Lollapalooza, em abril/2012).
4) Daft Punk – Derezzed
Não sou fã dessa dupla francesa, mas tenho que admitir: Derezzed é foda pra caralho! Provavelmente por isso tenha sido tão difícil classificá-la. Ouço sempre! E só não entrou na lista do ano passado porque comecei a ouvi-la no final de novembro, depois de assistir ao filme do qual ela faz parte da trilha (Tron: Legacy). Uma pequena bobagem (a trilha do filme), que foi apenas considerado o melhor disco de música eletrônica de 2010, pela Billboard.
3) Beady Eye – The roller
Antes mesmo do lançamento do álbum (Different Gear, Still Speeding), que aconteceu no final de fevereiro, esse clipe já circulava no YouTube. Sou suspeito para dizer, mas é um dos meus discos favoritos desse ano.
Bom, o que posso dizer? Essa música é especial! (sério?! Pensei que você tivesse escolhido essa lista ao acaso! rs). Não, é sério. Ela é especial porque surgiu num dos momentos em que mais precisei de inspiração: a finalização do meu TCC. As pessoas, às vezes, me perguntam de que eu me lembro com relação ao mês de janeiro. E a minha resposta é sempre a mesma: essa música. Talvez, porque o TCC tenha sido o meu “rolo”.. rs
2) Kings of Leon – Back down south
Está no álbum mais recente da banda americana, Come Around Sundown, lançado em outubro de 2010. Ouço em todas as minhas viagens. E até quando não estou em trânsito. Sua cadência me faz lembrar muito a sensação de juntar os amigos e pegar a estrada, sem um destino programado.
Foi “a” música do 2º bimestre, repetida incessantemente durante a volta do ErebdSul, em Londrina.
1) Ellie Goulding – Your song
Quando me dei conta de que estava chegando o momento de montar essa lista, essa música [linda] foi a primeira escrita no meu rascunho. Eu sei, eu sei! Como pode um cara metidão a roqueiro, se dizendo tão másculo etc., ter uma canção melosa dessas como a mais ouvida do ano?! Não tentarei explicar porque acabarei caindo num assunto que já me cansou (e muito!).
Apesar de ser fã do bom e velho rock’n’roll, sempre precisei de uma música de “descarga” (não nesse sentido!), para chorar mesmo, sabe?! Já é o segundo ano seguido que o topo dessa lista é dedicado a “ela”. Merda! Espero não precisar de outra música assim em 2012.. de verdade.
.. principalmente para o pobre estagiário que desmontará essa "árvore".. rs
Calma! Não significa que deixarei de postar na última semana do ano. Será um fim de ano atípico, é verdade. Porém, dessa vez, apenas me ausentarei por três dias. Repensar a vida, refletir sobre possibilidades, lamentar decisões e outras bobagens do tipo. Em silêncio.
Espero que o Natal de vocês seja, se não melhor, ao mesmo um pouco mais alcoólico do que o meu.
Estava planejando postar outro texto hoje. Porém, alguns pensamentos surgidos nos últimos dias, me obrigaram a reescrever certos pontos de um conto guardado há muito tempo.
Logo, decidi trazer de volta um dos meus quadros preferidos em tempos mais dignos desse blog: o Top 10. Ou melhor, dessa vez, resolvi elencar doze das minhas cenas favoritas de filmes que tenho na minha dvdteca. É apenas uma primeira versão. Já tenho em andamento uma sequência. Para esta lista em questão, achei prudente não incluir grandes detalhes e/ou explicações para as escolhas. Foram escolhidos por mim e ponto.
Segue a lista:
Filme: Amadeus Ano: 1984 Direção: Milos Forman
Filme: Cantando na chuva (Singin' in the rain) Ano: 1952 Direção: Stanley Donen / Gene Kelly
Filme: Casablanca Ano: 1942 Direção: Michael Curtiz
Como a porra do YouTube não me deixou incorporar nenhuma das várias cenas disponíveis no site, se você quiser ver a cena original, basta clicar aqui.
Filme: Quase famosos (Almost famous) Ano: 2000 Direção: Cameron Crowe
Filme: O Sétimo Selo (Det sjunde inseglet) Ano: 1957 Direção: Ingmar Bergman
Filme: Tempos Modernos (Modern times) Ano: 1936 Direção: Charles Chaplin
É isso. Em breve, a sequência. Aguardem. Ah, já ia esquecendo: a foto no início do post não é da minha dvdteca. Mas representa um pouco a sua variedade.
Principal representante do arcadismo português, Manuel Maria Barbosa du Bocage, ou apenas Bocage, na verdade, foi uma pessoa de transição, tanto na vida quanto na escrita. Viajante errante, quase morto pela Inquisição, passou pelas principais terras da Coroa Portuguesa, inspirando-se por donzelas (a maioria, nem tão donzelas assim) e bebidas. No próximo dia 21, comemora-se 206 anos de sua morte, por aneurisma, na cidade de Lisboa. Segue um de seus sonetos mais conhecidos:
Contrição
Meu ser evaporei na lida insana Do tropel de paixões, que me arrastava: Ah, cego eu cria, ah mísero eu sonhava Em mim quase imortal a essência humana:
De que inúmeros sóis a mente ufana A existência falaz não me doirava! Mas eis sucumbe a Natureza escrava Ao mal, que a vida em sua origem dana.
Prazeres, sócios meus, e meus tiranos, Esta alma, que sedenta em si não coube, No abismo vos sumiu dos desenganos.
Deus... oh Deus! Quando a morte a luz me roube, Ganhe um momento o que perderam anos, Saiba morrer o que viver não soube.
"Credo! Bem que me disseram.. isso aqui está abandonado!"
"Pessoal, alguém lembrou de trazer uma lanterna? Não consigo ver nem onde eu piso!"
"Percebi.. esse é o meu pé, seu ceguinho! Peraí.. acho que tenho uma aqui"
"Anda logo com isso! Estou sentindo algo passeando pelas minhas costas e não tenho um bom pressentimento quanto a isso"
"Desculpa.. é só a minha mão.. estava tateando para ver se acho um interruptor ou algo similar.."
"Nem adianta procurar.. pelo que soube, a luz foi cortada há mais de um mês.. desde que os antigos donos fugiram daqui"
"Eles fugiram?! Por quê? Para onde?"
"Não sei ao certo.. ouvi só rumores.. aquelas histórias de praxe: casa mal-assombrada, parentes enterrados no quintal, dívidas acumuladas, isolamento, loucura.. essas coisas típicas de enredo barato de filmes de terror"
"ACHEI!!! Finalmente achei!"
"Achou o quê, menina?!"
"A lanterna.. não foi você que pediu por uma logo no começo dessa história sem pé nem cabeça?! Então, depois de vasculhar muito na minha bolsa, consegui encontrar uma.. toma"
"Calma.. ilumina ali.. não, ali em cima.."
"Nossa! Olhem quantos papéis espalhados.. sulfites, almaços, folhas de caderno.. tem até post-it grudado no lustre da sala! Afinal, o que são?"
"Parecem frases soltas"
"Isso tudo me lembra um asilo.. ideias antigas, deixadas ao deus dará.. que pena"
"Bom, chega de divagações, pessoal.. fomos contratados para organizar esse mausoléu e não para ficarmos parados admirando suas ruínas.. mãos à obra!"
Daqui algumas horas, tudo perderá sentido. Doze anos de (imaginado) conhecimento mútuo limitar-se-á ao nada.
Nos conhecemos numa época bem estranha de nossas vidas. Você, uma forasteira, fugia de uma vida que não era sua. Eu, ainda imerso no turbilhão da adolescência, vivia cada dia sem qualquer perspectiva. Em meio a uma multidão bêbada e surda, nos trombamos. Meio sem quer, talvez de propósito. E assim seguimos.
Colhemos o que plantamos, isso é bem verdade. Mas quem é o felizardo que consegue colher EXATAMENTE o fruto que idealizou?! Pois é...
Você vagou o mundo. Disse, certa vez, que procurava o lugar mais longe possível de mim. Eu ri. Você não. Confesso: existem mais brasileiros vencedores do prêmio Nobel do que momentos em que me lembro de ter arrancado uma gargalhada de seus lábios.
Daqui algumas horas, você será mais sozinha. Terá um não-sei-quem para dividir os passos pela areia molhada da praia. Não espero que você entenda minha reação quando soube. Da mesma forma, não estou aqui pedindo desculpas pelas coisas que disse. Borracha alguma é capaz de apagar tais atos impensados.
Também não espero vê-la, ouvi-la ou mesmo ter notícias suas daqui em diante. Você terá toda uma vida dividida, de dedicação e afeto. Eu.. bom, sei lá. Estarei por aí, como sempre, me remoendo pelos cantos, chutando pedrinhas pelas calçadas, esperando despertar a qualquer momento, na minha cama, 12 anos mais jovem.
Sempre me lembrarei de você da maneira como a conheci: uma menina, pouco mais de um metro e meio, magrinha, aparentando uma fragilidade externa tão proporcional quanto o olhar de decisão que lançava aos desafios.
Daqui algumas horas, sei que meu celular irá tocar. E, mais uma vez, não irei atendê-lo. Por vergonha (de não saber como consertar um erro antigo). Por inveja (de não-sei-quem que estará ansioso, lhe esperando num altar). Por medo (de mim).
Não desejarei que você seja feliz. Isso você já, seja sozinha, seja acompanhada. Apenas peço (se eu ainda tiver esse direito): não desista de mim. Porém, se decidir fazê-lo, continue.. sem olhar para trás.
H ("Uma doença grave / esse amor sem braços / e toda a carga leve / que súbito me arde.")
Apesar de sempre responder de forma afirmativa a tal pergunta, talvez por imaginá-la retórica, não me lembro de não ter me esforçado uma única vez para segurar a palavra "não", libertina, ziguezagueando na ponta da minha língua.
Estar bem, ao meu ver, vai além da condição física. Tem muito mais relação com o estado de espírito. E o meu anda trôpego, como há muito não ficava. Não digo isso para chamar a atenção ou para me promover como eterna vítima. Digo, simplesmente, porque é a verdade.
Não faz muito tempo, um amigo [agora] próximo disse que a minha principal característica era o sorriso, o transparecer de sempre estar feliz. Coitado. Fiquei triste por ele, incapaz de ver além da minha máscara. E feliz por mim. Afinal, todo o esforço para parecer quem não sou, foi reconhecido com a sua afirmação.
A bem da verdade, ando descrente. Cansado de confiar, acreditar e/ou creditar as pessoas que me cercam. Logo elas se mostram tão "fingidas" quanto eu. Reconheço que não estou na posição privilegiada de juiz supremo, para apontar meu julgamento de caráter contra quem quer que seja. Apenas gostaria que elas fossem sinceras, desde o início.
Já prometi meu coração a uma bela dezena de garotas (o adjetivo está no lugar correto). Fui apressado e precipitado na grande maioria dos casos. Porque "isso" eu não sei fingir: o contentamento que o amor consegue transmitir.
Fica difícil acreditar em algo que raríssimas vezes você pôde sentir entre os dedos. Gostaria muito, mas sei que ele não existe mais.
Como representante (não muito digno, diga-se de passagem) do universo masculino, soaria até piegas dizer o que vem a seguir. Meu maior desejo, hoje, é me apaixonar de novo. Talvez, e nisso sim eu gosto de acreditar piamente, só assim conseguiria esquecer de vez como foi a última, exatamente um ano atrás. Junte a isso o fato de a sua melhor amiga, uma pessoa pela qual você é apaixonado há mais de 11 anos, estar de casamento marcado. E ainda lhe convidar para ser padrinho! Aqui nasce e morre o meu cansaço.
Mas contos de fadas são reservados apenas para os livros. E para entreter meninas. Homens demonstrando tal necessidade latente, denotam fragilidade. Não que eu me importe com isso. De maneira alguma. Depois de um certo tempo, não se liga para mais nada. E disso sim eu tenho medo.
Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
Sol doira
Sem literatura
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como o tempo não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quanto há bruma,
Esperar por D.Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
Mais que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...
"Definitivamente, tomar decisões não é o seu ponto forte, filho!", já dizia minha psicóloga de longa data. E qual seria a minha capacidade para refutar tal afirmação?! Nenhuma, lógico!
Por mais racional que o mundo exija que você seja, suas emoções gostam de às vezes dar um olá, só para ajudar a disfarçar o gosto do fracasso na sua boca.
Arrependido?! O típico adjetivo errado para o momento certo. Não. E estou seguro quando digo que o passado foi 90% da inspiração para o meu "sucesso". Coloco as aspas nesse caso por ser algo ainda incomensurável. Demos tempo ao tempo. Quando sinto o comichão do arrependimento espreitando pelo meu cerebelo, coloco-o sentado e dou-lhe uma aula com infinitos slides históricos. "E que isso não se repita novamente, ok?!"
Porra nenhuma! E isso nenhum psicólogo, professor ou amigo pode afirmar em meu nome, porque, ao se tratar do canal de TV das minhas decisões, "Vale a pena ver de novo" ocupa boa parte da grade. Com direito a exibições periódicas de "Acredite, se quiser" fechando a programação noturna.
Quando penso em características marcantes sobre a minha pessoa, a primeira que me vem a cabeça é o medo. Sim, pode não parecer, mas sou uma das pessoas mais medrosas que conheço.
Não me importo muito em refletir sobre os motivos para tal fato. Sei que, de alguma forma, a baixa auto-estima devido aos inúmeros anos de preconceito sofrido quanto ao meu esdrúxulo nome é a causa mais justificável.
Algumas semanas atrás, conversando com um amigo de longa data, tive meus olhos abertos para algo dentro desse assunto que ainda não havia atentado: mesmo sendo esse medroso irremediável, não deixei de fazer coisas que desafiam a coragem de qualquer um por conta disso. Aventurei-me por sepulcros na calada da noite durante boa parte da minha juventude, mesmo temendo e muito esse tipo de ambiente; aceitei fazer parte de uma banda de garagem, mesmo mal sabendo tocar e suando frio a cada ensaio por causa disso; saltei de pára-quedas, mesmo com o meu pavor de voar e de altitude.
E por que sentir medo?! A única conclusão que consegui chegar foi o fato do receio. Receio de dar “um passo maior do que a própria perna”, como bem diz o dito popular. De não ser capaz de prever as conseqüências, logo, não saber como lidar com o desconhecido. Consequentemente, acabar decepcionando, tanto outras pessoas quanto a mim mesmo. Foi assim quando tirei minha carteira de motorista; quando consegui meu primeiro emprego; quando passei no vestibular; quando comecei a estagiar na Cásper.
Porém, como esse amigo que citei me disse, temer algo não significa que você é um medroso. Apenas é o artifício utilizado por alguns para congelar a cena e, assim, poder analisá-la de vários ângulos.
Isso é bom ou ruim?! Prematuramente, julgaria ruim. Mas seria uma avaliação errônea, baseada na inveja que sinto de pessoas aventureiras, que conseguem desvirtuar qualquer imagem de um futuro, aceitando o desafio de peito aberto, sem neuras ou impedimentos cataclísmicos.
Cada um é como deve ser. Impulsivo ou cuidadoso, o trajeto a seguir pode até ser bem diferente, porém, o trecho final, é semelhante para todos. Sem exceção.
Dias atrás, deparei-me com esse texto de uma das mais promissoras escritoras da biblio. Como sempre acontece, e não só com relação ao que ela escreve, pensei “putz! Seu incompetente! Por que você nunca tem umas ideias legais assim para post?! Desiste dessa porra logo e vai ler um livro!”.
Bom, não foi beeeem isso. Mas trocando uma palavra aqui, outra ali, o sentido é esse mesmo.
Já faz algum tempo que a minha inspiração para textos “não-acadêmicos” anda tão capenga quanto a minha velha. Logo, decidi (na cara dura! rs) pegar o mote do post dessa promissora escritora emprestado (sem prazo de devolução, óbvio!) e escrever algo numa cadência parecida.
Certa vez, escrevi algo bem prosaico sobre os livros que li. Confesso que não foram muitos, porque, mais do que lê-los, gosto mesmo é de relê-los.
Dificilmente consigo me ater às primeiras frases de um livro. Aliás, só consigo me concentrar na leitura (indiferente do livro) a partir do segundo capítulo. Não me perguntem o porquê. Por isso o fato da releitura. Já o último capítulo é uma questão mais sofrida. Afinal, envolve o término de um ciclo. Já cheguei ao extremo de postergar em 1 mês a leitura de um.
Mas o fim de livro é assim mesmo: você fica ali, estático, esperando por mais, sem se dar conta que o autor já se foi, há um bom tempo. Em várias ocasiões, sem nem ao menos preparar uma despedida digna.
Pois bem.. baseado nisso, separei esse post em duas partes: Frases iniciais e Frases finais. Não posso dizer que são as que mais me inspiraram. Mas foram, de alguma forma, especiais no momento da leitura. Julguei desnecessárias quaisquer explicações sobre as citações. Enjoy:
Frases iniciais
“Primeiro, as cores. Depois, os humanos. Em geral, é assim que vejo as coisas. Ou, pelo menos, é o que tento.
EIS UM PEQUENO FATO Você vai morrer.”
Markus Zusak, ‘A menina que roubava livros’, 2007.
"Quem de vocês nunca sentiu uma súbita pontada ao reviver uma velha experiência ou ao sentir uma emoção antiga?"
Agatha Christie, 'Cai o pano', 1975
Frases finais
“Mas a Morte, que não consultamos sobre nossos projetos e a quem não podemos pedir a aquiescência, a Morte, que nos deixa sonhar com felicidade e fama sem dizer sim ou não, sai bruscamente de sua tocaia e varre para longe nossos planos, nossos sonhos e a arquitetura ideal onde abrigávamos em pensamento a glória de nossos últimos dias!”
Baudelaire, ‘Um comedor de ópio’, 1860.
“A cidade está expectante, dizia o locutor. A cidade, nos garantiu ele, está com a respiração suspensa.”
Dennis Lehane, ‘Apelo às trevas’, 2003.
“[do conto Em terra de cego, de Herbert George Wells] Havia sombras muito misteriosas na garganta, o azul se aprofundando para o púrpura, e o púrpura para uma escuridão luminosa, e lá em cima estava a ilimitada vastidão do céu. Mas ele não mais prestava atenção nessas coisas; ficou bastante quieto por ali, sorrindo como se estivesse satisfeito simplesmente por ter fugido do vale dos cegos, no qual tinha pensado ser rei. O brilho do pôr-do-sol passou, a noite chegou, e ele ainda estava quieto, deitado, em paz e contente sob as estrelas frias e claras.”
Ítalo Calvino (org.), ‘Contos fantásticos do século XIX’, 2004.
“’Pedie sereis atendidos.’ Lúcia fez que sim. ‘O diabo é que nós somos muito apressadinhos e queremos tudo na hora, não é, Cristo?’ – perguntou, dando uma piscadinha para o alto.”
Ganymédes José, ‘Corações de pedra’, 1985.
“Tudo que pude fazer foi virar-me para Liesel Meminger e lhe dizer a única verdade que realmente sei. Eu a disse à menina que roubava livros e a digo a você agora. UMA ÚLTIMA NOTA DE SUA NARRADORA Os seres humanos me assombram.”
Markus Zusak, 'A menina que roubava livros', 2007
"Era enfim a vida real, com meu coração a salvo, e condenado a morrer de bom amor na agonia feliz de qualquer dia depois dos meus cem anos."
Gabriel García Márquez, 'Memória de minhas putas tristes', 2005
Quatro de junho. O segundo dia mais triste do ano. Para mim.
Não sou muito bom com datas comemorativas. Aniversários, festejos, namoros, primeiras vezes. Quase sempre passam batido, devido meu déficit de atenção para essas coisas. As poucas as quais dispenso alguma atenção, logo perdem o propósito com a passagem dos anos. Para essas, e algumas mais, ao menos (agora) tenho a tecnologia como suporte.
Mesmo assim, existem aquelas que, alheias a qualquer vontade ou transpor do tempo, continuam lá, firmes e fortes, gravadas no calendário das minhas lembranças.
Pois bem, hoje é uma dessas. Se nossos mais sinceros desejos e vontades fossem realmente passíveis de alcance, hoje, meu avô materno estaria completando 80 anos. Nascido no interior do estado do Paraná, no seio de uma família nem de longe abastada financeiramente, aprendeu desde muito cedo a lidar com os trabalhos do campo, ajudando meus bisavós no sustento da casa.
Assim como seus outros 11 (!!) irmãos, teve uma educação básica. Afinal, o que mais um homem do campo precisava saber além de ler, escrever e fazer alguns cálculos?
Casou-se pela primeira vez em 1952, com Ludovina Ricordi, com quem teve dois filhos (minha mãe e meu tio mais velho). Porém, complicações de um câncer fizeram o casamento durar apenas quatro anos. Casou-se novamente em 1959, com Angelina Piaí. Com ela, teve mais cinco filhos. A família toda se mudou para São Paulo no final da década de 1970.
Assim que conseguiu sua aposentadoria e a maior parte dos filhos já se encontrava encaminhada na vida, desistiu do “agito” da cidade grande e mudou-se novamente, com a esposa e os dois filhos mais novos para o interior do Estado (Leme). E foi aqui, durante mais de cinco anos que tive um contato com meu avô digno de apontamento.
Era um homem simples, sem grandes ambições. Apenas queria ver os filhos bem resolvidos, seus netos felizes e a esposa sempre disposta a lhe preparar um belo sanduiche de mortadela.. rsrs. Não era fanático por nenhum esporte ou time de futebol. Evangélico fervoroso, não gostava muito de discutir religião com os demais (talvez eu tenha “puxado” isso dele.. rs).
Até os 60 anos, tinha uma disposição física invejável. Porém, como era de se esperar, aos poucos os músculos já não podiam corresponder a sua disposição. Foi definhando até chegar ao ponto de só conseguir levar da cama e alcançar a cadeira que deixava na garagem, de onde podia tomar um pouco de ar, ver o movimento na rua de sua casa e trocar “dois dedos de prosa” com quem gostasse de ouvi-lo falar.
E como falava bem! Contava histórias das quais (de alguma forma) havia tomado parte com uma vitalidade e paixão que até hoje me invejam.
De 1995 a 2000, o período entre o Natal e Ano-Novo era uma verdadeira festa naquela casa: sete filhos, genros e noras, dez netos.. todos reunidos! No último amigo-secreto em família que organizamos, ele tirou o meu nome. Recebi um dos abraços mais afetuosos que me recordo. Dois meses e meio depois, na noite de 11 de março de 2001, ele nos deixou.
Bisneto do primeiro Picolli que desembarcou no Brasil, não era muito versado no italiano. Sabia um ou outro palavrão. Herança dos pais.. rs
Se ele estivesse vivo, gostaria de lhe dizer tantas coisas que nem sei por onde começar: que consegui realizar meu maior sonho; que (como prometido) ainda não me casei; que desfrutei sim os inúmeros momentos de alegria proporcionados; que (ainda) não cheguei a 1 milhão de amigos, mas considero os poucos que possuo como uma multidão tão grande quanto; porém, principalmente, gostaria de dizer que tenho muito orgulho de descender de sua linhagem; que sou muito grato pelos ensinamentos; que, esteja onde estiver, espero tê-lo orgulhado em vários instantes da minha caminhada; e, por fim, que sinto muita, mas muita saudade mesmo, das nossas conversas vespertinas, regadas a gelinho e risos sinceros.
Espero, um dia, chegar a ser um décimo da pessoa maravilhosa que o senhor foi. Nesse dia, poderei (enfim) escrever no meu caderninho mental: “Hoje, sou um ser humano.. completo”.
Os primeiros filetes de luz começam a se embrenhar pelos lençóis. Assumem formas segundo os relevos destoantes da cama. O recinto, aos poucos, vai adquirindo uma tonalidade alaranjada, como se a alvorada estivesse espiando pela janela, porém, sem medo de ser descoberta.
Mas nosso personagem, ali servindo de recheio para esse lanche têxtil, ignora tais fatos. Encontra-se semi-desfalecido, apreciando o sono dos campeões. Afinal, ele se deu muito bem ontem!
O celular vibra sobre o móvel junto a cabeceira. O incômodo que tal som provoca, misturado a preguiça, faz com que ele afunde ainda mais a cabeça no travesseiro. “Logo ele pára”, pensou. Mas o aparelho parecia ter ganhado vida! Não havia outra solução: abriu apenas um dos olhos, medindo bem a distância até seu desafeto. Alcançou-o, num esforço hercúleo, com a mão direita. “Reunião em duas horas”. É, segunda-feira era mesmo um dia amaldiçoado para um “caçador”.
Esticou o braço em direção a outra metade da cama. Gostava quando elas tomavam a iniciativa de saírem de fininho. “Mais uma para a coleção”, refletiu com um sorriso maroto nos lábios.
Enquanto se espreguiçava, já sentado na beirada da cama, o celular foi tragado pelo redemoinho que há poucos instantes era seu aconchego. Piscou as pálpebras várias vezes até se acostumar com a luminosidade do quarto. Viu suas roupas dobradas no braço da poltrona. Ela estava ganhando pontos.. ele tinha certeza que, na noite anterior, as roupas formaram uma trilha pelo corredor até a porta do quarto.. essa merecerá uma ligação. Daqui umas três semanas. Ou mais.
Durante o banho, iniciou o ritual: barba, água não muito quente, sabonete líquido hidratante, shampoo anti-queda e condicionador. Metrossexual?! Não. Apenas gostava de se cuidar, porque era o mínimo que uma mulher moderna exigia para transar logo no primeiro encontro. Ah, e como ele adorava esse tipo!
Percorreu o curto caminho entre o banheiro e o quarto com uma toalha enrolada na cintura (D. Thereza, a sua mãe, costumava levantar cedo e ele não queria ser surpreendido “do jeito que veio ao mundo” por uma senhora de 62 anos!).
Assoviando a marcha de “A ponte do rio Kwai” (coisa que gostava de fazer quando estava alegre), de repente, estancou na porta do quarto. Havia algo errado ali. Aliás, muito errado! Aquele não era seu quarto! Estava tudo muito arrumado: chão e paredes limpíssimos. Cortinas, poltrona?! Seu quarto não tinha nada disso!
Saiu de lá aos berros: “Mãe?! Mãe?! Onde você está? Mãe?!”. Ao chamar a genitora pela última vez, acabara de adentrar a cozinha. E, definitivamente, aquele não era seu apartamento. Ao contrário da sua, aquela era do tamanho de um campo de futebol! Olhou ao redor boquiaberto, porém mantendo a porta em seu campo de visão. Estava temeroso em se perder no meio de tantos utensílios. A sua cozinha tinha, no máximo, uma geladeira e um microondas. Aquela ali, só não tinha mobília. Porque, de resto...
Tentou se lembrar de como havia parado ali, naquele apartamento enorme. Em vão. Num ato automático, e já demonstrando um princípio de descontrole, começou a apalpar seu abdômen, na ânsia de encontrar a marca de uma cicatriz recente. Nessas horas, nada mais o surpreenderia.
Bom, mas já que estava na cozinha, resolver vasculhar atrás de comida. Logo localizou a geladeira. Da porta pendia um pequeno bilhete onde pode ler: “olá estranho. Desculpe não tê-lo acordado, mas tive um vôo logo cedo. Tem pão e frios na geladeira, fique à vontade. Apenas me faça um favor: hoje a minha empregada não vem. Então, você poderia levar o lixo quando sair? Obrigada. P.s.: quase esqueci! Como você havia me pedido, tem dinheiro para o táxi na gaveta da escrivaninha. Deixe seu telefone que ligarei, assim que chegar”.
Modernidade demais, não é, ‘homem moderno’?!
H (uma tentativa de resposta ao desafio desse post)
Diferentemente de um dos meus ídolos, não sou um dos mais exímios admiradores do cinema francês. Exceto um Truffaut aqui, um Godard ali, posso contar 3 (talvez até 4) obras cinematográficas de tal escola que tenham me chamado a atenção nos últimos 5 anos.
Ontem, mais como uma desculpa para preencher um tempo vago do que por gosto e/ou curiosidade, resolvi assistir uma de suas produções mais recentes em cartaz por aqui. Uma comédia romântica. Bom, pelo menos tem os seus momentos de risos (mesmo forçados). O texto é tediante e pouco inventivo. Utiliza muitas repetições e até faz uma referência completa a outro filme (que eu acho piegas demais). Não pensem que estou escrevendo isso como se não quisesse (obrigatoriamente) indicá-lo. Não.
Por mais incrível que possa parecer, gostei do filme. E o motivo está relacionado com o título do post. Durante boa parte da minha (já longa) vida, tive essa premissa de que deveria me relacionar (amorosa ou fraternamente) com pessoas que compartilhassem gostos e opiniões semelhantes aos meus. Porém, depois de assistir à cena final desse tal filme (transcrição do diálogo logo abaixo), saí do cinema pensando: qual a graça de passar os seus dias com alguém que é praticamente uma “cópia” sua?! As conversas seriam repetições; os filmes, livros, músicas, programas.. tudo igual! Logo, viria a rotina. (É, eu sei. Uma coisa bem clichê. Preciso refletir mais sobre isso).
O que realmente quero dizer, é que a graça (química, sucesso ou qualquer outro termo de escolha livre) de uma relação (e quem assistir ao filme entenderá isso melhor) não está no excesso de afinidades, mas nas discrepâncias. As experiências destoantes, os rumos diferentes, os gostos distintos. Porém, que de alguma forma, conseguem se completar.
Assistam ao filme, e vocês entenderão. Ou não.. rsrs
“Eu detesto queijo Roquefort; Nunca assisti ‘Dirty Dancing’; Acho George Michael uma merda; Sou pobre. Não tenho carro, nem apartamento; Durmo no meu escritório; A única coisa da qual estou certo é que tenho essa necessidade de te ver.. todos os dias”. (Alex Lippi – “Como arrasar um coração”)
De tudo ficou um pouco Do meu medo. Do teu asco. Dos gritos gagos. Da rosa ficou um pouco
Ficou um pouco de luz captada no chapéu. Nos olhos do rufião de ternura ficou um pouco (muito pouco).
Pouco ficou deste pó de que teu branco sapato se cobriu. Ficaram poucas roupas, poucos véus rotos pouco, pouco, muito pouco.
Mas de tudo fica um pouco. Da ponte bombardeada, de duas folhas de grama, do maço - vazio - de cigarros, ficou um pouco.
Pois de tudo fica um pouco. Fica um pouco de teu queixo no queixo de tua filha. De teu áspero silêncio um pouco ficou, um pouco nos muros zangados, nas folhas, mudas, que sobem.
Ficou um pouco de tudo no pires de porcelana, dragão partido, flor branca, ficou um pouco de ruga na vossa testa, retrato.
Se de tudo fica um pouco, mas por que não ficaria um pouco de mim? no trem que leva ao norte, no barco, nos anúncios de jornal, um pouco de mim em Londres, um pouco de mim algures? na consoante? no poço?
Um pouco fica oscilando na embocadura dos rios e os peixes não o evitam, um pouco: não está nos livros.
De tudo fica um pouco. Não muito: de uma torneira pinga esta gota absurda, meio sal e meio álcool, salta esta perna de rã, este vidro de relógio partido em mil esperanças, este pescoço de cisne, este segredo infantil... De tudo ficou um pouco: de mim; de ti; de Abelardo. Cabelo na minha manga, de tudo ficou um pouco; vento nas orelhas minhas, simplório arroto, gemido de víscera inconformada, e minúsculos artefatos: campânula, alvéolo, cápsula de revólver... de aspirina. De tudo ficou um pouco.
E de tudo fica um pouco. Oh abre os vidros de loção e abafa o insuportável mau cheiro da memória.
Mas de tudo, terrível, fica um pouco, e sob as ondas ritmadas e sob as nuvens e os ventos e sob as pontes e sob os túneis e sob as labaredas e sob o sarcasmo e sob a gosma e sob o vômito e sob o soluço, o cárcere, o esquecido e sob os espetáculos e sob a morte escarlate e sob as bibliotecas, os asilos, as igrejas triunfantes e sob tu mesmo e sob teus pés já duros e sob os gonzos da família e da classe, fica sempre um pouco de tudo. Às vezes um botão. Às vezes um rato.
(Carlos Drummond de Andrade)
H (só para matar um pouco a saudade.. rs)
¹ Poema presente no livro "A rosa do povo", com primeira edição em 1945.
Eu poderia fazer aqui um pequeno relato introspectivo da minha relação com a poesia: como tudo começou, de onde surgiu a inspiração, quais os escritores que me influenciaram etc. Poderia.. mas não vou. A poesia nasceu em mim por acaso. Surgiu de um anverso do que já existia, completando minha moeda da escrita.
No começo, você se esmera em regras básicas. Independente do formato, luta com a métrica em busca da perfeição. Coisa de principiante, né? Todos aprendemos, cedo ou tarde, que a perfeição é um estado variável, delimitado pelo (s) ponto (s) de vista.
Lê um ou outro autor que está em voga para se inspirar e/ou aprimorar o vocabulário. Consulta dicionário de sinônimos só para pagar de intelectual abastado linguisticamente. A razão chega a se sentir diminuta diante de tantos obstáculos. O porquê do poema morre de asfixia se perguntando “por onde andarão aqueles fins de tarde, quando só era preciso ele, uma folha de papel, um lápis e eu?”
Pois bem, esse é o último acróstico (que postarei) da série “Erebd”. Espero que tenham gostado:
Longo foi o caminhar até ter o vislumbre de tua figura no horizonte, Omitida em parte pela fina bruma matinal de um feriado heróico. Norteados pela curiosidade, fizemos de ti moradia e (principalmente) festa, Dando vazão a desejos e anseios, entoados por risos e cantoria. Logo, fomos Recebidos de braços abertos, aceitos no teu seio candente de fim de tarde. Iniciamos a viagem de volta com aquele pesar que jaz sobre os saudosistas: No pouco tempo de convívio, confidentes nos tornamos, ao ponto de, Assim, poder dizer em uníssono: Londrina, que saudades sentiremos de ti!
Presente, tal como qualquer bem durável, logo perde valor. Fica gasto, empueirado, sem sentido.
Mas isso não acontece (nem acontecerá!) com os quatro presentes que recebi ontem: amizade, confiança e carinho. E foram de tantas formas e pessoas que mal tive dedos para contabilizá-los. Serei eternamente grato pelas demonstrações, a distância ou presenciais, de tanto afeto. Como disse a uma amiga, espero ser capaz de retribuí-los sempre, porque é o mínimo que vocês merecem.
E vamos parando por aqui, porque isso está ficando piegas demais.. rs
Peraí! Eu disse QUATRO presentes.. mas só relacionei TRÊS! Então qual é esse quarto presente?! Esse, por ser tão especial quanto a pessoa que me presenteou, segue em separado, aqui embaixo:
Lira dos seus 28 anos
"Quisera eu te dizer que nem sempre sera com sorrisos que a vida será alegre Que seu choro nunca é em vão quando se reflete Ainda que com dissabores, Celebre Sinta o limitrofe do maduro e do frescor, Das amizades saiba que o que mais colhe é o amor Ouse, quebre e chegue a frente E ainda que do abismo esteja rente, não pense em voltar A adrenalina da queda é do piso Desejo que com beijos doces lhe encaminhem ao riso Ao lugar que você mais merece O topo de si mesmo"
Tentei de várias formas pensar em algo original para escrever nesse dia. Porém, e agora entendo alguns de meus amigos mais pessimistas, chega um certo momento que até mesmo essa data, celebrada tantas e outras tantas vezes de forma especial, perde a graça.
Como já dizia Vinícius de Moraes:
"Queira-se antes ventura que aventura À medida que a têmpora embranquece E fica tenra a fibra que era dura."
Bom, nem tudo são flores, mas também não precisam ser dissabores. Se pudesse realmente escolher uma maneira única para comemorar tal dia, acho que seria como no vídeo abaixo: entre amigos, fazendo o que mais sei e gosto. Sem pressa ou cobrança. Apenas meus amigos, eu e um violão.
Transcrição de (parte de uma) conversa telefônica ocorrida em 11 de abril p.p.:
“Alô..”
“Que horas são aí?”
“Hã.. deixa eu ver aqui... 2h15... da manhã!”
“Aí, cabeçudo.. me desculpa! Ainda não to acostumada com esse fuso de 13 horas.. rs”
“Tudo bem.. o que você quer?”
“Nossa! Eu também to morrendo de saudades de você, viu!”
“Desculpa.. peraí, me deixa jogar um pouco de água no rosto.. não desliga!”
2 minutos depois.
“Pronto, meu anjo.. como é que você está?”
“Você se lembra do nosso código?!”
“Código? Claro! Como eu poderia esquecer? ‘O tempo dá-se em fragmentos’”
“Quem foi que o escolheu mesmo? Conte-me a história toda, porque ando meio esquecida.. rs”
Ok, vamos lá. Rebecca e eu namoramos durante 9 meses. Bom, ‘namoramos’ não é o termo exato, mas fiquemos com esse por enquanto.. rs Pois bem, diferente dos outros casais, nunca tivemos uma música ou filme favoritos. Tivemos um código!
Foi em maio de 2000. Mais precisamente, meu 17º aniversário. Lembro-me de ter recebido apenas um presente palpável: um livro. ‘A rosa do povo’, do Drummond. Algumas noites depois, entre várias interrupções, lemos juntos alguns dos poemas ali impressos. Pela manhã, ela me perguntou se, hipoteticamente, não continuássemos mais juntos, ainda assim seríamos amigos. Eu disse ‘não vejo motivo para não sermos’ ou algo parecido. ‘Então, que tal pensarmos num código? Algo que representasse nossa história, sob qualquer circunstância, seja ela boa ou ruim’. Apesar de sonolento, gostei da ideia.
Bem disposta como em toda manhã, ela saiu da cama, saltitando na ponta dos pés até a cabeceira (devo confessar, foi lindo!), ficando ali parada naquela posição de oradora, com aquela camiseta enorme do INXS servindo de bata. E disse solenemente: ‘Eu, Rebecca Letícia de Albuquerque Ruiz, declaro que, de hoje em diante, teremos um código secreto.. que será...’ e ela puxou para si o objeto mais próximo de onde poderia extrair meia dúzia de palavras ‘o tempo dá-se em fragmentos’.
Essa frase, retirada do poema “Assalto”, refletiria não apenas nossa situação atual na época (que não intitulamos de amor!), mas também nossa relação no futuro. Além disso, toda vez que algum assunto delicado precisava ser discutido em particular, bastava invocá-la. Ninguém ao redor entenderia, apenas nós.
Refletindo bem agora, aquilo estava mais para um “eu te amo” disfarçado.. rs Pelo menos, era isso que ela dava a entender, visto os momentos que ela gostava de sussurrá-la.
“Qual é o assunto que está te incomodando, Beka?”
“Por que você nunca me disse?!”
“Disse o quê?”
“Que me amava.. acabei de ler o texto no seu blog. Por que você nunca me disse nada?!”
“Você sabe o porquê.. eu lhe expliquei quando terminamos.. foi medo! Você estava se limitando por minha causa! Seria uma baita injustiça deixar isso acontecer”
“Você não respondeu minha pergunta.. por que você nunca me disse? Uma única vez!?”
“Porque eu sabia que você sentia o mesmo.. e isso culminaria no que eu acabei de dizer..” Alguns segundos depois: “Sei que te magoei omitindo isso, mas seria egoísmo da minha parte se eu tivesse dito”
“Você é mesmo um cabeçudo, sabia?! rsrsrs”
“Que você gosta muito e não sabe viver sem.. rs”
“Gosto nada! Eu te amo, seu bobo!” Depois de alguns segundos: “Você acha que, se eu resolvesse voltar para casa, ainda encontraria a chave debaixo do tapete?”
“Ela ainda está lá, baixinha.. não sei até quando, mas ela ainda está lá”
“Essa conversa daria um belo post, não acha? rs”
“Olha que eu escrevo, hein! Do jeito que anda minha inspiração ultimamente, tô usando tudo! rs”
Quando o assunto é música, tirando algumas estranhezas e falta de noção, gosto muito de mistura. Aquelas que, à primeira vista, parecem improváveis. Porém, que conseguem surpreender com o resultado final.
Não sou um dos maiores fãs do duo francês de música eletrônica, Daft Punk. Mas curto muito algumas de suas criações.
Recentemente, tenho encontrado algumas "homenagens" bem interessantes, feitas sobre músicas da dupla.
Essa aqui embaixo é uma das minhas favoritas, apesar dos vocais serem sofríveis.. rs
Espero que vocês gostem.
Os mais puristas (ou arrogantes, na minha opinião), proclamam pela métrica e rima. Exageram em detalhes e perfeições e chegam a irritar tanto quanto os parnasianos.
Imagino que a beleza do acróstico está na sua funcionalidade. A pobreza poética não significa, necessariamente, uma pobreza de recursos utilizados. Pode-se sim dizer tudo usando-se apenas o essencial.
Nada de floreios, rodeios ou qualquer outro termo que os rime. Um acróstico (mais uma vez, na minha modesta opinião!) deve ser uma sequência simples e imutável. Atingir o ponto que almeja e se retirar, de fininho, como se (numa analogia rasa), ao passar, sujasse o chão na tentativa de chamar a atenção para si. Contudo, também trouxesse a tira colo sua vassoura e assim, desfizesse o serviço, oferecendo-o por completo.
Mas também tenho meus momentos de exceção.. rsrs
Fiquem com o segundo da série:
Com o ávido desejo pela amarga e fina fumaça, Ignoro os trêmulos reflexos que seu excesso Galgou em meu semelhante, prolixo e achaque. Acendo um na (derrocada) esperança de não mais ser Refém de uma lembrança impregnada, tal como o Ralo amarelar entre meus dedos, no seu doce apoiar. Em vão. Obrigado é o que digo a quem, num simples gesto (esse sim!), Salvou-me da lembrança, fazendo-me, assim, do vício repulsar.
Como bem conceitua o dito popular, "os acrósticos são formas textuais onde a sequência de primeiras letras de cada verso forma uma palavra ou frase".
Dessa forma explicado, nos próximos posts trarei alguns desses que pensei durante minha insônia na viagem de volta do EREBD Sul, ontem.
Cada um refletirá um momento, presenciado durante o último feriado. Espero que gostem.
Ensolarada noite de espelhos multicoloridos Refletindo os ritmos de passos tidos desconexos. Entre incógnitos de um macro-universo é no Balançar aderente e intimidador desse sonoro entreter que Deparo-me com a soma improvável da possível atração Suspensa no encontro crebro de conhecidos incertos. Um olhar aliciante é o sinal de que preciso: nesse instante fui Livre e simples; completo e resoluto; dividido e extasiante.
Quando ouvi aquela frase “você está, oficialmente, fora da universidade”, vibrei de alegria, pensando “putz, até que enfim!”. Mas algo me dizia que não seria assim tão simples.
Na verdade, acho que estou curtindo mais a universidade agora do que nos últimos seis anos. Um nítido reflexo disso é o dia da semana conhecido como quinta-feira que, nos moldes acadêmicos, também pode ser alcunhado de “Quinta & Breja” pelo povo ecano.
Há poucos dias atrás, numa dessas minhas aparições para “prestigiar” tal evento, uma amiga resolveu desabafar comigo sobre um caso amoroso recente. Não entrarei em detalhes aqui. Fazendo um resumo geral, por n motivos, ela disse que, no momento, não gostaria de ser a “ficante” de alguém, mas sim, ter um namorado.
Sinto-me incomodado quando as pessoas me perguntam se eu entendo o que elas estão dizendo. Porque, na grande maioria dos casos, eu não compreendo. Contudo, pelo bom andamento da conversa, quem nunca disse um “claro!” ou um “entendo sim” para evitar uma digressão ainda maior do seu interlocutor?!
Já ficou claro o que essa amiga me questionou, né? No calor do momento, soltei um “eu entendo seu caso” baseado (confesso), superficialmente, nas experiências semelhantes que tive. Porém, a verdade, é que não consigo entender! A situação em que ela se encontra, tudo bem, não é nenhuma novidade. Já vivenciei zilhões de vezes.
Contudo, o que não entendo mesmo é a razão da outra pessoa. Putz, direto ouve-se uma pessoa dizer que adoraria encontrar alguém que a goste como realmente é, sem cobranças, perseguições, brigas etc. Daí, quando a tal pessoa aparece: “podemos ser só amigos?”; “o problema não é com você, sou eu!”, entre muitas outras.
Fico chateado quando isso acontece com alguém que conheço mais do que comigo. Talvez porque, na minha visão reverberantemente altruísta, sinto-me incapaz de ajudar de alguma forma. A sensação é frustrante.
Voltando a essa amiga, pensei em lhe dizer que, depois de tantos anos desperdiçados erroneamente nesse tópico estúpido da vida de todo ser humano, compartilho do mesmo desejo. Mas me contive. Quando envelhecemos, suplantamos essa mania esquizofrênica de passar sermões e/ou dar conselhos.
Achei melhor não dizer absolutamente nada. Apenas concordei que era uma situação esdrúxula e angustiante. Porém, eu poderia muito bem ter-lhe dito: “o amor é um jogo sem lógica, com um regulamento opaco e juízes nada confiáveis. Não se distraia, nem se acomode. Sue, mas não demonstre. Esteja preparado para correr em círculos, percorrer exorbitantes distâncias sentado debaixo de uma árvore durante um furacão. Tudo, ao final, acaba se transformando naquilo que não deveria ser mas que, de alguma forma, já estava previsto: solidão”. [Michel Ferrera]
A bendita inspiração pode estar me ludibriando por esse dias, porém, algo pelo qual ela não contava é a imaginação altamente fértil de algumas pessoas que conheço.
Ele ficou conhecido pelas suas produções literárias. Mas todos sabemos que suas contribuições artísticas vão além disso. Pensando dessa maneira, juntamente com a ajuda de dois dos meus melhores amigos, resolvi montar esse “Top 7 filmes especiais – Stephen King”. Apenas o suprassumo daquilo que já foi, de alguma forma, interpretado de suas obras de ficção e terror, nas modestas opiniões de Rebecca Ruiz (fotógrafa freelancer), Anderson Ferraz (vulgo Platina, pai de plantão) e Agamenon Picolli Leite (bibliotecário sem razão).
Quanto aos spoilers, podem ficar despreocupados. Resolvemos apenas fazer alguns comentários rasos sobre a produção, curiosidades e comparações entre livro e película. Hora ou outra, uma pequena digressão histórica, dependendo muito de qual de nós está fazendo o relato.
E vamos ainda mais adiante. Ao final do post, um bônus, inédito até para mim, que, temos certeza, aguçará ainda mais a curiosidade de vocês sobre esse escritor, produtor, roteirista e.. bom, é surpresa. Apreciem as obras e morram (de rir ou de medo):
Carrie, a Estranha (1976) – Brian de Palma
Esse foi o primeiro. Brian de Palma, até então na sua curta carreira de diretor, queria experimentar algo realmente grande. O romance original havia sido lançado 2 anos antes. O diretor, infelizmente, não conseguiu convencer Stephen King a trabalhar no roteiro, mas recebeu carta branca para adaptá-lo. A história do filme, uma espécie de Zangief paranormal, foi o primeiro filme de terror a retratar as “conseqüências” do bullying. Recebeu indicações aos Oscar® de Melhor Atriz e Melhor Atriz Coadjuvante. Porém, infelizmente, “Rede de Intrigas” estava com a bola toda naquele ano. No elenco, destaque para Sissy Spacek, Piper Laurie e John Travolta (uma breve participação, em seu segundo filme).
O Iluminado (1980) – Stanley Kubrick
O sucesso de Carrie traduziu-se em ótimos frutos. Diretores de grande renome aguardavam ansiosos pelo seu próximo livro. Em 1977, era lançado “O Iluminado”. Não demorou muito para Stephen King receber propostas para levá-lo ao cinema. Venceu a disputa um dos melhores e mais respeitados adaptadores de roteiro de todos os tempos: Stanley Kubrick. O resultado final não ficou tão assustador quanto o livro. Muitos dizem que o insucesso da produção deve-se às infinitas discussões entre o diretor e o ator Jack Nicholson. Reza a lenda que, numa das cenas de maior suspense (a do quarto proibido), Kubrick fez o ator repeti-la 56 vezes por não achar suas reações faciais condizentes com o momento. Destaque também para Shelley Duvall e sua cara de pânico escrachado na famosa cena da porta.
Christine - O Carro Assassino (1983) – John Carpenter
Algo que caracteriza, praticamente, toda obra de Stephen King é brincar com o que há de mais primitivo (medo, horror, pânico) utilizando de artimanhas atuais e, não raro, inusitadas. Esse é o caso de Christine. Quem (em sã consciência) poderia imaginar um romance onde o vilão é um belo carro de época, tomado de uma personalidade satânica e vingativa?! É, a resposta é muito óbvia. Coube a John Carpenter, responsável por um dos maiores expoentes dos filmes de terror (Halloween), adaptar essa obra para a telona. O resultado deixou várias lacunas em comparação com o livro. Mas, ainda assim, é um marco do gênero. O mote seria imitado algumas vezes, inclusive reinventado pelo próprio Stephen King.. ops! Isso é spoiler.
O Cemitério Maldito (1989) – Mary Lambert
“Sexo frágil não serve para filme de terror”. Qual machão cinéfilo (e vice-versa) nunca soltou essa frase entre amigos?! Leve sua namorada ou esposa numa locadora e comprove. Porém, essa máxima não se encaixa para o marido da diretora Mary Lambert. Surpreendentemente, ela decidiu, para seu segundo filme, adaptar o romance homônimo do Stephen King, lançado no mesmo ano de Christine (1983). Mas ela teve ajuda! Sabem de quem?! Do próprio escritor! Apesar desse substancial apoio, comparado ao livro, o filme deixa muito a desejar. Ele até consegue causar alguns sustos e tem uma trilha sonora condizente. Mas a empatia entre o elenco não chega a convencer. Ainda assim, é uma das adaptações mais memoráveis.
Louca Obsessão (1990) – Rob Reiner
Aflição! Essa é a palavra que me vem a mente quando tento relembrar algumas cenas desse filme. A dupla Rob Reiner (diretor) e William Goldman (roteirista) conseguiu (com maestria) manter o ar de suspense presente desde as primeiras páginas do livro. Muitas vezes, quando me pedem uma opinião sobre algum filme, gosto de fazê-la através de analogias. No caso de Louca Obsessão, gosto de compará-lo a uma montanha-russa. Claro que o filme peca em alguns pontos. Mas a analogia a qual me refiro, tem relação mais com a sua cadência, com a forma como os “capítulos” se sobrepõem, num verdadeiro turbilhão sensitivo, ora esperançoso, ora angustiante. Agora eu preciso parar de falar com vocês.. Kathy Bates está vindo aí.. espera, Kathy.. o que você vai fazer com essa marreta?! Nããããoooooo!!!
It (1990) – Tommy Lee Wallace
Nasci em 1980 e, como a grande maioria das crianças da mesma época, passei os últimos anos da minha infância ouvindo relatos sobre casos envolvendo seqüestro, estupro e/ou morte de crianças por indivíduos fantasiados de palhaços. Algo pelo qual eu já não tinha apreço, acabou se tornando uma coisa abominável. Não demorou muito para o lado B da sétima arte se apropriar disso, nutrindo ainda mais esse pavor mórbido por tais personagens infantis. E foi assim que, no (por que não?!) maravilhoso Cine Trash da rede Bandeirantes, durante uma semana temática sobre taís personagens (semana do Dia das Crianças, inclusive!), tomei conhecimento da existência desse filme baseado na obra do mestre Stephen King: It. Um dos filmes mais assustadores, nauseantes e engraçados que já assisti. Em outras palavras, um dos filmes mais toscos que já tive o prazer de ver! Os inúmeros dentes afiados do palhaço Pennywise povoaram meus belos pesadelos por intermináveis noites. Mas nada se compara ao medo e desconforto que senti ao ler o livro, na biblioteca municipal da minha cidade (Lins). Lembro da reação de surpresa da atendente quando no ato da devolução, ao perguntar se eu havia gostado da história, eu apenas respondi “isso deveria ser proibido de se emprestar”. Eu tinha apenas 11 anos. Enfim, é uma pena não se produzirem mais pérolas como It.. na verdade, é uma pena terem acabado com o Cine Trash!
A Tempestade do Século (1999) – Craig R. Baxley
“A tempestade do século” foi, assim como “Rose red”, uma adaptação da obra de Stephen King produzida exclusivamente para a TV, num formato muito conhecido aqui no Brasil como ‘minissérie’. Três capítulos, como pouco mais de uma hora. De puro suspense. Entre os meus 15 e 17 anos, logo que meus pais compraram um aparelho de VHS (façam as piadas que quiserem! rs), comecei a freqüentar uma das maiores locadoras da cidade onde morava. Uma das prateleiras que mais me interessava (Lançamentos) ficava de fronte ao balcão do estabelecimento. Num determinado dia, devido a proximidade do fim de semana, havia pouquíssimos títulos. E um deles me fez ir direto até a biblioteca pública procurar um livro. Lembro-me que achei uma das narrativas mais cadenciadas que já havia lido. O exímio ao detalhar fatos e eventos beirava a perfeição. E não era um livro assustador. Mas o filme, sim. “Give me what I want, and I go away” repetia o pacato forasteiro Andre Linoge. Mas como saber o quê ele queria?! Ah, ele tinha uma maneira muito, digamos, peculiar de dizer..
E, agora, o nosso bônus:
Comboio do Terror (1986) – Stephen King
A imaginação e a criatividade de Stephen King nunca tiveram limite. Pelo menos, não no papel. Seja como escritor ou roteirista, suas histórias transbordam o lado mais quixotesco de nossas ânsias e temores. Em “Comboio do terror”, uma adaptação de seu conto “Trucks”, de 1985, King inova: além do roteiro, se responsabiliza pela direção também. Imagino que na época, essa notícia deve ter sido a manchete do ano! O resultado final, porém, não passou de um engodo. Aqui eu devo ser sincero: ainda não li o tal conto. Mas assisti ao filme ontem (aliás, graças ao Anderson, que me falou sobre ele há pouco tempo). A única coisa aproveitável é a trilha (AC/DC). No demais, é gritante a falta que uma caneta e um papel fazem ao autor. A explicação, logo no início, para o mote do filme já denunciava: “aqui começa um dos filmes mais toscos da história!”. Nitidamente, e agora entendo o porquê dele nunca mais ter se arriscado nesse ramo, Stephen King não nasceu para a sétima arte. Os diálogos, desde os mais simples (monossilábicos), parecem forçados. O elenco tem exibições sofríveis. As mortes?! Na mais engenhosa (para não dizer hilária!), o técnico de um time juvenil de baseball resolve pagar refrigerante para todos depois de uma partida.. agora, imaginem o que a máquina fez com o sujeito e alguns garotos do time! Lembrou-me os tempos áureos do ‘Cine Trash’ e do ‘Cinema em Casa’. Parece que o filme teve uma refilmagem, em 1997. Preciso assistir isso! E rever “A bolha assassina”, “A coisa”, “Palhaços assassinos do espaço sideral”, “Tomate assassinos”, entre tantos outros...
Post escrito a seis mãos. Fica sem a assinatura de praxe.